Currículo não é caráter

Ninguém é medido em seu caráter pelo currículo que tem.  Meu caráter não resulta dos nove artigos completos publicados em revistas científicas, nem do capítulo de livro que publiquei ou dos textos em anais e apresentações em congressos.
Minha produção indica outras coisas.  Por exemplo, tive uma publicação em 2004, primeiro ano do mestrado, e três em 2007, quando já tinha terminado o mestrado.  Nesse intervalo, nenhum texto publicado.  No anos seguintes, uma publicação por ano, até voltar a publicar três artigos em 2010.  Foram nove artigos em sete anos de pesquisa.  Terei 21 artigos aos 27.  Se eu quiser ser um pesquisador relevante, tenho de melhor meus índices.
No entanto, esses números revelam momentos de minha caminhada acadêmica e profissional.  Desde 2006, divido meu tempo entre pesquisa e trabalho.  Resta, por isso, pouco tempo para enviar material a revistas.  Nada disso se refere a caráter.
Mas tem uma coisa que tem a ver com caráter.  Cinco dos meus nove artigos publicados e três dos treze textos que publiquei em anais de congresso (os únicos com co-autoria) foram feitos em parceria com meu orientador, Adriano Gomes.  Provo meu caráter em reconhecer a importância e amizade dele em minha vida como pesquisador.  Não serei honesto nem íntegro se um dia provocar uma ruptura com ele e sair expondo-o diante da comunidade científica e acadêmica.
Currículo não traduz o caráter, mas há alguns elementos no currículo que nos falam de caráter.
Não tenho intimidade com nenhum dos pesquisadores que estiveram envolvidos na celeuma publicada pela Folha de S. Paulo sobre o IINN.  Nem mesmo com Miguel Nicolelis.  Portanto, o que vou dizer aqui aponta algumas possibilidades e indícios - não é nenhuma afirmação peremptória, mas fui olhar os currículos de Nicolelis e Sidarta Ribeiro.
O Lattes de Nicolelis foi atualizado pela última vez em janeiro de 2010.  Lá constam 146 artigos completos publicados em periódicos.  São oito livros publicados ou organizados, dezenove capítulos de livros publicados e 108 textos publicados em anais de congressos.
Sidarta publicou quatro artigos em 2010.  Em 2009, último registro de atualização do Lattes de Nicolelis, ele publicou quinze artigos.
Sidarta tem 30 artigos publicados em periódicos, dois livros publicados ou organizados, oito capítulos em livros e dois textos publicados em anais de eventos.  O tamanho dos currículos não significa nada em termos de caráter.  O detalhe é que dos 30 artigos, treze foram escritos em co-autoria com Nicolelis.  E dos oito capítulos, três foram em co-autoria com Nicolelis.  Assim como minha vida acadêmica caminha intimamente ao lado da de meu orientador, a de Sidarta se construiu lado a lado com Nicolelis.
Currículo não é caráter, mas pode significar muita coisa a seu respeito.  Por isso, Miguel me disse hoje que ainda há de conversar com Sidarta sobre esses últimos acontecimentos.

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