Ainda a querela de Walter Carvalho

Por Mary Land Britto
No Diário do Tempo


Me sinto na obrigação de tecer alguns comentários sobre a polêmica que atualmente estamos inseridos. Antes de mais nada, exibir a cópia pirata do filme realmente é falta grave que não se questiona. Pelo que soube, uma cópia original havia sido pedido a Walter Carvalho e esta estava sob seu poder, não chegando à equipe técnica que controlava o sistema de som e imagem e passando despercebido pela pessoa da organização responsável por este evento. Só sei dessa informação porque, no decorrer dos fatos, acabei me prontificando a ajudar a resolver, simplesmente como uma amante do audiovisual que gostaria de ter acesso a tudo o que foi planejado e pudesse somar para minha formação. Eu mesma testei a mídia trazida por Walter em mais de um computador e DVD, sem sucesso.

Eu estava presente na platéia como outro ser humano qualquer participando do evento como mera espectadora juntamente com a turma da disciplina que estou ministrando no curso de Cinema da UNP, o de direção cinematográfica. Quando o áudio começou a dar errado, a professora Isaura, que estava sentada ao meu lado e dos meus alunos pediu para que eu tentasse saber o que estava acontecendo. O resumo da história foi: polêmica do DVD pirata, DVD original sem funcionar as funções do menu conforme o diretor queria, Walter Carvalho ignorando que a mídia original estava com problema, decisão de não exibir o filme, bate papo enriquecedor de mais de três horas.

Como realizadora, pesquisadora e professora da área audiovisual, acho louvável eventos como este e uma pena que dez minutos de polêmica possam chamar mais atenção que três horas de ensinamento, debate e oportunidade de conversar cara a cara com um dos expoentes do cinema nacional que muito tinha a contribuir com a nossa formação. Nós que moramos pras bandas de cá do querido elefante, tentando juntar som e imagem de maneira que dê arte, temos muito a escutar sobre o assunto, afinal, uma de nossas principais reclamações é a falta de acesso a cursos, profissionais e oportunidades de melhorarmos nossa produção.

É importante frisar também, que o bate papo com Walter Carvalho, diferente do que diz o texto de Sérgio Vilar, não foi o primeiro desta série audiovisual. Um dia antes foi exibido o filme de Roberto Berliner “A pessoa é para o que nasce” que contou com a presença das protagonistas – As ceguinhas de Campina Grande – realizando uma bela apresentação cultural. A programação se estendeu ainda por outros dias, sendo substituído o diretor Escorel, como lembrando aqui no fórum, por razões não informadas.

Acho super válida toda essa discussão, acho que valem as críticas para a coordenação do evento promovido pela FJA estar mais atenta a questões básicas do audiovisual e mais ainda, acho que não podemos ignorar outra questão importante que surgiu do episódio Walter Carvalho e que adormece sem que lhe seja dada a devida atenção: o comportamento da equipe do comércio de DVDs piratas da “Sétima Arte”.

É de conhecimento de todos que esta banca preenche uma lacuna de acesso a filmes raros para os cinéfilos da cidade, porém nada lhes dá o direito de gravar sua propaganda nos DVDs que reproduz. Já não basta se beneficiar economicamente ignorando toda e qualquer questão referente a direito autoral e de distribuição?

Bom, em todas as questões levantadas acima não há maniqueísmo, existem fatos que somaram em nossa formação, outros que mostraram que ainda há muito o que melhorar no audiovisual do nosso Estado.

Porém, feitas as devidas avaliações do evento, o que se faz sempre necessário, só desejo que venham outros diretores, que venham outros eventos audiovisuais, que haja mais organização e que os futuros encontros possam acontecer de maneira mais tranqüila como as águas do nosso Potengi.

Saudações

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