EUA admitem dúvidas sobre plano do Irã





Na Folha de São Paulo


As próprias autoridades americanas e sauditas reconhecem que ainda há "lacunas" e "hiatos de informação" na acusação feita contra o Irã de conspirar para assassinar o embaixador da Arábia Saudita em Washington, disse à Folha o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota.
Patriota se baseia numa conversa telefônica que teve com o embaixador Adel al Jubeir, suposto alvo da conspiração, e na apresentação do caso feita anteontem pelos embaixadores dos EUA e da Arábia Saudita aos integrantes do Conselho de Segurança da ONU (o Brasil é atual membro não permanente).
O discurso oficial dos governos americano e saudita, até aqui, é outro, no entanto: o de responsabilizar diretamente as autoridades iranianas pelo plano, que foi denunciado na última terça-feira pelos EUA.
Os americanos dizem ter provas, mas não as apresentaram ainda. Segundo o governo americano, um iraniano com cidadania americana admitiu ter contratado o cartel mexicano Zetas para matar Jubeir. Outro iraniano implicado, membro de grupo de elite da Guarda Revolucionária do país, está foragido.

Lacunas
Também anteontem, o embaixador americano em Brasília, Thomas Shannon, esteve com o secretário-geral do Itamaraty, Ruy Nogueira, para entregar um documento e explicar a acusação. 
Segundo Patriota, não foi apontada nenhuma intenção da suposta rede criminosa de agir em território nacional: "No Brasil não houve nenhuma informação de que diplomatas aqui seriam visados". Há informação não confirmada de que a Argentina também seria alvo de ataques.
Patriota disse que ligou para o embaixador saudita porque o conhece bem da época em que chefiou a missão brasileira em Washington. "Ele diz que tem muitas perguntas não bem respondidas e lacunas. Não é que esteja cético. Disse que existem elementos preocupantes, mas que, assim como existem evidências de que estavam planejando um atentado, não é claro qual é a lógica do comportamento [dos supostos integrantes do complô] e também em que nível ele foi planejado, que conhecimento as autoridades iranianas teriam etc.", afirmou Patriota.
O chanceler disse que os EUA estão examinando a hipótese de sanções do Conselho de Segurança contra os acusados de envolvimento na conspiração, com base em violação da Convenção para a Prevenção e Punição de Crimes contra Pessoas Protegidas Internacionalmente, incluindo agentes diplomáticos, mais conhecida como Convenção de Proteção aos Diplomatas.
A embaixadora americana na ONU, Susan Rice, não chegou, no entanto, a apresentar um projeto de resolução. "Fizeram uma apresentação da situação no Conselho de Segurança e eles próprios reconhecem que existem ainda hiatos de informação", disse Patriota. 


Obama eleva tom e pede sanções aos iranianos por suposta trama

O presidente dos EUA, Barack Obama, elevou o tom contra o governo do Irã, cujo comportamento chamou de "perigoso e irresponsável", e disse que o país está sujeito às "mais duras sanções possíveis" pelo suposto plano para matar o embaixador saudita em Washington. Em entrevista coletiva ao lado de Lee Myung-bak, presidente da Coreia do Sul -com quem os EUA acabaram de assinar um tratado de livre-comércio-, Obama afirmou que "nenhuma opção está descartada" na ação de seu governo contra o Irã.
Em linguagem diplomática, a frase é usada para dar a entender que existe a possibilidade de uma ação militar. Obama disse, ainda, que é necessário mobilizar a comunidade internacional para que o regime iraniano fique "cada vez mais isolado". O Irã voltou a negar ter planejado o ataque. Em raro pronunciamento, o vice-comandante da Guarda Revolucionária iraniana, Hossein Salami, disse que a acusação é "risível e sem fundamento".
Em entrevista à rádio estatal, o chanceler iraniano, Ali Akbar Salehi, afirmou que o país não tem "nenhum problema" com a Arábia Saudita. Para ele, é do interesse dos "inimigos do Irã" que os vizinhos no golfo Pérsico não mantenham boas relações. Em visita à Áustria, o chanceler saudita, Saud al Faisal, afirmou haver provas de que o Irã é responsável pela trama, mas pediu resposta "cautelosa". Os dois países estão entre os principais produtores de petróleo do mundo.

Trama duvidosa
Na terça, os EUA indiciaram dois iranianos por, segundo o governo, tramar o assassinato do embaixador Adel al Jubeir com o auxílio de traficantes mexicanos. Com exceção da suposta confissão de um dos iranianos, Manssor Arbabsiar, os americanos não divulgaram outras provas da existência da trama, vista como improvável por alguns especialistas em narcotráfico. 

Comentários