#ForaAnadeHollanda: Cultura de continuidade ou ruptura?

Por Jotabé Medeiros
Do Estadão, através do Substantivo Plural

O cancelamento de 11 convênios, no valor total de R$ 12 milhões (assinados na gestão de Juca Ferreira no Ministério da Cultura) pela atual gestão de Ana de Hollanda está provocando um racha no setor. Artistas e produtores de convênios cancelados avaliam que a atual ministra optou por uma ação de ruptura radical com o governo anterior, em vez de fazer um governo de continuidade, como apregoou quando assumiu.

Na semana passada, o Estado noticiou o caso da Rede de Revistas, grupo que reúne publicações de artes, que viu seu convênio abruptamente suspenso após ter sido selecionado e passado por várias instâncias de avaliação. Essa semana, outras duas instituições, o Instituto E (de design) e a Associação Brasileira de Estilistas (Abest), acusaram a descontinuidade de seus projetos.
O Instituto E tinha visto a aprovação, no ano passado, do projeto Design Sustentável para Equipamentos Culturais e Mobiliário Urbano, orçado em R$ 2.735.419,24 (incluindo as contrapartidas e os desembolsos). “O que o MinC alega são problemas processuais, dos quais caberia a ele mesmo a resolução, solicitando que sejam completadas as informações. Os problemas burocráticos, no caso do Instituto E, já tinham sido resolvidos. E o cancelamento foi de modo arbitrário e sem direito a resposta”, afirmou nota do porta-voz do projeto.
Já o projeto cancelado dos estilistas envolveria o apoio de desfiles internacionais com os brasileiros Pedro Lourenço, Alexandre Herchcovitch e Carlos Miele e premiaria dois estilistas de destaque nas principais semanas de moda do ano passado. O apoio do Estado brasileiro à indústria de moda nacional tem sido incentivado desde a gestão Gilberto Gil, e a própria ministra Ana de Hollanda esteve na SP Fashion Week para ilustrar sua preocupação com o setor.
Na ultima Conferência Nacional de Cultura em 2010, moda, design e arquitetura passaram a ser reconhecidos como cultura pelo MinC e foram definidas estratégias para essas áreas. A nova Lei Rouanet, em trâmite no Congresso, prevê a inclusão do setor em um fundo setorial.
Segundo Vitor Ortiz, secretário executivo do Ministério da Cultura (o segundo no comando), a “conotação política” que querem dar aos cancelamentos é “equivocada” por uma série de motivos. O primeiro, ele diz, é que dos mais de 200 convênios celebrados, somente 11 foram cancelados, o que não caracteriza uma caça às bruxas. “Se fosse governo de descontinuidade, teríamos cancelado a metade ou todos”, diz. “Todos os que foram cancelados o foram por motivos administrativos, técnicos ou jurídicos. O proponente pode ter acesso ao parecer. Antes de serem enviados para pagamentos, os projetos passam por essas avaliações e pela Advocacia Geral da União (AGU), e nem a ministra nem ninguém pode mandar pagar antes disso”, afirmou.
“O parecer da AGU que questionava muitos dos itens já havia sido resolvido para que pudéssemos inscrever o projeto. De acordo com o advogado do Instituto E, este documento é tão contestável que evidenciava que havia por trás uma vontade política de minar o convênio”, rebate fonte do Instituto E.
“O primeiro questionamento é saber se é habitual e se os outros ministérios colocaram os projetos conveniados na gestão anterior em tão radical escrutínio. Ainda mais sendo um governo de continuidade. Parece uma excessiva desconfiança em relação à gestão anterior, do governo Lula”, diz o editor Sergio Cohn, que representa a Rede de Revistas. “O projeto passou por todas as etapas habituais de perícia técnica e jurídica do Ministério, tendo adequado ou justificado os pontos questionados pelo Ministério. A retomada desse processo, como tem acontecido, e de uma forma extremamente lenta, atrapalha o cumprimento dos prazos do projeto”.
Parte dos convênios foram celebrados pela Secretária de Políticas Culturais em 2010, quando era dirigida por José Luiz Herência (atual sub-secretário da Secretária de Cultura do Estado de São Paulo). Um colaborador de Ana de Hollanda, em conversa em off com a reportagem, disse que houve excesso de “distributivismo” na gestão de Juca Ferreira, e que isso está sendo objeto de análise. Um ex-gestor da administração de Ferreira, que não quis se identificar, disse o seguinte ao Estado: “Estes convênios estavam regulares. O cancelamento é um ato político de revanchismo, desastrado e desastroso para a cultura. A atual gestão está perseguindo grupos culturais que cometeram o crime de receber apoio do MinC na gestão Lula. Além de não lutar por mais orçamento para cultura, a atual gestão está cancelando os investimentos já realizados. Isso sim é improbidade.”

Comentários

Ilana Félix disse…
Esse Ministério da Ana de Holanda é o mesmo que desce em diligência um projeto cênico-musical, com trilha sonora original, apresentado em local abeto, por que quer saber da necessidade de um estúdio de gravação, que até uma criança hoje em dia sabe que esses espetáculos são pré-gravados em estúdio. Não avisa o proponente (ou não tem prova de que o avisou) da diligência e indefere o projeto por não ter respondido a diligência que não foi comunicada.
Ou seja, é o Ministério que pode tudo!