Os livros de esquerda na Ocupação da USP



Ia escrever sobre a ocupação da sede administrativa do Campus Butantã da USP, mas a matéria que está no UOL sobre a promessa dos estudantes de manter a ocupação no fim de semana merece menção honrosa.

A primeira coisa que me chamou a atenção, em se tratando de um dos jornais que ataca textos didáticos que combatem o preconceito linguístico, foi encontrar a expressão "final de semana". Coloquial, do ponto de vista da língua padrão, constantemente enfatizada pelo jornal, a expressão está errada. O correto é "fim de semana".

Enquanto pensava na contradição, segui a leitura e dei de cara com a pérola das pérolas do texto: "Os estudantes gritavam palavras de ordem contra a presença da polícia e exibiam livros de autores de esquerda como forma de protesto".

Dá para comentar isso?  Utilizar os livros de autores de esquerda como forma argumentativa desqualificadora da manifestação?  Na verdade, para Folha/UOL os livros não merecem ser referidos e são citados pejorativamente.  São livros de esquerda.  Estão no meio de um protesto.  

Essa argumentação desqualificadora me fez lembrar a matéria de Sara Vasconcelos sobre a manifestação do #ForaMicarla em junho.  A matéria já está corrigida no site, mas no impresso e inicialmente na Intenet constava uma observação de que os manifestantes estavam mais preocupados com farra do que com protesto, uma vez que carregavam faixa referindo lema do Carnatal: "O Agito é Aqui".  A jornalista desqualificou o protesto igualando-o a um oba-oba, baseada, no entanto, num equívoco quase inacreditável: a faixa na verdade dizia "O Egito é Aqui", fazendo uma referência às manifestações de rua que derrubaram o ditador Hosni Mubarak, parte da Primavera Árabe.

A Folha repete de maneira jocosa a mesma estratégia argumentativa para desqualificar os estudantes, sua pauta e a própria ocupação da USP.

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