Grandes nomes para grandes obras

O texto abaixo, de O Poti de hoje, trata sobre os possíveis nomes a serem dados às grandes obras relacionadas à Copa 2014 em Natal.
Em particular, registro desde então minha discordância do nome de Clara Camarão para o aeroporto, segundo proposta de Diogenes da Cunha Lima, em virtude de a ex-esposa de Felipe Camarão (o índio Poty) já batizar a refinaria da Petrobras em Guamaré.
Discordo também que Juvenal Lamartine receba qualquer outra homenagem, como propõe Iaperi Araújo.  Seria como voltar a chamar o Machadão de general Humberto de Alencar Castelo Branco.  O nome do Machadão foi trocado de um general-presidente por um esportista perseguido político.  Lamartine mandava matar os adversários na Barreira do Inferno.  Infeliz ideia homenageá-lo com alguma dessas obras.
Discordo, também, que o deputado Henrique Alves (PMDB) já tenha tentado se apossar do aeroporto atribuindo, em peças publicitárias que foram publicadas quando do leilão na IBFMBovespa, o nome de seu pai, ex-ministro Aluísio Alves.  Além de não ser oportuno o filho sugerir o nome do pai para o aeroporto, se fosse para ser um político que fosse Djalma Maranhão, apeado do poder no Golpe de 64, e não Aluísio, governador que apoiou a derrubada de João Goulart pelos militares - e, portanto, beneficiário na primeira hora da Ditadura.  Lembremos que somente a disputada com o grupo de Tarcísio Maia, na Arena, anos depois, é que levou os Alves a serem cassados e a migrarem para o MDB.


A reportagem de O Poti é extensa.


Dois dos maiores empreendimentos já construídos no Rio Grande do Norte deverão ser erguidos nos próximos anos: o aeroporto internacional, localizado em São Gonçalo do Amarante, substituindo o atual Augusto Severo, em Parnamirim, e Arena das Dunas, no bairro de Lagoa Nova. E, além da disputa pelo consórcio responsável pela construção, outra briga já ocorre nos bastidores das obras: o batismo de cada empreendimento. Quem serão as figuras ilustres homenageadas com o nome de dois dos maiores complexos arquitetônicos do Estado? Sugestões já correm soltas em reuniões. E a exemplo da chamada Ponte de Todos Newton Navarro - mais conhecida pela alcunha de Ponte Nova ou Ponte Forte/Redinha - a sugestão aceita pode partir da Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANL).



Foto:Carlos Santos/DN/D.A Press
Os imortais da ANL estarão reunidos nesta terça-feira, 6, para discutirem o assunto. O presidente da Academia, o poeta e advogado Diógenes da Cunha Lima - de forte influência perante os acadêmicos - defenderá dois nomes. Para o aeroporto, a homenagem à índia potiguar nascida em Igapó, Clara Camarão, uma das precursoras do feminismo no Brasil. Clara se afastou dos afazeres domésticos para lutar contra os holandeses. "Colocaram o nome dela em uma pequena refinaria (situada no pólo industrial de Guamaré, inaugurada em 2009) de pouca notoriedade nacional. No aeroporto, o nome desta fantástica heróina indígena receberá a homenagem merecida e terá sua história mais conhecida pelo povo brasileiro", comenta o poeta. 

Da sugestão do marido de Clara Filipa Camarão, Antônio Felipe Camarão (o índio Poty), Diógenes da Cunha Lima brinca: "Pode ser, também. Mas a mulher está mais em voga". Mas é quem o médico, artista plástico e também immortal, Iaperi Araújo, eleito recentemente presidente do Conselho Estadual de Cultura, irá defender. "Pensei em Felipe Camarão pela comemoração do quarto centenário de nascimento dele. Diógenes quer incutir em Clara Camarão sentimentos que acho que ela não teve: tristeza, ciúme do marido ter recebido condecorações...". Diógenes contra-argumenta: "Felipe Camarão recebeu todos os títulos em vida, inclusive o de Dom. Clara sofreu os diabos e voltou triste, viúva, para morrer em Igapó, sem nenhum reconhecimento". 

Outras sugestões
Outros dois nomes serão postos em pauta por Iaperi: Câmara Cascudo - "É nosso nome mais conhecido", diz - e o do ex-governador Juvenal Lamartine. "Em apenas dois anos de governo, Juvenal Lamartine construiu dezenas de campos de pouso, estimulou a aviação, trouxe os primeiros cursos de aviadores pra cá", justifica. Iaperi Araújo acredita que um desse quatro nomes - Clara Camarão, Felipe Camarão, Juvenal Lamartine ou Câmara Cascudo - será o nome de batismo do novo aeroporto. "Há grandes chances. Entregaremos um memorando com assinatura da ANL, do Instituto Histórico e Geográfico, e do Conselho Estadual de Cultura. Há um peso institucional. E normalmente a governadora acata a sugestão e encaminha a mensagem à Assembleia Legislativa para votação". 


O que será do aviador Augusto Severo?


O princípio básico trabalhado pela ANL na escolha dos nomes, segundo o próprio presidente, é "nome novo para coisa nova". Pela premissa, nomes antigos, a exemplo do Aeroporto Augusto Severo, em Parnamirim, devem permanecer. Mesmo se a hipótese de o aeroporto ser desativado ou cedido aos comandos da Base Aérea, Diógenes da Cunha Lima defende a permanência do nome. "Meu medo é que modifiquem o nome de Augusto Severo, um homem estreitamente ligado à aviação e à história do Rio Grande do Norte, por um Salgado Filho, por exemplo, que dá nome à principal avenida de acesso ao aeroporto: um político gaúcho sem qualquer vínculo com a cidade", argumentou.

A intenção da homenagem, via de regra, cede espaço aos nomes populares ou siglas diminutivas. Os exemplos são muitos: o Ginásio Humberto Nesi (conhecido como Machadinho), Estádio João Machado (Machadão), Praça Pedro Velho (Praça Cívica), Palácio Felipe Camarão (Prefeitura de Natal), Teatro de Cultura Popular Chico Daniel (TCP), Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão(conhecido apenas como Museu de Cultura Popular), ou os números das avenidas do Alecrim. "Isso já foi ideia dos norte-americanos quando estiveram aqui no período da 2ª Guerra. Praticamente trocaram o nome dos presidentes, pela numeração: Avenida 1, avenida 2# E até há coerência porque eles também fizeram assim em Nova Iorque", lembrou o presidente da ANL. 



Uma estátua para o índio Poty à altura de sua importância


Se não receber o nome do aeroporto, Felipe Camarão pode ser homenageado com uma estátua gigante. A ideia foi sugerida durante uma mesa redonda formada na Potylivros do Praia Shopping, há duas semanas. A data celebrava a morte do índio potiguar, cogitado para ser herói nacional, inscrito no Livro da Pátria.A sugestão partiu do general da 7ª Brigada de Infantaria Motorizada Felipe Camarão (jurisdição RN e PB), Fernando Maurício Duarte de Melo. Na mesa estavam o vereador Franklin Capistrano, o deputado estadual Hermano Morais e representante da Fundação Rampa (que se propôs a realizar um documentário sobre Felipe Camarão).

A estátua seria construída nos moldes da erguida no município de Santa Cruz, em homenagem a Santa Rita de Cássia, - a maior estátua religiosa do Brasil. A ideia será levada à deputada federal Fátima Bezerra e ao senador Paulo Davim, no intuito de angariar recursos à obra, ainda para a Copa de 2014. O local seria a rótula situada na Av. Tomaz Landin, próximo ao Nordestão e à entrada de São Gonçalo do Amarante, no caminho para o novo aeroporto. O local da estátua também faria ligação com a ideia dos mártires. Poty é tido como vingador dos massacres. Depois do massacre de Cunhau, ele voltou ao local e dizimou os holandeses e índios revoltos.

Segundo o pesquisador Aucides Sales, que tem levado essa proposta adiante, a estátua seria baseada no retrato feito depois da rendição da tropa holandesa, em 1654, considerado o mais fiel.

Reconhecimento
À época, João Fernandes Vieira, depois capitão-mor da Paraíba, encomendou dois paineis a um pintor não revelado, sobre a primeira e segunda batalha dos Guararapes, onde Felipe Camarão foi o maior estrategista e responsável pela derrota e consequente rendição holandesa. Os paineis foram pintados em madeira e hoje estão no teto do couro da Igreja da Nossa Senhora da Conceição dos Militares, no Monte dos Guararapes, em Jaboatão, Pernambuco. Em um mesmo painel há duas imagens de Felipe Camarão, de corpo inteiro e em plano aberto. 



Homenagem ao homem da bola


O nome defendido por Diógenes da Cunha Lima para batizar a Arena das Dunas é o de Fernando Gomes Pedroza: o primeiro a trazer uma bola de futebol para Natal. O empresário mudou a história econômica do Rio Grande do Norte no comércio de algodão, no início do século passado. Foi educado em Liverpool, na Inglaterra, de onde provavelmente trouxe a bola de futebol para Natal. "Há outros nomes fantásticos que merecem essa homenagem. Vamos discutir". A opinião de Iaperi Araújo é quase neutra: "Defenderei a manutenção do nome de Arena das Dunas. Acho bonito. Arena lembra coliseu de Roma, e Dunas tem tudo a ver com a cidade".

As chances de a ANL emplacar os nomes é realmente considerável. Além da Ponte Newton Navarro, a instituição foi responsável pela manutenção do nome dos atuais municípios de Parnamirim, Passa e Fica, Barra de Maxaranguape, Monte das Gameleiras, entre outros, além de prédios como o Palácio Potengi, rebatizado pelo então governador Aluízio Alves, de Palácio da Esperança. "Eu mesmo escrevi o decreto,no governo de Cortez Pereira, trazendo o nome de volta", se orgulha Diógenes da Cunha Lima. "Depois quiseram chamar de Palácio da Cultura. Mas pode ver que na própria Secretaria (Extraordinária) de Cultura eles chamam de Potengi, porque assim deve ser. Nome é identificação, coerência. Não pode ser dado à revelia". 


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