Líbia: Mais uma semana para rendição das tropas de Gaddafi

Do UOL



Os líderes do Conselho Nacional de Transição (CNT), o órgão político dos rebeldes líbios, aumentaram em uma semana o prazo para a rendição dos gaddafistas, em sua maioria instalados na cidade natal de Muammar Gaddafi. O anúncio chega horas depois de o ditador ter declarado o local, Sirte, como a nova capital da Líbia.

No início da semana os insurgentes haviam declarado um ultimato ordenando que as forças e tribos ainda leais a Gaddafi se rendessem até sábado (3).
Um oficial das forças rebeldes, que se identificou como Hamza, disse que ele e seus soldados receberam instruções de um conselheiro do presidente do CNT, Mustafa Abdel Jalil, para prorrogar o ultimato dado aos partidários de Gaddafi em Sirte, situada a 370 quilômetros a leste da capital Trípoli. As cidades de Beni Walid e Sabha também pertencem ao grupo de locais de refúgio dos gaddafistas.
Ahmed Jadallah-8.mar.2011/Reuters
O ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, chega a hotel em Trípoli onde jornalistas estão hospedados
O ditador da Líbia, Muammar Gaddafi, chega a hotel em Trípoli onde jornalistas estão hospedados
Após a queda de Trípoli, muitos partidários do ditador foram para Sirte, que se transformou no local mais importante em poder das forças leais ao ditador.
O chefe de Justiça do comitê local do CNT em Benghazi, Jamal Benhur, disse que os revolucionários continuaram em negociações com as tropas pró-Kadafi para uma rendição de Sirte.
Ele também negou as afirmações de um dos filhos de Gaddafi, Saif al Islam, de que ontem as forças de seu pai nessa cidade dispunham de 20 mil combatentes.
"Não podemos aceitar o que Saif al Islam disse", afirmou Benhur, que estimou que na cidade natal do foragido líder não há mais de 2.000 homens armados.
"É preciso lembrar que na grande batalha de Brega as forças de Gaddafi contaram com 3.000 membros, não é possível que haja 20 mil em Sirte", acrescentou.


Gaddafi declara nova capital
Mais cedo, numa nova mensagem de áudio transmitida na TV, Gaddafi voltou a atacar os rebeldes e pedir que seus partidários resistam, e declarou Sirte a nova capital do país.
Gaddafi, que está foragido, disse que existem divergências entre os rebeldes e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), em áudio transmitido na televisão por satélite Al Rai, com sede na Síria.
"Mesmo que não ouçam minha voz, continuem com a resistência", declarou Gaddafi. "Existem divergências entre a Aliança da Agressão [Otan] e seus agentes [os rebeldes]", enfatizou.
"Vamos lutar em todas as ruas, em todas as vilas, em todas as cidades", disse. "Isso vai acabar um dia. E vamos sair vitoriosos. Eles não têm força para continuar lutando".
"Será uma longa batalha. Lutaremos de local em local, cidade em cidade, vale em vale, montanha em montanha. "Se a Líbia pegar fogo, quem irá governá-la?" questionou o ditador.
Gaddafi ainda fez uma ameaça aos rebeldes. "Vocês não conseguirão extrair petróleo, pelo bem de nosso povo. Não permitiremos que isso aconteça. Estejam prontos para uma guerra contras gangues".
Gaddafi acrescentou que as forças "colonialistas" estão muito fracas e têm medo de deixar que ele e seus apoiadores tenham voz. "Eles tentam esconder a realidade, sem deixar nossa voz ser ouvida. Estão tentando esconder sua fraqueza", afirmou. "Deixe-me falar com meu povo, se nao tem medo de mim".


Conferência de Paris
As afirmações de Gaddafi chegaram horas antes das declarações finais de uma conferência internacional sobre a Líbia em Paris. Falando ao lado de outros líderes mundiais, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, anunciou um "pedido unânime para desbloquear os bens líbios" de US$ 15 bilhões e disse que as operações da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) "continuarão enquanto [o ditador Muammar] Gadafi representar uma ameaça".
"Decidimos entrar com pedido unânime para desbloquear os bens líbios, os fundos de [Muammar] Gadafi e seus aliados devem retornar aos líbios", disse Sarkozy durante coletiva.
Philippe Wojazer/Reuters
Delegação posa durante conferência em Paris; países defendem desbloqueio de US$ 15 bilhões da Líbia
Delegação posa durante conferência em Paris; países defendem desbloqueio de US$ 15 bilhões da Líbia
Ele afirmou ainda que a intervenção da Otan e seus aliados "salvou milhares de vidas" e que todos os países europeus presentes estão dispostos a reabrir suas embaixadas em Trípoli após a transição de poder no país. O líder francês disse também que o Conselho Nacional de Transição (CNT) deve iniciar um processo de "reconciliação e perdão" na Líbia.
Além dos membros da Otan e seus aliados, a reunião em Paris contou com a participação de 63 países, entre eles o Brasil.
Ele é tido como um dos principais articuladores da coalizão que implementou as resoluções 1970 e 1973 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que visavam a criação de uma zona de exclusão aérea em defesa dos civis. Tais ataques aéreos continuarão enquanto forem necessários para proteger o povo líbio, acrescentou.
Sarkozy agradeceu especialmente aos três países árabes que ajudaram na operação: Qatar, Jordânia e Emirados Árabes Unidos.
Ian Langsdon/Efe
Sarkozy ao lado da secretária de Estado americana, Hillary Clinton
Sarkozy ao lado da secretária de Estado americana, Hillary Clinton
"Desde o primeiro dia eles estiveram do nosso lado. Não teríamos entrado na Líbia sem as resoluções da ONU, e sem a presença dos países árabes", afirmou.
O primeiro-ministro britânico disse ainda que Sarkozy foi estratégico em reunir nações de "leste, oeste, norte e sul, muçulmanas e cristãs", com o mesmo objetivo, de libertar a Líbia dos horrores de Gaddafi.
O francês disse que a União Europeia tem em mente que o Mediterrâneo é parte de suas fronteiras e que cabe aos europeus protegê-lo. "A Otan deu um passo adiante nessa operação, em comparação com a Bósnia, por exemplo [quando a aliança foi criticada por demorar para intervir na guerra civil, nos anos 90]".
Mahmoud Jibril, líder do CNT, disse que o "povo líbio mostrou que conseguiu atingir sua luta pela liberdade" e que seu compromisso com a população agora é de criar um novo país, guiado pelos valores da tolerância, do perdão e da lei.
Também nesta quinta-feira, o CNT estendeu em uma semana o prazo de rendição da cidade de Sirte, o último bastião de apoio ao ditador Muammar Gaddafi. O prazo anterior era sábado, dia 3 de setembro. Os rebeldes afirmam que irão atacar a cidade se os gaddafistas não se renderem.


Decisão divide opinões
Nas ruas de Benghazi, capital da revolução líbia, nem todo mundo opina da mesma forma sobre a ampliação do prazo.
Para o empresário Awaz Hassan, de 42 anos, "90% dos moradores de Benghazi desejam que Sirte, Sabha e Ben Walid optem por uma solução pacífica".
Mesmo assim, ele se mostrou pessimista sobre o desfecho do conflito nessas cidades porque "é impossível tendo um louco como Kadafi, que sempre preferiu combater seu próprio povo".
O advogado Ibrahim Harun, de 27 anos, não deseja de nenhuma maneira que haja uma solução negociada em Sirte. Ele afirmou ter sofrido torturas de soldados pró-Gaddafi durante os quatro meses que esteve detido em Misrata sob acusação de colaborar com os rebeldes.
Harun lembrou as descargas elétricas e os golpes que recebeu durante o período em que esteve preso antes de ser libertado pelos rebeldes no dia 21 de agosto.
"Me recuso a aceitar qualquer tipo de negociação. Gaddafi é um criminoso e entraremos em Sirte", ressaltou.

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