Do Globo Online
Com 140 anos de existência, o Instituto de Estudos Políticos de Paris - o Sciences-po, por onde passou a nata da elite francesa, como os ex-presidentes Jacques Chirac e François Mitterrand, vem, cada vez mais, investindo em sua relação com países da América do Sul, sobretudo o Brasil. Foram criados estudos de pós-bacharelado inteiramente dedicados à região. Em 15 anos, o número de estudantes brasileiros na instituição decuplicou:
- Na Sciences-po, há 30 anos, o Brasil era visto como um país grande em superfície. Mas não era considerado uma potência mundial. Hoje, quando os países do Brics se propõem a ajudar a Europa a sair da crise financeira e da dívida, é uma mudança formidável na História da Humanidade.
Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?
DESCOINGS: O antigo presidente merecia e, como universitário, era considerado um grande acadêmico. Sciences-po é uma universidade de elite, porque nós formamos uma parte da classe politica e das grandes empresas francesas. O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences-po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente de um diploma universitário. Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade. Ele foi eleito por unanimidade pelo nosso conselho de administração. A França, como toda a Europa, passa por um momento difícil.
Como o senhor vê a situação educacional no Brasil? Lula fez o bastante?
DESCOINGS: Nunca é o bastante. Mas o Brasil tem um dispositivo de bolsas de estudo extraordinário. As universidades brasileiras são de boa qualidade. Temos 15 parcerias no Brasil, inclusive com a USP, em São Paulo. O Brasil, para nós, é um país-alvo para a cooperação universitária. Há hoje muitos jovens europeus que querem ir ao Brasil estudar ou fazer carreira no Brasil. O presidente da Alstom (gigante francesa dos transportes e engenharia elétrica) estudou na Science-po. Tem muita gente que sonha hoje em ir para o Brasil.
Há uma diferença do olhar dos estudantes em relação a países emergentes, como Brasil, Índia ou China?
DESCOINGS: Sim, uma mudança extremamente profunda. Na Sciences-po, há 30 anos, o Brasil era visto como um país grande em superfície. Mas não era considerado uma potência mundial. Hoje, quando os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) se propõem a ajudar a Europa a sair da crise financeira e da dívida, é uma mudança formidável na História da Humanidade.
Que mudanças isso provocou nos estudos na Sciences Po?
DESCOINGS: Há dez anos, criamos estudos pós-bacharelado inteiramente dedicado às relações entre América do Sul, sobretudo o Brasil, e a Europa. Formamos 600 jovens nesses estudos, e cada estudante passou pelo menos um ano na América do Sul, sobretudo no Brasil. Temos hoje 150 estudantes brasileiros na Sciences-po. É dez vezes mais do que há 15 anos.
Muitos estudantes brasileiros que iam para a França passaram a estudar nos Estados Unidos. Como está isso hoje?
DESCOINGS: Os estabelecimentos franceses foram superados pelos americanos (em atratividade) nos anos 70, 80 e 90. Era preciso reagir e transformamos o Brasil em um dos nossos países privilegiados. Por isso, criamos um campus especificamente para que jovens europeus conhecessem muito bem o português, o espanhol e os países da América do Sul.
As universidades americanas continuam a atrair mais?
DESCOINGS: É normal, porque as universidades americanas são muito boas. O que dizemos é: não somos melhores, mas somos tão bons. Mas quem faz mestrado no Sciences-po e nas universidades americanas não é a mesma coisa. Não temos o mesmo ensino nem os mesmo valores. Mas, para nós, o fato de termos muitos estudantes brasileiros é a prova de que estamos no mesmo nível das universidades americanas.
O senhor quer transformar a Sciences-po num lugar de pesquisa. Por quê?
DESCOINGS: No mundo de hoje não podemos ser uma boa instituição educacional se também não somos uma universidade de pesquisa. Atualmente, gastamos 40% de nosso orçamento em pesquisa em Economia, Sociologia, Direito, História e Ciências Políticas. Hoje, diante da incrível mudança no mundo, é pesquisa de ponta: a Economia de 2010 não é a mesma dos anos 90. Todos os modelos estão explodindo.
Com 140 anos de existência, o Instituto de Estudos Políticos de Paris - o Sciences-po, por onde passou a nata da elite francesa, como os ex-presidentes Jacques Chirac e François Mitterrand, vem, cada vez mais, investindo em sua relação com países da América do Sul, sobretudo o Brasil. Foram criados estudos de pós-bacharelado inteiramente dedicados à região. Em 15 anos, o número de estudantes brasileiros na instituição decuplicou:
- Na Sciences-po, há 30 anos, o Brasil era visto como um país grande em superfície. Mas não era considerado uma potência mundial. Hoje, quando os países do Brics se propõem a ajudar a Europa a sair da crise financeira e da dívida, é uma mudança formidável na História da Humanidade.
Por que Lula e não Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor, para receber uma homenagem da instituição?
DESCOINGS: O antigo presidente merecia e, como universitário, era considerado um grande acadêmico. Sciences-po é uma universidade de elite, porque nós formamos uma parte da classe politica e das grandes empresas francesas. O presidente Lula fez uma carreira política de alto nível, que mudou muito o país e, radicalmente, mudou a imagem do Brasil no mundo. O Brasil se tornou uma potência emergente sob Lula, e ele não tem estudo superior. Isso nos pareceu totalmente em linha com a nossa política atual no Sciences-po, a de que o mérito pessoal não deve vir somente de um diploma universitário. Na França, temos uma sociedade de castas. E o que distingue a casta é o diploma. O presidente Lula demonstrou que é possível ser um bom presidente, sem passar pela universidade. Ele foi eleito por unanimidade pelo nosso conselho de administração. A França, como toda a Europa, passa por um momento difícil.
Como o senhor vê a situação educacional no Brasil? Lula fez o bastante?
DESCOINGS: Nunca é o bastante. Mas o Brasil tem um dispositivo de bolsas de estudo extraordinário. As universidades brasileiras são de boa qualidade. Temos 15 parcerias no Brasil, inclusive com a USP, em São Paulo. O Brasil, para nós, é um país-alvo para a cooperação universitária. Há hoje muitos jovens europeus que querem ir ao Brasil estudar ou fazer carreira no Brasil. O presidente da Alstom (gigante francesa dos transportes e engenharia elétrica) estudou na Science-po. Tem muita gente que sonha hoje em ir para o Brasil.
Há uma diferença do olhar dos estudantes em relação a países emergentes, como Brasil, Índia ou China?
DESCOINGS: Sim, uma mudança extremamente profunda. Na Sciences-po, há 30 anos, o Brasil era visto como um país grande em superfície. Mas não era considerado uma potência mundial. Hoje, quando os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) se propõem a ajudar a Europa a sair da crise financeira e da dívida, é uma mudança formidável na História da Humanidade.
Que mudanças isso provocou nos estudos na Sciences Po?
DESCOINGS: Há dez anos, criamos estudos pós-bacharelado inteiramente dedicado às relações entre América do Sul, sobretudo o Brasil, e a Europa. Formamos 600 jovens nesses estudos, e cada estudante passou pelo menos um ano na América do Sul, sobretudo no Brasil. Temos hoje 150 estudantes brasileiros na Sciences-po. É dez vezes mais do que há 15 anos.
Muitos estudantes brasileiros que iam para a França passaram a estudar nos Estados Unidos. Como está isso hoje?
DESCOINGS: Os estabelecimentos franceses foram superados pelos americanos (em atratividade) nos anos 70, 80 e 90. Era preciso reagir e transformamos o Brasil em um dos nossos países privilegiados. Por isso, criamos um campus especificamente para que jovens europeus conhecessem muito bem o português, o espanhol e os países da América do Sul.
As universidades americanas continuam a atrair mais?
DESCOINGS: É normal, porque as universidades americanas são muito boas. O que dizemos é: não somos melhores, mas somos tão bons. Mas quem faz mestrado no Sciences-po e nas universidades americanas não é a mesma coisa. Não temos o mesmo ensino nem os mesmo valores. Mas, para nós, o fato de termos muitos estudantes brasileiros é a prova de que estamos no mesmo nível das universidades americanas.
O senhor quer transformar a Sciences-po num lugar de pesquisa. Por quê?
DESCOINGS: No mundo de hoje não podemos ser uma boa instituição educacional se também não somos uma universidade de pesquisa. Atualmente, gastamos 40% de nosso orçamento em pesquisa em Economia, Sociologia, Direito, História e Ciências Políticas. Hoje, diante da incrível mudança no mundo, é pesquisa de ponta: a Economia de 2010 não é a mesma dos anos 90. Todos os modelos estão explodindo.
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