Netanyahu cria comissão para negociar com líderes do maior protesto de Israel


O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou neste domingo (07/08) a criação de uma comissão de ministros, observadores e analistas para negociar com os representantes do maior protesto social da história do país, que no último sábado (07) levou 300 mil manifestantes às ruas.

"Não podemos ignorar as vozes que vêm do povo. Daremos soluções reais, não mudanças cosméticas", declarou o premiê, no início da reunião semanal de seu Gabinete, segundo a transcrição de suas palavras divulgada por seu escritório. 

Em seu discurso, mais longo que o habitual, Netanyahu insistiu na seriedade de sua intenção de promover mudanças "reais" que permitam à população se beneficiar do crescimento econômico, mas também na impossibilidade de "responder a todas as reivindicações", a dificuldade de "construir uma economia" e o contexto de crise global.

"Ouviremos todos. Não podemos agradar a todos, mas manteremos um verdadeiro diálogo", esclareceu o premiê, que na última quarta-feira (03) chamou o movimento de "populista".

Segundo o líder, a comissão terá de "oferecer muitas propostas em um breve período de tempo", em quatro âmbitos principais de trabalho: mudar a ordem de prioridades, a política impositiva, o aumento do acesso aos serviços sociais e a melhora da concorrência e eficiência nos mercados.

A comissão, cuja formação tinha sido anunciada na reunião semanal anterior do Executivo, contará com 15 ministros e será liderada pelo acadêmico Manuel Trachtenberg, presidente do Comitê de Orçamento e Planejamento do Conselho de Educação Superior.

Trachtenberg reconheceu que assume o cargo com "sentimentos opostos": por um lado, um "grande entusiasmo em conseguir uma mudança real", mas, por outro, uma "grande preocupação quanto à grande responsabilidade que esta tarefa implica, o impacto das expectativas e os riscos".

Sua incumbência é lançar uma mesa de debates sobre os assuntos abordados pelos manifestantes, que se queixam do aumento do custo de vida e reuniram no sábado pela noite 300 mil pessoas na maior manifestação da história de Israel não vinculada ao conflito do Oriente Médio.

Os protestos começaram no dia 14 de julho, quando manifestantes acamparam em Tel Aviv, revoltados com os preços de moradia. Desde então, o movimento foi ganhando adesões entre a população.

Os "indignados" israelenses reivindicam uma emenda à lei de construção civil que obrigue as empresas a construírem "casas acessíveis", um corte gradual dos impostos indiretos, a valorização dos processos de privatização em curso e um aumento do salário mínimo à metade do salário médio - atualmente de 8.698 shekels (quase R$ 4 mil).

Eles também demandam um aumento do número de fiscais trabalhistas, bombeiros, policiais, professores e assistentes sociais no quadro de funcionários públicos, além de uma redução do número de alunos por sala de aula nas escolas do Estado.

A nova comissão apresentará suas recomendações dentro de um mês ao gabinete econômico-social, presidido pelo ministro das Finanças, Yuval Steinitz, que, por sua vez, proporá soluções a Netanyahu e ao conjunto do Governo israelense.

Dois ministros do partido direitista Likud, liderado por Netanyahu, serão observadores nas negociações: Limor Livnat (Cultura e Esportes) e Michael Eitan (Serviços Públicos).

O jornal Ha'aretz revela neste domingo que, nos últimos dias, o chefe de Governo entrou pessoalmente em contato com pelo menos cinco economistas do setor privado ou de universidades para convidá-los a integrar a comissão, provavelmente diante das dificuldades de conseguir nomes de peso para a delicada tarefa.

O principal partido da oposição, o Kadima (centro-direita) da ex-ministra das Relações Exteriores Tzipi Livni, considera a comissão um "engano" com o qual Netanyahu "busca obstinadamente demonstrar que o protesto não poderia ter menos importância para ele", além de "oferecer o mesmo que antes, em vez de entender a necessidade de uma mudança real".

Já o atual ministro das Relações Exteriores, o ultranacionalista Avigdor Lieberman, convocou uma entrevista coletiva para falar sobre o assunto, na qual alertou contra uma redução do orçamento militar para responder às necessidades sociais.

O chanceler afirmou que todos os setores com reivindicações "têm razão", mas será necessário analisar uma resposta adequada às demandas. Ele considerou o protesto "um sinal de que os problemas são reais", mas ironizou as críticas contra o alto custo de vida ao dizer que os cafés em Tel Aviv não são frequentados só por magnatas, mas também por jovens e novos emigrantes.

Quanto aos magnatas, o acampamento no boulevard Rothschild de Tel Aviv recebeu neste domingo a visita do jovem fundador do site Wikipédia, Jimmy Wales, que se mostrou impressionado pelo debate e identificação do povo com uma causa, mas reconheceu que não tem opinião formada sobre se está de acordo com os motivos do protesto.

Comentários