Por Luís Nassif
No Blog do Nassif
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Tinha menos de dois anos de formado o jovem
repórter que tentou invadir o apartamento de José Dirceu no Hotel
Nahoum. Pelo que soube em Brasília, voltou para a casa da mãe.
Não sei a idade do repórter da Folha que iludiu
a confiança do tio, no caso Battisti. Mas foi exposto de forma fatal
pelo próprio tio, em um artigo demolidor. E inspirou um artigo da
ombudsman do jornal, no qual afirmava que era ingenuidade confiar em
jornalistas. Tornou-se exemplo de como não se deve confiar em
jornalistas. Dificilmente conseguirá fontes dispostas a lhe passar
informações relevantes.
A campanha eleitoral do ano passado expôs outros
jovens jornalistas, alguns com belo potencial, mas que tiveram a imagem
afetada no alvorecer de suas carreiras, por conta de métodos
inescrupulosos empregados em suas reportagens.
Culpa deles? Apenas em parte. Esse clima
irracional foi fomentado por chefias que não se pejaram em jogar os
repórteres aos lobos.
Processo semelhante ocorreu
na campanha do impeachment, mas com resultados inversos. Uma enorme
quantidade de mentiras divulgada, aceita pelos editores e pelos
leitores sob o álibi de que valia qualquer coisa contra Collor. Foi um
período vergonhoso para a mídia, no qual os escândalos reais não eram
apurados, mas divulgava-se uma enxurrada de mentiras que não resistiam
a um mero teste de verossimilhança. Dizia-se que Collor injetava
cocaína por supositório, que ficava em estado catatônico e precisava
ser penetrado por trás por um assessor, que fazia macumba nos porões do
Alvorada.
Os que mais mentiram se consagraram, ganharam
posições de destaque em seus veículos. Premiou-se a mentira e a falta
de jornalismo, porque os escândalos reais demoravam mais para serem
apurados e nem de longe de aproximavam do glamour da notícia inventada.
Processo similar ocorreu durante e após a
campanha do mensalão. Surgiu uma nova geração de repórteres sem
limites, hoje em dia utilizados pelas chefias para atingir adversários
através da escandalização de fatos normais.
Agora, em plena era da Internet, ocorre o
inverso. Esses jovens ambicionam a manchete, a aprovação das chefias, o
curto prazo. Mas o registro de seus malfeitos estará indelevelmente
registrado na Internet. A médio prazo, será veneno na veia para suas
carreiras.
Pior, está-se criando uma geração de jornalistas
para quem o jornalismo virou um vale-tudo: vale mentir, inventar,
enganar, espionar, supor sem comprovar.
A reação de Caco Barcelos na Globonews nada teve
de política ou ideológica - no programa sobre a tal Marcha Contra a
Corrupção, depois editado para tirar suas afirmações mais impactantes
contra o mau jornalismo. Ao denunciar esse jornalismo declaratório,
simplesmente fazia uma defesa do jornalismo que aprendeu a praticar, de
respeito aos fatos, de apuração das denúncias, de cautela nas acusações.
Em muitos outros jornais há uma geração de
jornalistas mais velhos formados sob esses princípios, mas que a falta
de opções obriga a se calar ante tais abusos. Há igualmente uma jovem
geração saindo do forno das faculdades que entendeu a diferença entre
os princípios jornalísticos e esse arremedo que a era Murdoch lançou
sobre a mídia mundial - especialmente sobre a brasileira.
No final dos anos 80, quando a mídia brasileira
abraçou o jornalismo sensacionalista, considerava-se ter entrado em
linha com os grandes veículos globais - para quem a notícia é
espetáculo, não serviço público.
Nos últimos anos, Roberto Civita importou de
forma chocante o padrão Murdoch para a mídia brasileira - rapidamente
imitada por outros jornais carentes de personalidade jornalística
própria. A cada dia que passa, esse estilo - ainda que influenciando
setores mais desinformados - parece cada vez mais velho e anacrônico.
Muitos dizem que o problema da velha mídia é não
saber como se colocar nas novas tecnologias. Penso que é outro: é ter
desaprendido as lições do velho jornalismo legitimador.
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