Egito: SCAF afronta praça Tahrir e nomeia ex-premier de Mubarak


Do UOL

A TV estatal egípcia anunciou nesta sexta-feira que o conselho militar no comando do país nomeou Kamal el Ganzouri, 78, para o cargo de primeiro-ministro do Egito e deixando com ele a responsabilidade de formar um novo governo, após vários dias de manifestações e confrontos.

O presidente da Junta Militar egípcia, o marechal Hussein Tantawi, emitiu nesta sexta-feira um decreto pelo qual encarrega Ganzouri para formar um governo de união nacional e concede a ele "todas as prerrogativas", informou a TV estatal.

Ganzouri confirmou a nomeação à agência de notícias Reuters, por telefone. "Tudo será delineado mais tarde", afirmou ele, sem dar detalhes sobre quem será incluído no gabinete.

A formação de um governo de salvação nacional é uma das reivindicações dos manifestantes que exigem o fim do governo militar.

Ganzouri foi premiê durante o regime de Hosni Mubarak de 1996 a 1999. O ex-ditador renunciou em 11 de fevereiro após sofrer pressão de uma revolta popular.Durante os três anos em que foi premiê, ele introduziu algumas medidas de liberalização econômica. Muitos egípcios o viam como uma autoridade "não contaminada" pela corrupção, mas o seu mandato durante a era Mubarak pode gerar oposição dos exigem uma ruptura com o passado político.

Após a revolta que derrubou Mubarak, Ganzouri se mostrou, em várias ocasiões, favorável aos manifestantes.

Em uma entrevista dada em 14 de feverereio ao jornal "Al Masri al Youm", ele declarou que "o regime demorou muito para abordar a crise, se Mubarak tivesse desfeito o governo, designado um vice-presidente e anunciado uma emenda constitucional em 25 de janeiro, a situação não teria chegado tão longe".


A Casa Branca afirmou que a transferência de poder a um governo civil no Egito deve acontecer o mais rápido possível e lamentou a perda de vidas durante os últimos protestos pró-democracia.A notícia vem no mesmo dia em que o Exército egípcio descartou mais uma vez a hipótese de entregar imediatamente o poder como exigem os milhares de manifestantes na praça Tahrir do Cairo, que convocaram grandes protestos para hoje.

"A plena transferência de poder para um governo civil tem de ocorrer de uma maneira justa e inclusiva que responda às legítimas aspirações do povo egípcio, tão logo quanto possível", afirmou o secretário de imprensa da Casa Branca, Jay Carney.

Pelo menos 41 pessoas morreram em uma semana de manifestações contra o controle do Egito pelos militares. Os Estados Unidos instaram as autoridades a realizar uma investigação independente sobre as circunstâncias dessas mortes, segundo comunicado.

"A situação no Egito requer uma solução mais fundamental, idealizada por egípcios, que seja consistente com princípios universais", disse ele, acrescentando que os "Estados Unidos acreditam fortemente que o novo governo egípcio deve assumir poder real imediatamente".

Protestos
Milhares de egípcios estão reunidos nesta sexta-feira na praça Tahrir do Cairo para participar em uma manifestação exigindo, mais uma vez, que os militares abandonem o poder. As ruas que levam ao ministério do Interior, perto da praça, permaneciam bloqueadas.

Os manifestantes, que ocupam a praça Tahrir pelo oitavo dia consecutivo, pedem que o Exército deixe imediatamente o poder. Também exigem que os responsáveis pelas mortes 41 pessoas durante os confrontos dos últimos dias sejam julgados.

Os opositores pedem que os militares transfiram o poder a um conselho interino, organismo que governaria o país até a realização das eleições parlamentares, cuja primeira fase começa em três dias, e, se o novo Parlamento transmitir confiança, poderá permanecer até as eleições presidenciais em 30 de junho.

Ao menos dois partidos, os salafistas de Al Nour e o grupo da Gamaa Islamiya, anunciaram que vão participar da manifestação, mas o principal movimento islamita, a Irmandade Muçulmana, não tomará parte para "não impor obstáculos ao processo eleitoral", segundo comunicado.

A confraria já alertou que teme confrontos em Tahrir entre a manifestação contra a Junta Militar e outra de apoio aos generais que deve se concentrar no bairro central de Abassiya, que a partir desse local vai se dirigir à praça.

Pedido de desculpas

Na quinta-feira (24), as Forças Armadas do Egito apresentaram um pedido formal de desculpas pelas mortes registradas nos violentos confrontos entre as forças de segurança e manifestantes que pediam a transferência de poder na mão dos militares para os civis.

Em um comunicado publicado em sua página no Facebook, o CSFA (Conselho Superior das Forças Armadas) "lamenta e apresenta suas profundas desculpas pela morte como mártires de filhos leais ao Egito nos recentes acontecimentos da praça Tahrir".

O conselho militar, que prometeu realizar as eleições parlamentares como previsto na segunda-feira, disse estar fazendo todo o possível para "impedir a repetição desses eventos".

"Haver eleições agora, como o planejado, é a melhor forma de ajudar o país em momentos problemáticos como esse", disse o general Mokhtar el Mulla, ressaltando que em junho de 2012, os egípcios devem escolher seu novo presidente.

"O mais importante agora é pararmos a violência contra os manifestantes. O direito de protestar é de todos, a menos que haja distúrbios", reforçou.

A junta militar assumiu o poder no Egito em 11 de fevereiro, substituindo o presidente Hosni Mubarak, deposto após uma rebelião popular que teve como epicentro a praça Tahrir, no Cairo.

Sob intensa pressão de protestos nas ruas, o chefe da junta militar egípcia prometeu na noite de terça-feira transferir até julho o poder a um presidente civil, e fez uma oferta condicional para um fim imediato do regime militar.

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