WIKILEAKS: O novo diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica, Yukiya Amano, e o embaixador dos EUA
WIKILEAKS:
Yukiya Amano, novo diretor da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU (substituiu ElBaradei) diz ao embaixador dos EUA em Viena, em 2010, que é “diretor geral de todos os estados", mas que "nada fará que não esteja acordado com os EUA”
2/12/2010, Guardian, UK http://www.guardian.co.uk/world/us-embassy-cables-documents/230076?CMP=twt_gu
WIKILEAKS: C O N F I D E N T I A L UNVIE VIENNA 000478
[cabeçalho aqui omitido]
RESUMO
O novo diretor da International Atomic Energy Agency, IAEA [Agência Internacional de Energia Atômica da ONU], já escolhido, mas antes de tomar posse, assegura aos EUA que concorda com os EUA em “todas as decisões estratégicas chave”, inclusive sobre o Irã.
1. (SBU) Em várias reuniões com funcionários do governo dos EUA, antes de partir de Viena, ao final da Conferência Geral da IAEA, Yukiya Amano, já escolhido para o posto de Diretor Geral da IAEA, manifestou notável coincidência de pontos de vista com os EUA no modo como conduzirá as missões da Agência em verificações de salvaguardas, segurança nuclear e na promoção dos usos pacíficos do átomo, e também quanto às reformas na administração da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU. A missão japonesa informou que Amano voltará a Viena no final de novembro e que manterá escritório na Agência durante sua preparação final, intensiva, para assumir o posto dia 1/12. Esse relatório responde diretamente a instruções recebidas. FIM DO RESUMO.
Diretor Geral de todos os estados, mas em acordo com os EUA
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2. (C) Em reunião com o embaixador um dia depois do final da maratona de duas semanas da reunião do Corpo de Diretores [Board of Governors (BoG)] e Conferência Geral da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU, em meados de setembro, o Diretor Geral designado Yukiya Amano agradeceu o apoio dos EUA a sua candidatura e empenhou-se para enfatizar que apóia os objetivos estratégicos dos EUA para a Agência Internacional de Energia Atômica da ONU. Amano repetiu várias vezes ao embaixador que terá de fazer concessões ao G-77, que corretamente exigiu dele que busque decisões justas e independentes, mas que está firmemente no campo dos EUA em todas as decisões estratégicas, da indicação do pessoal de alto nível, ao modo de encaminhar a questão do programa do Irã para construir armas nucleares.
3. (SBU) Amano partilhou com o embaixador Davies sua posição pública sobre o papel da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU e a contribuição da Agência nas questões globais da proliferação [de armas atômicas], segurança, energia, saúde e gerenciamento da água. Mais abertamente, Amano observou que é importante que mantenha uma certa “ambiguidade construtiva” sobre seus planos, pelo menos até receber assumir o cargo de Diretor Geral em substituição a ElBaradei, em dezembro. Em deferência ao G-77, Amano sentiu-se obrigado a destacar a importância do “equilíbrio” para o trabalho da Agência sobre usos pacíficos da tecnologia nuclear. Por razões que têm a ver com manter alta a moral de seu pessoal, Amano planejou trabalhar para melhorar a qualidade gerencial da Agência, ao mesmo tempo em que publicamente elogia os padrões gerenciais atuais e elogia a dedicação de membros da atual administração.
4. (SBU) Ao longo da conversação, Amano teve o cuidado de enaltecer a importância da próxima Conferência de Segurança Nacional, a acontecer dias 12-13 de abril em Washington, como “o maior evento para mim nos próximos meses”. A Conferência da próxima primavera regerá sua agenda de inverno, que inclui eventos em Davos e a reunião do Corpo de Diretores da IAEA em março. Amano disse que, novamente por razões políticas, contrabalançará suas visitas aos EUA com visitas à África do Sul, Egito e Malásia. Embora esteja certo de que esses países cooperarão, Amano sente que fará poucos progressos nas questões prioritárias antes de assumir o posto. Apesar de reconhecer a crescente polarização entre os estados-membros da IAEA, Amano foi rápido ao apontar áreas em que há acordo, como sobre a necessidade de ampliar o complexo de laboratórios em Seibersdorf, promover as terapias contra o câncer e introduzir o poder atômico com segurança. Amano prometeu “tratar o Irã com dignidade”, mas, em seguida, repetiu que fora escolhido para o posto de Diretor Geral da Agência “para implementar as salvaguardas”. Enfatizou que o Irã tem obrigações especiais com a IAEA que cabe à IAEA cobrar; não se vê como intermediário entre o Irã e o resto do mundo.
(...)
A Agência deve verificar responsabilidades, não políticas
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6. (C) Depois, o Coordenador para Questões de Armas de Destruição em Massa da Casa Branca Gary Samore e a diretora da Comissão de Segurança Nacional Laura Holgate reuniram-se com Amano, dia 15/9, à margem da Conferência Geral. Amano disse que sabe que todos estarão focados na reunião do Corpo de Diretores de março 2010, a primeira de que participará como novo Diretor Geral, para ver o que ele faz e diz sobre Irã e Síria. Afirmou que é mais importante para a Agência manter-se estritamente limitada a suas responsabilidades de verificação e não oferecer “propostas” ou “negociações” políticas. Amano disse que insistirá para que o Irã cumpra plenamente todas suas obrigações de Salvaguardas e exigirá que coopere plenamente com a IAEA, embora não creia que o Irã venha a mudar completamente sua atual posição de impasse.
(...)
8. (C) Amano repetiu esses temas em reunião dia 16/9 com a representante especial dos EUA no NPT Susan Burk. Falando de sua eleição, Amano observou calorosamente que “quando decidem fazer, os EUA podem fazer qualquer coisa!” e que esperava que os EUA fossem força ativa, na direção da NPT Revcon. (...) e que considera importante assegurar aos países em desenvolvimento que “não se trata exclusivamente de impor novas restrições”.
Conquistá-los gradualmente
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9. (SBU) Comentário: Quando partiu de Viena, com seu nome já confirmado como Diretor Geral, Amano parecia confortável no traje de “Diretor Geral”. Fala em tom cada vez mais firme e com mais clareza. Já domina os pontos de conversação e habituou-se à nova posição de autoridade. Há apreensões, entre o pessoal da IAEA e as missões diplomáticas relacionadas às suas habilidades de comunicação e liderança, mas com o desempenho durante a Conferência Geral Amano fez progressos e convenceu os céticos. A atitude inteligente, de reduzir a visibilidade dos japoneses entre seus principais assessores também tranquilizará o pessoal da Agência que temia que Amano pudesse subverter a Agência, implantando práticas do estilo japonês de gerência corporativa. Em termos mais amplos, o conhecimento que Amano tem sobre as questões políticas globais ficou bem evidente, e sua disposição para falar com franqueza com interlocutores norte-americanos sobre sua estratégia e suas ideias para equilibrar seus movimentos são fatores promissores para nossas futuras relações. Por exemplo, Amano ter dito que a Cúpula de Segurança Nuclear do presidente Obama é o maior evento de seu mandato que apenas se inicia foi gesto bem pensado e gratificante. (...)
[assina] DAVIES
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