Comissão trabalhou tendo a venda como certa

O trabalho da comissão designada pela direção da igreja foi apresentado esta noite por Edson Vicente, pastor da Primeira Igreja Batista de Natal que, por sinal, recebia a reunião.  Eram 283 convencionais (chamados de mensageiros) de 34 diferentes igrejas do estado.  Na hora da votação, participaram 262.  Dois terços desse número seriam 175 votos.  Guarde esse número.
Pastor Edson apresentou, com tempo limitado, o trabalho da comissão. Que suscitou em mim algumas dúvidas que julgo pertinente.  Das cinco empresas com quem foram feitos contatos, a Comissão analisou as propostas de duas delas: Peres & Peres e a Record.  A Peres & Peres ofereceu um total de R$ 4,5 mi, incluindo três apartamentos do condomínio a ser construído no local.   A Record ofereceu R$ 5,6 mi.  Após a negociação com a construtora, o negócio seria realizado da seguinte forma - lembrando que a igreja batista está se propondo a trocar um terreno de 4,5 mil metros quadrados por um outro de 900 metros quadrados:
* A Record daria um sinal de R$ 350 mil de entrada;
* A nova sede da Convenção Batista, com auditório e espaço para o funcionamento do seminário seria construído no terreno de 900 metros quadrados atrás do Praia Shopping por um valor de até R$ 1,5 mi e seria entregue até 12 meses após a assinatura do contrato.  Somente nesse momento a construtora tomaria posse do terreno no Barro Vermelho;
* Em um prazo de 26 meses a Record seria responsável pela construção de um Centro de Treinamento por até R$ 1 milhão em um raio de até 40 km de Natal;
* R$ 350 mil seriam investidos pela Record no acampamento que a convenção possui em Martins, no extremo oeste do estado;
* A convenção receberia um apartamento de R$ 308 mil no novo condomínio a ser construído no espaço alienado;
* A diferença, R$ 2,8 mi (esse valor deve estar errado, porque, senão, as contas não batem), seria pago em até 24 meses.
Problemas óbvios nesse negócio.  Primeiro é que a maior parte da execução orçamentária desse negócio seria de responsabilidade da construtora.  Ou seja, ela está prometendo executar uma obra em Ponta Negra no valor de R$ 1,5 mi em um ano: o que impediria a empresa de dizer, depois, que o valor não consegue cobrir os custos da obra?  A diferença seria paga pela convenção?
A Record ofereceu como garantia uma quantidade de apartamentos no novo prédio correspondente ao valor do contrato (R$ 5,6 mi), caso não entregue as obras prometidas.  Ou seja, não é impossível que a Record não entregue nenhuma obra, prefira ceder os apartamentos dados como garantia e assegurar o lucro nas demais unidades do empreendimento.  Restaria à convenção ter trocado um terreno de 4,5 mil metros quadrados e R$ 5,6 milhões por fantásticos apartamentos, os maiores com menos de 90 metros quadrados.
Fiquei com a sensação de que à assembleia devia ter sido dado o direito de conhecer, ao menos, a proposta da Peres & Peres.  Mas tínhamos ali um objetivo claro, por suspeitar do negócio e por considerarmos que a perda do bem da comunidade batista no RN não valeria tal negócio.
A Comissão, mesmo que a assembleia extraordinária tivesse sido convocada para deliberar pela venda, ou não, do terreno, trabalhou como se a venda fosse algo já concretizado  - e todos os discursos dos oficiais na assembleia foram no mesmo sentido.  Não à toa, o pastor Evilásio chegou a dizer que aquela assembleia era a maior burrada já cometida pela direção estadual dos batistas.
A Igreja Batista Viva já havia apresentado, por meio do seu presidente, Rubenilson Brasão, arquiteto e professor associado da UFRN um projeto alternativo para recuperação e uso do terreno que a direção da convenção batista pretende vender.  Esse projeto, aliás, servirá como ilustração da assembleia antidemocrática e autoritária que teve lugar esta noite na Primeira Igreja Batista de Natal.

Comentários

Lael disse…
Caro Daniel,
Como aqueles pastores se expuseram daquela forma. Tratava-se de um negócio de quase 6 milhões de reais (uma mega sena) e toda isenção, transparência era pouco.
Ouvimos do pastor Edison Vicente, relator da comissão, em alto e bom tom quando de sua apresentação que fizeram mais de 20 reuniões e algumas delas, atenção! “dentro” da empresa Record, salvo melhor juízo, porque os slides eram ilegíveis.
Pior de tudo, ninguém dentre os votantes, exceto pastores e experts da Comissão e a Diretoria conheciam a proposta de negociação.
Como administrador aprendi e ensinei que só há decisão quando há alternativas. Ontem porém, foi-nos apresentada apenas uma, pois a outra, como bem disse em seu post, foi autoritariamente negada, sequer a apresentação.
A empresa construtora Record não apresentou dados concretos (só discurso) de que possuía viabilidade econômico financeira para realizar o negócio. Nenhum banco negocia investimento sem estudo concreto de viabilidade econômico-financeira, que dirá no montante de quase 6 milhões de reais.
Ontem foi batido um recorde de...
Anônimo disse…
M Lael v he especial mesmo!