Gilson Schwartz e Guilherme Ary Plonski
Na Folha de São PauloAprofunda-se a crise global, mas continua o crescimento digital. No Brasil e no mundo. A internet 3.0 desponta, o desenvolvimento é cada vez mais fruto de uma inteligência individual e coletiva que rompe fronteiras nacionais, territoriais e até emocionais.
Essa internet "do futuro" já está chegando nas escolas, nas empresas, governos e sociedade civil.
Cidades inteligentes e criativas, redes sociais e desafios aos padrões de propriedade intelectual, geração de lucro e governança ocupam nosso cotidiano. Estamos nos transformando em seres sociais, semicorpos tecnológicos que se alimentam da imersão audiovisual na vida digital. A crise selou o destino do jogo financeiro. Na sociedade em rede, a saída da crise é digital.
É fato que o pânico muitas vezes vira resistência ao próprio digital. Muitos se apegam à ocupação do espaço físico, do local, do que parece ainda ser "real".
Mas até a ocupação física da praça só funciona se virar imagem, notícia, informação digital circulando em rede a ponto de gerar valor a partir do "mix" entre a praça real e a virtual, midiática.
Seja pela ampliação do acesso a informação, comunicação e conhecimento, seja pelas inúmeras novas formas (positivas e negativas) de colonizar o espaço virtual ou transformá-lo em campo de batalha pela transformação do mundo, ocupar o digital é hoje condição de sobrevivência para indivíduos, grupos, empresas e governos.
No horizonte dessa sociedade global digital, três vetores estruturantes integram a agenda do Fórum TICs (tecnologias de informação e comunicação), que hoje é instalado pelo consórcio Pro-Ideal na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
O primeiro vetor é o da saúde, individual e pública, vista como ação prioritária para traduzir o poder de aceleração das TICs em melhorias mais rápidas dos indicadores de desenvolvimento humano.
O segundo eixo é o da cultura digital, esse processo em que se combinam o digital e o real para redefinir as fronteiras entre educação e brincadeira, conhecimento ou tecnologia e geração de emprego, renda e riqueza. É o cenário em que se expande uma "economia criativa", que em muitos países já se apresenta como "tábua de salvação".
Vale aqui um alerta: o que faremos com a Copa e com os Jogos Olímpicos, não em termos de estádios, estradas e aeroportos, mas na educação e na cultura?
Finalmente, as TICs sempre foram e continuam a ser fator determinante no design e na reconstrução de redes de débito e crédito, de meios de pagamento e financiamento, com a emergência de moedas sociais e criativas, que podem mudar a velocidade e dar mais sentido a políticas de desenvolvimento local.
Promover a digitalização da saúde, da cultura e da economia criativa é o desafio central que nossas autoridades, lideranças sociais e empresariais e inteligências acadêmicas e culturais precisam enfrentar.
Ocupar o digital é ir além do choro e do ranger de dentes que massacram as populações de todo o mundo, vítimas do "meltdown" da globalização financeira. No entanto, para construir a sociedade em rede, não basta comprar máquinas ou estender cabos e redes sem fio. É preciso saber o que fazer para bem ocupá-las. Queremos mudar o mundo? Ocupemos o digital, já.
Comentários