New York Times: “Clima de ódio no discurso político encorajou indivíduos violentos”

Do Vi o Mundo (inclusive o PS):
Norway Attacks Put Spotlight on Rise of Right-Wing Sentiment in Europe
By NICHOLAS KULISH
Published: July 23, 2011
do New York Times
BERLIN — Os ataques em Oslo na sexta-feira despertaram nova atenção nos extremistas de direita não apenas na Noruega mas em toda a Europa, onde a oposição aos imigrantes muçulmanos, à globalização, ao poder da União Europeia e à busca do multiculturalismo se provou uma potente força política e, em alguns casos, um incentivo à violência.
O sucesso de partidos populistas que apelam a um sentimento de perda de identidade nacional causou críticas às minoria, aos imigrantes e particularmente aos muçulmanos, que não ficam mais restritas aos bares ou salas de debate da internet mas agora fazem parte da política cotidiana. Embora os partidos em geral não apoiem a violência, alguns especialistas dizem que o clima de ódio no discurso político encorajou indivíduos violentos.
“Não fico surpresa quando coisas como a bomba detonada na Noruega acontecem, já que você pode encontrar gente que acredita que meios mais radicais são necessários”, disse Joerg Forbrig, um analista do Fundo Marshall da Alemanha que estuda questões da extrema-direita na Europa. “Literalmente, é algo que pode acontecer em um número de lugares e existem problemas maiores por trás do fenômeno”.
Em novembro passado um homem sueco foi preso na cidade de Malmö em conexão com mais de uma dezena de casos de tiros disparados contra imigrantes, inclusive uma morte. Os incidentes, nove dos quais aconteceram entre junho e outubro de 2010, parecem ter sido trabalho de um indivíduo. Mas amplamente na Suécia, no entanto, o direitista Democratas Suecos experimentou renovado sucesso em eleições. O partido ingressou no Parlamento pela primeira vez depois de receber 5,7% dos votos nas eleições gerais de setembro passado.
A bomba e os assassinatos em Oslo também serviram como alerta para os serviços de segurança da Europa e dos Estados Unidos, que em anos recentes focaram tanto em terroristas islâmicos que podem ter subestimado a ameaça de radicais domésticos, inclusive dos que se revoltaram contra o que enxergam como influência do islã.
Nos Estados Unidos os ataques mortaos reavivaram a memória do bombardeio de Oklahoma City em 1995, quando um extremista de direita, Timothy J. McVeigh, usou uma bomba de fertilizante para detonar um prédio público federal, matando 168 pessoas. Aquele ato mortal ficou encoberto pelos eventos de 11 de setembro de 2001.
De acordo com o sr. Forbrig, grupos isolados de direita na Europa surgiram e desapareceram rapidamente entre os anos 60 e os anos 90. Mas em anos recentes posições de extrema-direita deixaram de ser o tabu do pós-Segunda Guerra mesmo entre importantes partidos políticos.
Uma combinação de crescente imigração e o movimento largamente irrestrito de pessoas numa alargada União Europeia, como da perseguida minoria Roma, ajudou a assentar as bases de um renascimento nacionalista e muitas vezes profundamente chauvinista.
Grupos assim ganham tração da Hungria à Itália, mas isso é particularmente aparente nos países do norte europeu que há muito tempo tem políticas liberais de imigração. A rápida chegada de refugiados, dos que buscam asilo e de migrantes econômicos, muitos dos quais muçulmanos, levaram a uma significativa revolta em países como a Dinamarca, onde o Partido Popular da Dinamarca tem 25 dos 179 assentos no Parlamento, e na Holanda, onde o Partido da Liberdade de Geert Wilder ganhou 15,5% dos votos nas eleições gerais de 2010.
O sr. Wilders famosamente comparou o Corão, o livro sagrado do Islã, ao livro Mein Kampf, de Adolf Hitler. Os partidos direitistas dinamarquês e holandês apoiam governos precários em minoria e não participam com ministros, no processo avançando lentamente em busca de aceitação geral.
Os ataques de sexta-feira foram rapidamente condenados por líderes políticos da Europa em todo o espectro político. A chanceler da Alemanha Angela Merkel foi particularmente dura ao descrever o “crime repugnante”. O tipo de ódio que poderia alimentar tal ação, ela disse, vai contra “a liberdade, o respeito e a crença em coexistência pacífica”.
Ainda assim algumas das motivações primárias citadas pelo suspeito da Noruega, Anders Behring Breivik, se tornaram questões de amplo debate. A sra. Merkel, o presidente da França Nicolas Sarkozy e o primeiro ministro britânico David Cameron todos recentemente declararam o fim do multiculturalismo. O multiculturalismo “fracasso, fracassou redondamente”, a sra. Merkel disse aos colegas cristãos democratas em outubro passado, embora dizendo que os imigrantes eram benvindos na Alemanha.
Talvez a maior surpresa aconteceu no Reino Unido, um país que há muito tempo se considerava entre os amigáveis para imigrantes na Europa até uma série coordenada de ataques à bomba em Londres seis anos atrás. Em um de seus mais famosos discursos, o sr. Cameron disse em uma cúpula de segurança em Munique em fevereiro que a política multiculturalista britânica de décadas tinha encorajado “comunidades segregadas” onde o extremismo islâmico podia vicejar.
A França, um estado secularista onde toda religião é banida da esfera pública, há muito era isolada e atacada por sua forte oposição ao laissez-faire do multiculturalismo. Mulheres que aparecem em escolas públicas com o lenço muçulmano são suspensas, assim como professores ou qualquer outro funcionário público.
Se o sr. Sarkozy parece ter tido um posição menos favorável ao secularismo oficial, ou “laicidade”, no início de sua carreira política, quando contemplou a ideia de ação afirmativa, ele recentemente tem feito de tudo para voltar atrás. Ele apoiou um debate sobre “identidade nacional” no ano passado e no início deste ano baniu os véus muçulmanos que cobrem a face, como o niqab, e também a burqa.
Isso não evitou que o direitista National Front, liderado por Marine Le Pen, a filha do fundador do partido, ganhasse apoio em pesquisas de opinião, com levantamente prevendo que ela pode ter chance de ir ao segundo turno na próxima eleição presidencial. Ela comparou os muçulmanos que oram nas ruas do lado de fora de mesquitas lotadas à ocupação nazista, e ataca a União Europeia e o euro.
Mais cedo este mês, o jornal diário Berliner Zeitung noticiou que neonazistas estavam atacando os escritórios do esquerdista Left Party com crescente frequencia. No que um dia foi o estado de Mecklenburg-Vorpommern, na Alemanha Oriental, estatísticas mostram que aconteceram 30 ataques do tipo na primeira metade de 2011, comparados a 44 em todo o ano de 2010.
Devido a seu passado nazista, a Alemanha mantém os olhos voltados para os extremistas de direita, e os partidos de extrema-direita tem dificuldades em obter apoio, sem qualquer representante no Parlamento. Na Finlândia, o True Finns, um partido nacionalista populista fundado em 1995, se tornou o terceiro maior do parlamento depois de conquistar 19% dos votos em abril. O Partido do Progresso da Noruega, populista de direita, é o segundo maior do país, com 23% dos votos nas eleições parlamentares de setembro de 2009.
“Os grupos de direita da Noruega sempre foram desorganizados, nunca tiveram líderes carismáticos do tipo dos grupos bem organizados e bem financiados que se vê na Suécia”, disse Kari Helene Partapuoli, diretor do Centro Norueguês contra o Racismo. “Mas nos últimos dois ou três anos nossa organização e outras redes antifacistas tem alertado para a crescente temperatura do debate e para o fato de que grupos violentos tinham sido formados”.
Mas a Noruena não existe em um vácuo. A cena direitista está conectada ao resto da Europa através de foruns da internet onde o discurso do ódio prolifera a através de demonstrações de extrema-direita que atraem uma mistura internacional de participantes.
“Este pode ter sido o ato de um indivíduo louco, solitário e paranoico”, disse Hajo Funke, um cientista política da Universidade Livre de Berlim que estuda o extremismo de direita, se referindo aos fundamentalistas cristãos acusados pelos crimes, “mas o milieu da extrema-direita cria uma atmosfera que leva essas pessoas ao caminho da violência”.
Reporting was contributed by Steven Erlanger from Oslo, Katrin Bennhold from Paris, Stefan Pauly from Berlin, and Scott Shane from Washington.
PS do Viomundo: O artigo fracassa em um ponto essencial. É como se a imigração, pura e simplesmente, fosse a responsável pela “revanche” da extrema-direita. Não é. A elite europeia, como temos visto no caso da Grécia. O caldo de cultura que alimenta a extrema-direita não é apenas cultural, mas essencialmente econômico. Deriva da concentração de renda e da falta de perspectiva de emprego dos jovens europeus. É nesse caldeirão que se alimentam os fascistas e nazistas.

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