O patrão bonzinho

Como se já não bastassem todos os problemas que envolvem a Copa do Mundo em Natal, esta semana os trabalhadores da construção da Arena das Dunas paralisaram as obras.
O motivo era simples: um aumento nos salários (de cerca de 800 reais para um pouco mais de mil) e plano de saúde. Como se vê, pedidos nada absurdos - ainda mais para quem trabalha em atividade de alto risco. Impressionante pensar, aliás, que alguém possa estar numa atividade de construção civil sem a cobertura de um plano de saúde.
Ricardo Rosado, ao repercutir a nota do Consórcio liderado pela OAS, informou que uma minoria paralisou as obras - e torrou a paciência do natalense, segundo a expressão utilizada com o fim de desqualificar a mobilização dos trabalhadores. De duas uma, então. Ou essa minoria representava todos e era muito poderosa para paralisar as obras, ou os demais não estavam trabalhando.
O pior é vender a idéia do patrão bonzinho, como se apresentou a construtora:

"O Consórcio Arena Natal em razão da paralisação de fração dos trabalhadores, ocorrida nas datas de 19 e 20 de março do corrente ano, causadora de várias notícias veiculadas na imprensa, vem a público esclarecer que respeitou, em todos os momentos, integralmente, a respectiva convenção coletiva firmada em novembro de 2011, honrando, assim, todos os valores de salários, benefícios e demais parcelas acessórias, além de fornecer perfeitas condições de trabalho, agindo em estrita legalidade, o que impede de reconhecer qualquer pleito dos empregados em sentido oposto.

Todavia, aliando pleno respeito aos trabalhadores e à sociedade, e principalmente com a necessidade de continuidade da obra tão importante para o povo potiguar e brasileiro, o Consórcio Arena Natal, agindo em mera liberalidade, resolveu pactuar com os trabalhadores, que aceitaram cessar com a paralisação, retornando as atividades regulares já na data de 21.03.2012.

Atenciosamente

Consórcio Arena Natal"

Quer dizer: o Consórcio diz que está tudo bem, legal, e que resolveu atender o pleito dos trabalhadores por "mera liberalidade". Ou seja, vou atender porque sou bonzinho.
Essa história de me fez lembrar um caso contado acerca de um empresário, crente e comunista, do ramo metalúrgico em Mossoró. Dizem que nas greves do final dos anos 70, os trabalhadores dele se recusavam a parar porque ele era um patrão muito bom - ao que ele respondia dizendo que não existe patrão bonzinho. E alguém quer me convencer que a OAS é uma patroa boazinha?

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