Todo o poder aos bancos!

Monti, primeiro ministro italiano
Isaac Rossa, Publico, Espanha
http://blogs.publico.es/trabajarcansa/2011/11/10/que-gobiernen-los-banqueros/
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Trabalhar cansa. Os banqueiros querem governar?! Pois que governem!
A última moda nos governos europeus, tendência que alguns tanto trabalham para implantar, é a tecnocracia: o governo dos ‘especialistas’. Economistas, claro, de comprovada ortodoxia. Frente a políticos vacilantes e indecisos, à mercê da opinião pública, nada como a firmeza que nos garantem os ‘especialistas’, graduados e pós-graduados nas melhores escolas de administração de empresas e negócios.

Até agora, trabalharam muito para implantar a nova moda na Grécia e na Itália. Na Grécia, pressionaram até o último momento para pôr no poder o equivalente grego do nosso espanhol Miguel Ángel Fernández Ordóñez[1]: o economista Lucas Papademos, ex-presidente do Banco Central Grego, e ex-conselheiro do Banco Central Europeu. Ainda não resolveram, talvez porque tenha parecido descaramento demais pôr lá um banqueiro, com as ruas em ebulição. Mas estão tentando; e o nome ali ficou, para assustar.[2]

Na Itália, enquanto Berlusconi agoniza, embaralham-se as escolhas, entre as quais, lá está a tecnocracia, representada por Mario Monti, ex-comissário europeu, formado, como Papademos, nos EUA, e diretor europeu da Comissão Trilateral, da qual o grego também participa. Monti seria de fato um preposto, a mando de Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu, ex-presidente do Banco da Itália e ex-vice-presidente do grupo Goldman Sachs (influente banco de investimentos, do qual Monti também é assessor).

Na Espanha, onde as modas sempre chegam com atraso, ninguém precisa de executivo tecnocrático. Mas, se precisarem, proponho nosso Fernández Ordóñez.

Pouco a pouco, o círculo vai-se fechando, e, com banqueiros e economistas tecnocráticos a redigir leis e decretos, logo conseguiremos que os mesmos que nos meteram na crise em que estamos fiquem também encarregados de nos governar.

Sim, já sei que, na prática, sempre são eles que dividem o bacalhau, mas até agora ainda se via alguma diferença: uma coisa é ter o poder; outra coisa é governar; e aceitávamos que os políticos governassem, e os banqueiros tivessem todo o poder. Pois que façam todo o serviço! Que tenham todo o poder e que governem! Ficaria meio vergonhoso, mas... Eu, francamente, já não duvido de nada.




[1] Presidente do Banco de España. ‘Socialista’, claro... [Nota de Tlaxcala, Rede Internacional de Tradutores].


[2] Artigo escrito horas antes do anúncio de Papademos, como primeiro-ministro da Grécia [Nota de Tlaxcala, Rede Internacional de Tradutores].

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