Qual a base de apoio da presidenta Dilma?

Nesses pouco mais de sete meses de governo da presidenta Dilma Rousseff (PT) tem ficado mais evidente o constante afastamento do governo da ampla base social que foi fundamental para garantir sua eleição no ano passado.
Não falamos em mudanças na política econômica que pudessem contribuir para pôr a perder os avanços conquistados em oito anos de governo Lula.  É claro que a economia ainda continua bem, em que pese as concessões, cada vez mais frequentes, a princípios neoliberais e financistas.  Ainda não é de economia que falamos.
Falamos daquelas posturas que trincaram a base social de um governo popular.  Exemplo disso são os constantes recuos no que se refere às políticas públicas de garantia de direitos e proteção da vida da comunidade LGBT.  O material a ser utilizado em escolas como ferramenta de educação anti-homofobia foi rifado em prol da defesa de Antônio Palocci pela bancada evangélica.  De nada valeram os inúmeros casos de violência contra gays: falou mais alto a voz do conservadorismo evangélico e católico.
No âmbito da comunicação dois processos são marcantes: as mudanças que desconfiguraram o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) conforme construído no governo Lula; e o engavetamento do projeto de lei de regulação da comunicação midiática no país, concebido sob o ex-ministro Franklin Martins.  Agora com o escândalo envolvendo o magnata Rudolph Murdoch e o News Corporation na Inglaterra talvez o ministro Paulo Bernardo tenha coragem de desengavetar o projeto.
Tudo isso sem enfatizar as questões relativas à gestão de Ana de Hollanda no ministério da Cultura, que provocaram a primeira crise e o afastamento de muitos movimentos sociais da cultura e do software livre que apoiaram a eleição de Dilma Rousseff.
Portanto, é nesse contexto que eu consigo ler uma notícia destacada pela Folha de S. Paulo de hoje:

Lula teme que Dilma se isole da base governista

Ex-presidente diz a aliados que pode haver retaliação contra demissões

Integrantes da corrente majoritária do PT dizem que rito sumário coloca em risco as alianças que sustentam o governo 

CATIA SEABRA
NATUZA NERY
DE BRASÍLIA 

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou a interlocutores sua preocupação com o estilo de Dilma Rousseff na condução da crise dos Transportes.
Nas conversas, Lula disse ter medo de que o rito sumário nas demissões e o temperamento de Dilma imponham riscos à governabilidade, levando-a ao isolamento.
O ex-presidente tem avaliado que, graças à aliança de 15 partidos, Dilma ainda possui capital político para tomar medidas drásticas, como a exoneração em massa de dirigentes nos Transportes.
Sua apreensão está na hipótese de desperdiçar esse ativo agora: ele teme que o troco aconteça num momento de fragilidade do governo.
Para descartar mal-estar com a ideia de que Dilma esteja tendo problemas com seu legado, Lula faz questão de repetir que o novo ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, comandava a pasta no fim de sua gestão.
Petistas afirmam que Lula apoia o rigor de Dilma, mas discorda dos métodos, sobretudo do tratamento dado ao PR. Após as denúncias, a sigla foi excluída do processo de sucessão na pasta que comanda há quase nove anos.
"Ela criou um rito [de demissão]. Em caso de suspeita, vai ter que valer para todos, até mesmo para o PT", afirma o líder do PR na Câmara, Lincoln Portela (MG).
A inquietação de Lula se estende ao PT: "Aplaudimos o rigor dela", disse o líder do partido na Câmara, Paulo Teixeira (SP). "A administração desse processo tem que ser feita, na minha opinião, com diálogo com o PR, tendo em vista a necessidade da governabilidade e a relação com os partidos", disse.
Integrantes da corrente majoritária do partido (Construindo um Novo Brasil, de Lula) reclamam que a fórmula de Dilma contraria o princípio da ala de costurar um amplo arco de alianças. A crítica é feita veladamente por várias tendências.
A mensagem é de alerta: Dilma diz que privilegiará técnicos no governo, então afasta-se da classe política.

PERSONALIDADE
Na opinião de petistas, a personalidade de Dilma contribuiu para esse distanciamento. Dizem que ela se aborrecia tanto quando ventilavam pela mídia nomes cotados para o ministério que sacramentou o convite a Paulo Passos num rompante.
Colaboradores constantemente se queixam dos arroubos de Dilma a ponto de temê-la. No PT, diz-se que Dilma é pouco aberta a críticas. Também confia em poucos.
Segundo a Folha apurou, Dilma ouve poucos aliados antes de tomar decisões.
O grupo de ministros do Planalto -Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral), Ideli Salvatti (Relações Institucionais) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil)- adotou um procedimento atípico até aqui: ensaiar um discurso comum para tentar convencer.

Acho que antes de se preocuparem com a base partidária governista, a presidenta Dilma e o ex-presidente Lula deveriam se preocupar com a gradativa perda da base de apoio social da presidenta.  Na crise de 2005, na eleição de 2006 e na eleição de 2010 a base social do governo foi mais fundamental que a base partidária.  Na hora da fragilidade, Dilma não contará com o PR.  E, pelo visto, nem com os movimentos sociais.

Comentários