Após me recuperar do fato de ser abecedista (e perceber que ainda tenho tempo de impedir que Alice, minha filha, cometa semelhante sandice hereditária - afinal são dois avós, os pais, tios são abecedistas), posso voltar a falar sobre o silêncio cúmplice da imprensa potiguar sobre vários referidos na Operação Pecado Capital.
Meus poucos leitores têm me visto questionar se ninguém vai perguntar aos vários personagens citados nas gravações e na petição do Ministério Público - que não apareceram ainda não denúncia - algumas questões incômodas sobre suas relações com Rychardson Macedo.
Mesmo que a imprensa silencie sobre os desembargadores que aparecem nas gravações (Expedito Ferreira e Saraiva Sobrinho), sobre os deputados estaduais (Gilson Moura, Fábio Dantas e Dibson Nasser) e até sobre o deputado federal Paulo Wagner (PV), que recebeu de Rychardson mais de 30 mil reais de doação para a eleição ano passado, alivia saber que meus leitores e o próprio ministério público está atento a essas questões. Além disso, tranquiliza-me, sobre a possibilidade de tudo terminar numa pizza da Piazzale, saber que o caso já despertou atenção de uma parcela da imprensa nacional.
Quem sabe a imprensa nacional não faça as perguntas que Alex Medeiros não fez a Saraiva Sobrinho quando teve a oportunidade.
Corrupção não pode ser julgada sob viés ideológico - ainda que a análise de suas raízes varie a partir de uma perspectiva político-ideológica. Corrupção é corrupção. Não pode ter menor interesse público um assunto que, ideologicamente, não seja interessante para mim. Como também não é menos séria uma questão porque atinge amigos ou companheiros.
O entorno da Operação Pecado Capital não ser referido na mídia só atenta contra a própria mídia. Mostra que há razões impublicáveis para que as atenções não sejam divididas com outros que estão implicados e envolvidos - o silêncio é tanto maior quanto mais poderoso é o nome envolvido.
O certo é que se tivesse a chance perguntaria a Saraiva Sobrinho sobre a relação de sua filha com o Ipem e sobre a sua atuação em ação que tinha Rychardson como advogado; perguntaria a Expedito sobre quem era a pessoa dele que estava no Ipem e se era fantasma; perguntaria a Expedito também sobre o seu filho, Érico, diretor do Detran, para onde a quadrilha de Rychardson estava de mudança; perguntaria os deputados sobre seu envolvimento, especialmente Dibson sobre quem Rychardson disse que atuou para modificar depoimento de uma testemunha. Enfim, são muitas questões que merecem ao menos serem elaboradas.
Quando quem recusa à opinião pública a reflexão e o questionamento para se justificar parte para o ataque, me parece uma forma de assumir sua culpa e sua responsabilidade. Foi o que fez Alex Medeiros em sua coluna no Jornal de Hoje desta terça-feira (20), reproduzida logo acima.
A questão é grave e séria - especialmente por se tratar de alguém que do alto de seu moralismo exacerbado ataca os de esquerda como esquerdopatas e os petistas de petralhas. É séria porque estamos falando de uma investigação sobre o desvio de pelo menos R$ 12 milhões na qual surgiram o nome de dois desembargadores, três deputados estaduais, um vereador e um deputado federal. Em qualquer lugar do mundo, somente essas suspeitas estariam nas primeiras páginas de todos os jornais. Somente aqui isso é reduzido a "debates inúteis", que não sensibilizam as redações.
Lutar contra a corrupção - quando os acusados estão à esquerda - é útil. Quando os suspeitos são os companheiros poderosos de café tudo se converte em "onanismo ideológico-virtual".
Se Thaísa nos tenta convencer que Gilson teve Rychardson como servidor de seu gabinete entre julho e dezembro de 2010, mas estava de relações rompidas com ele, Alex tenta nos fazer crer que é questão de menor importância tantos nomes poderosos aparecem nas gravações das interceptações telefônicas da Operação Pecado Capital.
Jabuti não sobe em árvore, lembrem-se disso.
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