As vãs fantasias do #porquenaoFHC?

Em meio a esta discussão Lula chegará à França. Convém que saiba que, antes de receber o doutorado Honoris Causa da Sciences Po, deve pedir desculpas aos elitistas de seu país. Um trabalhador metalúrgico não pode ser presidente. Se por alguma casualidade chegou ao Planalto, agora deveria exercer o recato. No Brasil, a Casa Grande das fazendas estava reservada aos proprietários de terra e escravos. Assim, Lula, silêncio por favor. Os da Casa Grande estão irritados.
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Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?DESCOINGS: O antigo presidente merecia e, como universitário, era considerado um grande acadêmico. Sciences-po é uma universidade de elite, porque nós formamos uma parte da classe politica e das grandes empresas francesas. O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences-po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente de um diploma universitário. Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade. Ele foi eleito por unanimidade pelo nosso conselho de administração. A França, como toda a Europa, passa por um momento difícil.
 
No meu último post da noite, quero analisar a intenção por trás de quem pôde perguntar a Ruchard Descoings, diretor do Sciences Po, porque conceder o grau de Doutor Honoris Causa a alguém que se orgulhava de nunca ter lido um livro, ou porque fazê-lo a um presidente que tolerou a corrupção e chamou Khadafi de amigo e irmão.
Quando leio perguntas assim, simplesmente verdadeiras idiotices, lembro daqueles debates vazios que de vez em quando a gente se diverte fazendo.  Aqueles debates quando nós e o debater estamos muito firmes em nossas convicções e ficamos buscando argumentos para reverter a opinião do outro - uma reversão impossível, afinal.  A gente sabe que o outro não mudará de opinião, mas se irrita quando nossos brilhantes argumentos são contra-argumentados.  Então a gente fica elaborando argumentos ainda mais fantásticos na vã esperança de tentarmos convencer o outro de que ele está errado e a gente está certo.
As perguntas assacadas pelos jornalistas brasileiros na coletiva do diretor do Sciences Po, Descoings, pareceram-me uma vã tentativa de a mídia brasileira convencer a instituição a rever a concessão do título.  Como se fossem argumentos novos.  Como se ainda desse tempo.  Como se simples perguntas fossem mudar a decisão inédita do Sciences Po - o primeiro latino-americano a ser homenageado com o título honoris causa foi o pernambucana, mal-alfabetizado Lula.  Por que não FHC?
Imagino que a resposta pretendida pelos repórteres passava por uma teatral mão na cabeça do diretor, olhos fechados, clara expressão de caimento em si, um muxoxo, um palavrão, e uma ligação para impedir a continuidade da cerimônia: "O que estávamos a ponto de fazer? Obrigado mídia colonizada do Brasil: vocês impediram uma instituição tradicional como Sciences Po de cometer um erro de consequências históricas".
Ainda bem que a Sciences Po realmente sabe o que faz.

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