Israel perde oportunidades

Por Claudia Antunes
Na Folha de São Paulo


Dez anos depois do 11 de Setembro, parece claro que os governantes de Israel acreditaram tempo demais no "novo Oriente Médio" prometido pelos estrategistas do americano George W. Bush (2001-09).
Segundo estes, a questão nacional palestina passara a ser parte da "guerra de civilizações". Seria resolvida quando, depois da invasão do Iraque, os aiatolás no Irã fossem derrubados, levando com eles o Hamas palestino e o Hizbollah libanês. O Oriente Médio mudou, mas não desse jeito.

A Turquia, livre do poder dos generais, esnobada pela União Europeia e ambicionando a liderança regional, deixou de compartilhar os interesses israelenses.
O egípcio Hosni Mubarak, aliado distante mas dócil, não pôde fazer com que o fantasma do radicalismo islâmico evitasse sua queda. Os líderes palestinos ditos moderados, temendo o mesmo destino, interromperam a negociação patrocinada pelos EUA e que vinha funcionando como cortina de fumaça para a ocupação contínua da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental.
Os israelenses dizem que os palestinos não perdem a chance de perder oportunidades, sendo a última delas o acordo oferecido por eles no final de 2000.
Mas, na última década, foi Israel que deixou passar oportunidades de melhorar relações com vizinhos quase sempre hostis. A primeira foi a Iniciativa de Paz de 2002 da Liga Árabe, que oferecia reconhecimento diplomático em troca da devolução dos territórios ocupados.
Pela primeira vez, admitia um "acordo" sobre o direito de retorno dos refugiados palestinos. A proposta foi reapresentada até 2007, sem resposta oficial israelense.
Quando Barack Obama foi eleito, Israel optou por esvaziar a possibilidade de que o Hamas fosse reconhecido como interlocutor, atacando Gaza na virada de 2009.
A guerra selou o esfriamento com os dirigentes turcos do partido islâmico AK, até então mediadores entre sírios e israelenses. Depois, Israel se articulou com aliados nos EUA para vetar retaliações à sua recusa em congelar construções ilegais. Inviabilizou a mediação do enviado especial de Obama, George Mitchell, que desistiu da empreitada.
Agora, EUA e Israel tentam impedir que a Assembleia Geral da ONU reconheça o Estado palestino, medida de efeito mais simbólico do que prático.
É outra atitude que pode ser um tiro no pé porque, como lembra Akiva Eldar, do jornal de esquerda israelense "Haaretz", cada vez menos palestinos creem que a solução de dois Estados ainda seja possível. "Os que não querem dar conta da ocupação hoje, a ocupação dará conta deles amanhã", diz.

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