Eleições da Espanha servem de alerta a socialistas franceses

Por Luiz Felipe de Alencastro
No UOL




A vitória esmagadora de Mariano Rajoy na liderança do Partido Popular (PP) transforma a situação política na Espanha e traz lições para a França e para toda a União Europeia.

De saída, cabe notar que a folgada maioria parlamentar de Rajoy, com 186 deputados eleitos, deve-se mais ao desmoronamento do Partido Socialista espanhol do que ao avanço do Partido Popular. O que deixa o Partido Socialista francês em alerta, para evitar a dispersão dos votos de seus eleitores nas eleições presidenciais do ano que vem.Na Espanha, em números absolutos, os votos do vitorioso PP, que correspondem a 44,6% do eleitorado, só aumentaram de 5,4% em relação aos resultados de 2008 e são inferiores aos sufrágios obtidos pelo partido na vitória liderada por José Maria Aznar nas eleições de 2000.

De seu lado, com 110 deputados eleitos e 28,7% do eleitorado, os socialistas perdem o governo do país e dois bastiões históricos do partido, a Andaluzia e a Catalunha (vitorioso na região, o partido nacionalista catalão Convergència i Unió, de centro-direita, também se aparta do Partido Popular).

Globalmente, o PP ganha 500 mil votos em comparação ao sufrágio de 2008, enquanto o Partido Socialista perde no mesmo período 4,3 milhões de votos, que correspondem a 40% de seu eleitorado em 2008.

Junto com o País Basco, onde venceu o partido nacionalista de esquerda Amaiur, a Catalunha é um dos dois únicos governos regionais das comunidades autônomas, dentre as 17 que conta a Espanha, que não são controlados pelo PP.

Os resultados eleitorais dos socialistas são os mais baixos que o partido obteve desde a eleição de 1982, após a ditadura franquista e a transição democrática. Tal evento suscita debates na Europa, onde muitos observadores sublinham que as eleições espanholas marcam a sexta derrota sucessiva de governos da União Europeia flagelados pela crise. Assim, desde de maio de 2010, os eleitores do Reino Unido, Holanda, Irlanda, Portugal, Dinamarca e, agora, Espanha, preferiram entregar a gestão de seus respectivos países aos partidos de oposição.

Mas em outros países, em particular na França, predomina outra leitura do escrutínio espanhol.

A análise mais detalhada dos votos mostra que, tanto na Catalunha como no resto da Espanha, os eleitores de esquerda se abstiveram ou espalharam seus votos em agremiações minoritárias regionalistas, de extrema esquerda ou ecologistas. A dispersão de votos de esquerda, o fiasco da liderança socialista e o esgotamento do governo Zapatero diante da crise econômica facilitaram a vitória de Rajoy e do Partido Popular. À medida que se agravou o desemprego, a recessão econômica e o rigor orçamentário implementado pelo governo Zapatero, cresceu a descrença de seu próprio eleitorado. Para muitos eleitores de esquerda, diante do aprofundamento da crise, pareceu melhor deixar o governo nas mãos do Partido Popular e dos deputados da direita espanhola.

Embora a situação na França seja um pouco diferente, visto que é a maioria parlamentar de direita e o presidente Sarkozy – eleito em 2007 - que sofrem o desgaste político causado pela recessão e pela gestão da crise econômica, existem também algumas semelhanças com o caso espanhol.

De fato, o Partido Socialista francês e seu candidato às eleições presidenciais de abril e maio de 2012, François Hollande, têm agora diante de si um grande desafio político: demonstrar aos eleitores franceses que os socialistas podem governar melhor que o presidente Sarkozy e a maioria parlamentar de direita. Senão, mirando-se no exemplo espanhol, os eleitores da esquerda francesa podem também concluir que, diante da inevitabilidade da crise, vale mais deixar o país sob a direção do presidente Sarkozy. Em queda nas últimas sondagens, a candidatura de François Hollande teme agora o abstencionismo e a dispersão dos votos do eleitorado socialista nas próximas eleições presidenciais.

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