#OcupaUSP: Desocupação policial da Reitoria da USP deixa estudantes feridos

Por Gladys de Paula
Na Caros Amigos



As diversas ações, reações e protestos que estão ocorrendo na USP desde o dia 27 de outubro - quando uma ação policial agiu contra um protesto de alunos com bala de borracha, cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo - ganharam um capítulo próprio na madrugada de hoje, dia 08 de novembro.

Os estudantes estavam acampados dentro do prédio da reitoria em protesto contra a presença da PM no campus e sua ação truculenta para coibir protestos estudantis. Na manhã de hoje foram desocupados e presos em uma ação envolvendo 400 policiais da tropa de choque da Polícia Militar.Após a ocupação do prédio pelos alunos, ocorrida no dia primeiro de novembro, a reitoria entrou com um pedido de reintegração de posse e conseguiu autorização para uso de força para conseguir a desocupação do prédio. A reitoria afirmou largamente na imprensa que estava disposta a negociar e apresentou ontem, dia 07 de novembro, uma proposta que foi levada em assembléia aos estudantes na mesma noite.

Apesar do prazo para desocupação do prédio dado pela justiça ser também ontem, a assembleia julgou que a proposta de acordo oferecida pela reitoria não era o suficiente. O acordo não contemplava nenhuma das solicitações do movimento, que são o fim do convênio com a PM e o fim dos processos administrativos contra estudantes que participaram de atos políticos dentro da universidade. A proposta oferecida foi somente para criar comissões que negociariam esses pontos.

O desenrolar da assembléia estudantil foi tranquilo e a não desocupação do prédio foi tomada por decisão unânime. O que os estudantes não esperavam é que exatamente no prazo estabelecido pela justiça, sem uma nova tentativa de negociação, a tropa de choque da PM fosse chamada para retirar os alunos e levá-los à delegacia.

A desocupação forçada se deu a partir das cinco horas da manhã de hoje, dia 08 de novembro, e segundo o porta-voz da PM, major Marcel Soffner, contou com a presença de 400 homens, dois helicópteros, cavalaria e diversas viaturas. É um aparato bastante volumoso para prender os 70 estudantes - dos quais 25 eram mulheres - que estavam no prédio e que foram acordados com a polícia já dentro do edifício.

Para evitar a mobilização dos estudantes da moradia estudantil dentro da USP, o CRUSP, a PM cercou o prédio e impediu que estes saíssem de lá. Apesar disso alguns estudantes conseguiram escapar e se dirigir para o prédio da reitoria.

Uma destas estudantes, que se identificou como Rosi, contou que chegou com uma câmera filmadora e estava filmando a ação policial do lado de fora do prédio quando foi detida e levada para o interior da reitoria. Os policiais retiraram sua câmera e apagaram sua gravação. Esta estudante e muitos outros foram imobilizados por vários policiais que chegaram inclusive a algemar alguns dos estudantes, mesmo eles não tendo reagido à ação policial, como confirma o Major Soffner.

Os estudantes apresentaram ainda dois colegas feridos, que teriam sido agredidos pela PM. A ação com as estudantes mulheres foi feita em grande parte por um corpo de policiais masculinos, e só teve a incorporação de policiais femininas em um segundo momento da desocupação, segundo as estudantes. Rosi contou ainda que durante a ação, policiais não uniformizados filmaram e tiraram fotos dos estudantes.

A vistoria realizada pelo delegado plantonista do 91º DP no prédio foi realizada após a ação de retirada da PM, que não autorizou a imprensa a participar da desocupação. O delegado informou à imprensa que foram apurados uma série de danos ao prédio da reitoria. A diferença de timing segundo os estudantes é a justificativa de tantos danos constatados na vistoria, já que, segundo eles, os únicos danos que existiam e que seriam restaurados na desocupação, conforme o que ocorreu no prédio da Diretoria da FFLCH, seriam pichações (com frases de ordem e textos de grandes pensadores), quebra de câmeras de segurança e sujeira. Alguns alunos afirmaram que a tropa de choque, ao entrar no prédio, quebrou diversas portas. Afirmaram ainda ter ouvido barulhos de móveis quebrando.

A informação passada a alguns órgãos de imprensa de que haveria no prédio coquetéis molotov também é negada pelos estudantes. Eles confirmaram apenas que tinham fogos de artifício no prédio, que seriam usados para sinalizar aos demais estudantes uma possível ação da PM que eles não esperavam que fosse tão repentina e de madrugada.

A situação parece ainda estar longe de uma solução já que, segundo o delegado titular da terceira delegacia da seccional oeste, Dejair Rodrigues, a Polícia Civil vai indiciar os estudantes pelos crimes de dano ao patrimônio público, crime ambiental e desobediência civil. Por estas acusações os alunos seguirão presos e só serão liberados se pagarem uma fiança que vai de R$ 1.050,00 a R$ 50 mil por aluno, dependendo da avaliação socioeconômica. A questão financeira levanta o problema que é a dificuldade que terão os estudantes de menor poder aquisitivo para sair da prisão.

A reação dos demais estudantes da universidade também está ocorrendo rapidamente, já que ainda pela manhã diversos cursos já faziam movimentos e passeatas e votavam uma greve geral, para afirmar que os estudantes presos não constituem uma minoria, são os representantes de um grupo maior que concordou e opinou em todas as suas ações.

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