#ForaMicarla: Boemia ameaçada

Se o produtor cultural da região fosse Rodrigues Neto e não Marcelo Veni o Beco estaria passando por isso?
As cidades sérias valorizam seus centros de cultura como, inclusive, pólos de atração turística.  Dia desses eu comentava que Natal tem um único pólo de cultura, que é o Beco.  Micarla agora quer acabar com o Beco.  Triste fim de uma borboleta.

Por Sérgio Vilar
No Diário de Natal

A liberdade do reduto mais boêmio de Natal está ameaçada. A interdição do Bar da Meladinha na semana passada foi apenas a primeira de outras programadas para os comércios do Beco da Lama, fincado no “coração” do Centro Histórico de Natal. O argumento da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) é a falta de licença de funcionamento dos bares. Alguns possuem 50 anos de história.

Desde o início de agosto, o produtor cultural Marcelo Veni promove no local o 1º Beco da Lama Festival. A proposta é de shows durante o mês inteiro de agosto, em frente ao Bar da Meladinha. Segundo Veni, o evento trouxe movimento e, por tabela, mais segurança ao esquecido Beco. E a maioria dos poucos moradores das redondezas aprovou a iniciativa. Mas houve um abaixo-assinado que provocou o fechamento do Bar.A denúncia foi contra a poluição sonora. A Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (Deprema) provocou a Semurb para fiscalizar o local. Partiu daí a interdição. Veni e a proprietária doBar da Meladinha, Neide, apresentaram defesa na Semurb e conseguiram a liberação provisória para os shows. Mas o Bar permaneceu fechado, dessa vez por falta de licença para funcionamento – uma série de documentos como alvará, CNPJ e outros contrários à cultura do comércio no local.

Com o Bar da Meladinha fechado, Marcelo Veni optou pela suspensão do Festival. Na última semana, a Semurb reabriu o bar sob condição da proprietária apresentar as licenças necessárias no prazo de 90 dias. E esclareceu as condicionantes. Uma delas, a de retirar as mesas de uma quase calçada, em um espaço de cerca de dois metros onde não passa carro e que culmina com o comércio de ambulantes no Centro da Cidade.

Nesse pequeno espaço os clientes de Neide almoçavam e ajudavam na receita da comerciante do bar mais tradicional do Beco da Lama, o antigo Bar de Nazi. “É injusto cobrarem as mesmas licenças de restaurantes como o Guinza. A característica dos bares do Beco da Lama é outra. É preciso levar em consideração o lado boêmio e a tradição em um local já tombado pelo patrimônio histórico”, argumentou Veni.

Neste momento, a denúncia de moradores do Beco entregue na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (Deprema) contra a poluição sonora no local, está em análise. No outro processo, de licenciamento do Bar, Neide já conseguiu o alvará e tem dado entrada nos outros documentos requeridos pela Semurb. A informação do órgão municipal é de que outros bares passam pela mesma situação.

Bar de Nazaré toma precauções
Dos bares mais frequentados do Beco da Lama, o Bar de Nazaré já toma providências para evitar o mesmo destino do Bar da Meladinha. Segundo Paulo Eduardo, filho da “dama do Beco”, Nazaré, o bar ficará fechado entre 12 e 22 de setembro para reforma. “Fui à Semurb e constatei pendências de documentação e já dei entrada em tudo, como alvará e outros. Como eu compareci lá, eles suspenderam a ação”.

Há quase um ano o Bar de Nazaré foi proibido de colocar mesas na calçada – uma prática de quase 20 anos. “Nunca atrapalhamos o trânsito. Mesmo os carros largos dos deputados passavam por aqui tranquilamente. E mesmo eles nunca reclamaram”. Segundo Paulo Eduardo, antigos gestores e políticos sempre souberam da situação de funcionamento do bar e conheciam a estrutura porque frequentavam.

“Faziam vista grossa porque sabiam da dificuldade dos comerciantes daqui. O próprio Carlos Eduardo (ex-prefeito) e alguns dos seus assessores frequentavam o bar. No primeiro festival gastronômico realizado aqui, o Sebrae tomou conhecimento da situação. Mas nunca exigiu nada. Agora, quem nunca frequentou é quem exige tudo”, lamenta Paulo Eduardo.

“A solução é o bom senso”
Delegada da Deprema, Josenilda Oliveira vê pouca possibilidade de aprovação da licença ambiental para shows no Bar da Meladinha. “Recebemos um abaixo-assinado de moradores próximos (não soube informar quantos) contra a perturbação do sossêgo por causa da poluição sonora, além de reclamação de urina nas calçadas, palavras de baixo calão, uso de drogas e interdição da via pública, com impossibilidade da passagem do carro do lixo”.

Josenilda Oliveira acredita que a única solução para a volta dos shows regulares no Beco é o consenso. “O produtor e a proprietária do bar reunirem moradores e entrarem em um consenso, porque há provas testemunhais do caso, e a Justiça vai analisar e constatar a perturbação do sossêgo”. A delegada ressaltou que a denúncia entregue na Deprema representa vários moradores. “É recomendação do Ministério Público esse baixo-assinado para não configurar mera briga de vizinhos”, concluiu.

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