Negócio a ser realizado pelos batistas pode ser maior escândalo dos evangélicos potiguares

A reunião começou com mais de um hora de atraso.  De início, num calor insuportável, todos foram obrigados a acompanhar, logo após o relatório da Comissão que havia sido designada para analisar o processo de alienação, a duas maçantes apresentações institucionais da Record Engenharia. Parecia que o objetivo era cansar a todos os presentes.  Em seguida, o arquiteto contratado pela construtora apresentou o projeto para o novo espaço de 900 metros quadrados em Ponta Negra - com 25 vagas de estacionamento e previsão de no mínimo sessenta alunos em uma área em que, todos sabemos, haveria muita dificuldade de estacionamento.
Esse terreno me provocou outras dúvidas.  De quem é?  Em nenhum momento isso foi esclarecido.  O valor de R$ 1,5 mi que a Record pretende gastar na obra de lá inclui a compra do terreno?  Nenhuma informação a esse respeito.
A assembleia foi conduzida de forma desastrosa e antidemocrática pelo pastor Antonio Targino, da Igreja Batista de Cidade Jardim.  De início, Rubenilson Brasão pediu permissão para falar mais que os três minutos regimentais e apresentar uma contraproposta àquela que fora exposta.  Argumentando que fugia ao assunto proposto na convocação da assembleia extraordinária, Targino negou o direito de contraproposição ao convencional.  Mesmo que questões de ordem fossem levantadas, citando o próprio estatuto da convenção, que prevê que contrapropostas dentro do tema de discussão, se apoiadas, podem ser apresentadas à coletividade, Targino foi irredutível.  Primeira afronta ao princípio democrático dos batistas e, pior, ao seu próprio estatuto.
A Comissão foi questionada do porquê da escolha de um terreno em Ponta Negra, sendo que a maior parte dos membros e das igrejas fica na distante zona norte.  O argumento apresentado pelo relator, Edson Vicente, foi risível: a opção por levar a sede da convenção para Ponta Negra serviria para resgatar a auto-estima desta geração, uma vez que restaura a traumática venda de um terreno que a convenção possuía em Ponta Negra.  Ao fim admitiu que a localização desta obra ainda poderia ser discutida.
Marcos Lael Alexandre, membro da minha igreja, questionou à empresa do porquê ter solicitado à Convenção que realizasse nova assembleia, uma vez que assembleia anterior supostamente havia autorizado a direção da igreja a fechar o negócio.  Foi nesse ponto que o pastor Targino não quis responder.  O advogado da empresa explicou que a intenção era garantir a transparência.  Foi aí que o pastor Evilásio pôs os pingos nos "is": se a empresa se utilizasse da ata da reunião anterior teria problemas legais porque não estaria referendada para fechar o negócio.  Preferível se arriscar a perder um negócio certo que lhe renderia alguns milhões de reais.
Aqui, o mediador da assembleia agiu de maneira autoritária mais uma vez.  Tendo se esgotado o tempo de Lael, este quis apresentar uma questão de ordem acerta da regularidade do objetivo da convocação extraordinária.  Targino não lhe permitiu apresentar a questão de ordem.
Um terceiro momento de autoritarismo da mesa se deu quando, em resposta a colocação apresentada pela assembleia, foi citado o nome mais uma vez de Rubenilson Brasão.  Rubenilson encaminhara projeto arquitetônico para reaproveitamento do espaço que a direção pretende vender através da secretaria-executiva da convenção.  O secretário encaminhou o projeto à direção, que sequer o discutiu.  Rubenilson pediu a oportunidade de falar para esclarecer esse ponto, que lhe foi concedida e em seguida cassada.  Alertado por aqueles que o auxiliavam, Targino finalmente permitiu o esclarecimento a Rubenilson.
Quando tudo já se encaminhava para o fim, a mesa se enrolou com o encaminhamento da votação.  O que, afinal, seria votado?  A aprovação da proposta incluiria toda aplicabilidade financeira do negócio? Ou algo ficaria de fora?  Durante toda a reunião os dirigentes batistas se esforçavam em esclarecer que quaisquer detalhes dos projetos, inclusive a localização do terreno onde seria construída a nova sede, poderia ser modificada posteriormente.  No entanto, no encaminhamento Targino dava a entender que estaríamos votando, finalmente, o pacote fechado e completo apresentado pela diretoria da Convenção. Convencido, voltou atrás e deixou as questões de aplicabilidade financeira fora da discussão.
Fomos à votação, não sem antes a apresentação de mais uma questão de ordem lembrando serem necessários dois terços dos votos para que a alienação do patrimônio fosse aprovada.  A mesa diretora não se posicionou quanto à questão de ordem.  Dos 283 mensageiros credenciados, votaram 262.  Desses, 144 votos foram favoráveis à venda, 116 contrários e duas abstenções.
Targino leu os votos e declarou encerrada a assembleia.
Sentiu falta de alguma coisa?  Todos sentimos: o resultado não foi proclamado.  Atitude mais que suspeita do presidente - será que ele não tinha certeza do que significava a votação?  Será que ele quis ludibriar os presentes fingindo que a venda tinha sido aprovada, mas sem se comprometer com isso - deixando para o registro unicamente em ata?
Segundo o estatuto da Convenção Batista, seriam necessários dois terços dos votos para aprovação da alienação.  Assim, se houve 262 votos, a venda seria aprovada com 175 votos.  Foram apenas 144, faltando 31 votos para que a venda fosse autorizada, com 55% dos votos a favor e 44% de votos contrários.  Seriam necessários mais de 66,6%.
A sensação de golpe ficou no ar.  Os partidários da venda saíram de lá certos de que o negócio foi autorizado.  Mesmo que ferindo o que prevê o estatuto.  Afirmam que é uma questão de interpretação.  Se é uma questão de interpretação, será resolvida na Justiça.  E lá, certamente, outras questões que surgiram nesta noite, poderão ser esclarecidas:
* Edson Vicente, em nome da comissão que avaliou a venda, disse que todos assinariam um termo e registrariam em cartório afirmando não ter recebido nenhuma vantagem da Record para recomendar o negócio.  Afirmou, inclusive, que estariam dispostos a abrir seus sigilos fiscais e bancários.  Pois uma ação na justiça é uma boa oportunidade para se abrir os sigilos fiscais e bancários dos envolvidos e de seus familiares.  Podemos também investigar se não houve facilidades indiretas, como descontos vantajosos para compra de unidades do imóvel a ser construído;
* Podemos conhecer também a saúde financeira da construtora.  Basta lembrar a quantidade de construtoras envolvidas em escândalos de corrupção nos últimos tempos.  Mesmo na Operação Sinal Fechado, Montana, Delphi e até a EIT aparecem implicadas.  Nesse sentido, o promotor José Augusto Peres Filho, da defesa do consumidor, ingressou com Ação Civil Pública contra a Delphi, acusada de realizar "operação bicicleta" para esconder situação falimentar e adiar a quebra.  A Delphi é acusada de não possuir capital de giro nem fundo garantidor de seus negócios.  Assim, estaria vendendo imóveis na planta para garantir a realização das obras.  Mais cedo ou mais tarde a mágica se esgotará.  Com uma ação na justiça podemos vir a conhecer as reais condições financeiras da Record;
* Mais importante: uma ação na justiça garantiria o cumprimento do estatuto da Convenção e a preservação de seu patrimônio, salvo de uma operação no mínimo esquisita.

Comentários

Anônimo disse…
Lamentável.

Faz-se necessário que a opinião publica acompanhe essa operação pois se trata de um patrimônio oriundo de doações e que deve ser preservadodo pelo seu teor histórico.

Espero que os membros da igrejas batistas se mobilizem e lutem para que prevaleçam os interesses da coletividade em detrimento do que parece ser uma oportunidade para um pequeno grupo.
Anônimo disse…
Eu também estava lá!

Foi um circo de horrores. Sucessivas cenas de autoritarismo praticado pelo presidente da mesa dos trabalhos. Fiquei impressionada com a avidez dos dirigentes da convenção pela aprovação da matéria.

Prevaleceu a crise de valores, inclusive a violação ao direito sagrado de participação, ao debate inteligente das idéias, cortes nas falas, intimidações.... Nunca vi uma sessão de coronelismo travestida de assembléia.

Quando escolhi me congregar optei pelo segmento batista
pelo seu caráter democrático e ontem o que assisti foi uma aula ao vivo de arbitrariedades, subtração do direito de
fala, proibição de apresentação de propostas.

EspeRo que o Presidente da Mesa aprenda que o tempo de" sim senhor coronel" acabou e que não dizemos amem para tudo.



Caetano Veloso estava certo... " a forca da grana que ergue e destrói coisa belas"
Anônimo disse…
Eu também estava lá!

Foi um circo de horrores. Sucessivas cenas de autoritarismo praticado pelo presidente da mesa dos trabalhos. Fiquei impressionada com a avidez dos dirigentes da convenção pela aprovação da matéria.

Prevaleceu a crise de valores, inclusive a violação ao direito sagrado de participação, ao debate inteligente das idéias, cortes nas falas, intimidações.... Nunca vi uma sessão de coronelismo travestida de assembléia.

Quando escolhi me congregar optei pelo segmento batista
pelo seu caráter democrático e ontem o que assisti foi uma aula ao vivo de arbitrariedades, subtração do direito de
fala, proibição de apresentação de propostas.

EspeRo que o Presidente da Mesa aprenda que o tempo de" sim senhor coronel" acabou e que não dizemos amem para tudo.



Caetano Veloso estava certo... " a forca da grana que ergue e destrói coisa belas"
Lael disse…
Caro Daniel,
Escândalo era tudo que Eu e muita gente não queríamos ver em nossa denominação batista. Contudo, a soma da sucessão de fatos da Assembléia presentes nas falas, nas intenções, nas linhas e nas entrelinhas... parecem indicar que vamos ter que enfrentar isto de frente.
Desde a Assembléia estou com muitos questionamentos em minha cabeça, como por exemplo:
1. porque o Conselho não vendeu o imóvel, mesmo estando supostamente imponderado para isto pela Assembléia de Mossoró? Alguém teve o cuidado de ler a ata daquela Assembléia?
2. porque a empresa Record não fechou o negócio com o Conselho?
3. porque o Conselho cedeu a exigência da construtora Record de convocar uma Assembléia extraordinária? Não era um negócio jurídico perfeito?
4. porque a convocação da Assembléia se deu durante os festejos natalinos (9 de dezembro/2011) para uma Assembléia já no início de janeiro, dia 5, durante o veraneio e férias e ainda na véspera de feriado?
5. qual a diferença entre democracia e autoritarismo?
Alguém me ajude pelo amor de Deus!!!!