Para jornalista especialista na questão palestina, acordo de Oslo está morto

Por Ben White*, na Al Jazeera
No Vi o Mundo

Esta semana deveria marcar o fim do assim-chamado processo de paz — e da “solução de dois estados”. O que quer que aconteça nas Nações Unidas, o jogo terminou e a transição para algo completamente diferente está em andamento.
Este mês marca 18 anos desde a assinatura dos tratados de Oslo e da declaração do lado palestino de que reconhecia o direito de Israel de existir. Em retorno, Israel reconheceu a legitimidade da Organização para a Libertação da Palestina [OLP] para representar os palestinos. Aquela foi a troca e esta assimetria moldou o “processo de paz” desde então.
Outro aniversário — este ano marca os 20 anos da Conferência de Madrid que deu origem a Oslo. Duas décadas de negociações e”autonomia temporária”; duas décadas de colonização israelense, construção de muros, e criação de situações de fato. Mas para melhor entender porque isto é, como diz Ali Abunimah, o funeral da solução de dois estados, relembre uma frase curta usada pelo primeiro-ministro israelense Netanyahu na semana passada, que ecoou palavras do ex-primeiro ministro Yitzhak Rabin.
Discutindo a iniciativa palestina das Nações Unidas, Netanyahu disse: “Enquanto for menos que um estado, estou pronto para falar sobre isso”. Aí está o resumo de décadas de negociações e “compromissos” de Israel.
Voltando a 1995, apenas um mês antes de seu assassinato, o então primeiro ministro Rabin disse ao Knesset [Parlamento de Israel] que “gostaríamos que isso fosse uma entidade que é menos que um estado”. Rabin, canonizado pelos pregadores da “coexistência”, em seguida definiu o que entendia como “solução permanente”: Jerusalem como capital de Israel e o “o estabelecimento de blocos de assentamentos na Judéia e Samaria”.
Então, como aconteceu com os surpreendentemente convertidos à causa (Sharon, Olmert, etc.) que viriam depois dele, a conversa de Rabin sobre um “estado” palestino foi moldada por uma motivação principal: o desejo de preservar um “estado judeu” e evitar um “estado binacional”.
Assim, enquanto muitos no Ocidente consideravam o processo de paz como sendo sobre geografia, na verdade para Israel sempre foi sobre demografia. O máximo de terra, o mínimo de árabes — e através de seus parceiros da Autoridade Palestina, “máximo de poder, mínimo de responsabilidade”.
Recentemente, um debate aconteceu em Londres sobre o estado palestino com a presença de proeminentes comentaristas e diplomatas israelenses. O consenso foi de que a “demografia” tornava a solução de dois estados imperativa para salvar Israel como um estado judeu. Como um convidado regular da Fox News, Alon Pinkas, resumidamente colocou: “Nossa pátria tem muitos árabes, por azar”.
David Landau, ex-jornalista do Ha’aretz e agora na The Economist, era o mais preocupado de todos. Deveríamos estar comemorando, ele disse, que os palestinos sob Mahmoud Abbas ainda querem uma solução de dois estados e não estão pedindo “uma pessoa, um voto”.
Até certo ponto, ele está certo; não é a atual liderança palestina que vai redesenhar a luta. Mas a hora disso acontecer está chegando. Enquanto os palestinos e seus apoiadores crescentemente e inteligentemente colocam “direitos” no centro de suas campanhas, em breve o reconhecimento de que judeus e palestinos precisam compartilhar um país como iguais vai significar que os únicos que vão sobrar falando sobre um estado palestino serão aqueles que tentam preservar um regime de exclusividade etno-religiosa judaica.
*Ben White é jornalista freelance e escritor, especializado em Palestina e Israel. Seu primeiro livro, “O apartheid de Israel: Guia para iniciantes”, foi publicado pela Pluto Press em 2009, recebendo elogios, entre outros, de Desmond Tutu, Nur Masalha e Ghada Karmi.
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Tradução: Luiz Carlos Azenha

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