Que
Muammar Gaddafi, fiel ao figurino dos ditadores, mandava torturarem
opositores a torto e a direito, qualquer pessoa medianamente informada
sabe. O déspota esclarecido dos relatos de certa esquerda é conto de
carochinha comparável a O Patinho Feio.
E havia outra afinidade com as
ditaduras latino-americanas: os adversários do regime eram sequestrados
em outros países, por outros governos, e entregues numa bandeja aos
Brilhantes Ustras líbios. Ou seja, montaram também lá uma espécie de
Operação Condor.
E quem fazia o serviço imundo?
Os EUA e a Grã Bretanha. Nem mais, nem menos.
No quartel-general do
ex-ministro do Exterior e comandante do serviço de inteligência de
Gaddafi, o Human Rights Watch encontrou provas do envolvimento da CIA e
o MI6 britânico na captura e extradição ilegal de líbios contrários a
Gaddafi. Devolvidos ao seu país, foram, claro, torturados e atirados
nas masmorras.
Quem não usa antolhos percebe,
cada vez mais, que as grandes nações ocidentais se davam muito bem com
Gaddafi e só transferiram seu apoio aos rebeldes por terem percebido
que o regime caía de podre.
Sabendo que -- mesmo que
sobrevivesse à revolta de 2011 -- a derrubada do tirano execrado por
seu povo seria mera questão de tempo, apostaram nos poderosos futuros:
compondo-se com os rebeldes, devem ter garantido a continuidade, por
mais algumas décadas, dos bons negócios que realizavam com Gaddafi.
Afinal, como dizem os gangstêres dos filmes de Hollywood, não é pessoal, são só negócios...
Resta
saber se o papel infame desempenhado pelo Ocidente no passado será
esquecido com tanta facilidade por revoltosos como Abdul Hakim Belhaj.
Comandante das forças rebeldes
que derrotaram Gaddafi em Trípoli, ele estava refugiado na Malásia em
2004, quando foi detido durante visita à Tailândia e entregue
ilegalmente para a CIA, que o repassou aos torturadores líbios. Tudo
isto com a conivência do Reino Unido.
Os canalhas infames de ontem são os aliados de hoje. Belhaj sabe muito bem o que eles realmente valem: nada.
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