Operação Pecado Capital: Depoimento confirma que filha de desembargador foi estagiária irregularmente no IPEM

Correta a matéria de Ricardo Araújo, para a Tribuna do Norte, exceto quando se refere a "Sayonara Rosado da Costa, filha de um juiz estadual, trabalhou como estagiária mesmo após o período que poderia [ocupar] o cargo como tal, encerrou"
Sayonara também tem o sobrenome Saraiva e é filha não de um "juiz estadual", mas sim do desembargador Saraiva Sobrinho.  Por que a Tribuna negligenciou essa informação aos seus leitores?

http://tribunadonorte.com.br/noticia/depoimento-confirma-lista-fantasma/214489

Noivas, amigos e parentes. No terceiro dia dos depoimentos das testemunhas de acusação dos réus da Operação Pecado Capital, novos funcionários fantasmas foram apontados pela ex-funcionária do Instituto de Pesos e Medidas (Ipem/RN), Laila Cristiane Nagib. Num depoimento inicialmente confuso, tendo a depoente negado quase que integralmente as explicações dadas à promotora de Defesa do Patrimônio Público, Danielli Christine Gomes de Oliveira Pereira em 2011, ela confirmou a ocupação de cargos fantasmas no Instituto por pessoas direta e intimamente ligadas aos acusados e citou, ainda, a nomeação de dois familiares do deputado estadual Gilson Moura (PV) - Gilberto Moura e Francinilton Moura - para cargos no órgão estadual.
Júnior SantosJuiz chama a atenção de Laila Nagib por depoimento confusoJuiz chama a atenção de Laila Nagib por depoimento confuso

 A cada dia, novas versões acerca do possível envolvimento do parlamentar com o esquema de corrupção aplicado pelo ex-diretor do Ipem/RN, Rychardson de Macedo Bernardo, são esclarecidas ao juiz federal, Hallison Rêgo Bezerra, e ao procurador do Ministério Público Federal, Rodrigo Telles. Além de ter confirmado a inclusão dos nomes dos parentes de Gilson Moura na folha de pagamento de funcionários terceirizados do órgão, Laila ratificou, diante do Juízo, o pagamento de salários à noiva de Rychardson à época, Luana Gomes de Medeiros;  à noiva de Aécio Aluízio, Larissa Farias de Araújo; à atual noiva de Rychardson, Emanuela de Oliveira Alves; e à Andréa Carla Ferreira, mulher do ex-coordenador da assessoria jurídica do Instituto e réu no processo, Daniel Vale Bezerra, além da namorada de Flávio Adriano, Ariane Gonçalves.

 Uma particularidade, porém, difere as supostas funcionárias fantasmas do Ipem/RN, Andréa Carla Bezerra e Emanuela de Oliveira Alves, dos demais. Elas ocupavam cargos na Associação de Atividade de Valorização Social (Ativa), órgão contratado pela Prefeitura de Natal para desempenhar projetos de apoio social às famílias de baixa renda, no mesmo período que dispunham de cargos no Instituto estadual. Além delas, Laila Nagib citou que Sayonara Rosado da Costa, filha de um juiz estadual, trabalhou como estagiária mesmo após o período que poderia o cargo como tal, encerrou. A filha do político Miguel Mossoró, Márcia Gadelha, é mais uma das pessoas apontadas pela depoente que trabalhou no Ipem por um período e depois passou a receber os vencimentos sem trabalhar.

 Laila, que trabalhou na campanha para deputado estadual do hoje parlamentar Gilson Moura, recorreu ao político pois, com o fim das prévias eleitorais, ficou desempregada. Ele a indicou a Rychardson de Macedo, seu apadrinhado político e cujo cargo de direção no Ipem ocupou em decorrência da indicação do deputado à então governadora Wilma de Faria. Laila foi contratada para trabalhar no Setor Financeiro e após saída para gozo de férias, foi transferida para o Setor de Protocolo. Ela creditou a mudança de cargo a um possível comentário que fez com os demais colegas de trabalho acerca dos funcionários fantasmas. 

 Ao longo do depoimento, com as negativas de Laila Nagib relacionadas ao depoimento prestado ao Ministério Público Estadual, o juiz Hallison Rêgo Bezerra ressaltou que, indiretamente, a testemunha estava acusando, a promotora Danielli Christine Gomes de Oliveira Pereira, por crime de falsidade ideológica. Em alguns momentos, a depoente chegou a incitar que a promotora havia incluído trechos inverídicos no depoimento. Além disso, o magistrado destacou que ela poderia responder a um processo por falso testemunho. "Ela me fez muitas perguntas e eu, no impulso, posso ter respondido. Acho que foram confundidas algumas informações", esclareceu Laila. O depoimento dela será acareado pela Polícia Federal.  

Interventores solicitaram perícia nas empresas

A prévia dos depoimentos dos interventores nomeados pelo MPE para administrarem as empresas ligadas a Rychardson de Macedo, foi tumultuada. As testemunhas solicitaram que a oitiva fosse realizada sem a presença dos réus. Entretanto, Rychardson negou-se a nomear um advogado para defendê-lo, alegando que tinha direito de permanecer na sala por atuar em causa própria. Somente 15 minutos depois, os depoimentos foram retomados e as testemunhas depuseram diante do réu.

Flávio Macedo

Num dos depoimentos mais longos do terceiro dia de oitivas, o interventor da Platinum Veículos, Flávio Holanda Pinto, afirmou que encontrou como saldo residual de uma das contas bancárias da empresa registrada no nome de Rhandson de Macedo, R$ 2,98. O administrador nomeado pelo MPE disse que não encontrou muitas informações sobre a movimentação financeira da empresa e acredita que elas podem estar nos computadores apreendidos durante a deflagração da Operação Pecado Capital, em setembro do ano passado.

De acordo com o interventor, a Platinum Veículos teve que ser fechada devido a sua inviabilidade econômica. O passivo da empresa atualmente gira em torno de R$ 450 mil em dívidas com bancos. Como administrador da loja, Rhandson de Macedo consumiu quase que todo o limite do cheque especial do Banco Itaú. Além dos débitos com o Banco Itaú, a loja que revendia veículos também deve ao Banco Bradesco.

 "Impossível saber o faturamento da empresa, pois as informações são muito superficiais", disse Flávio em depoimento. Ele confirmou ao procurador do MPF que identificou nos extratos bancários da empresa pelo menos duas transferências de recursos do Piazzale Mall em 2011 - uma de R$ 100 mil em fevereiro e outra de R$ 150 em setembro. Sobre a falência da loja, ele disse que a "repercussão da Operação (Pecado Capital), foi uma pá de cal".

A loja tem hoje cerca de R$ 140 mil em patrimônio imobilizado. As informações que constam na Receita Federal é que a empresa movimentou R$ 17 milhões na conta bancária em 2009 e 2010.

Tércio bento

A lanchonete Casa do Pão de Queijo (Carrefour), registrada no nome de Rhandson Rosário de Macedo Bernardo, irmão de Rychardson, foi a empresa com o menor volume de débitos identificados. A loja, porém, era administrada pela mãe dos irmãos Bernardo, Maria das Graças de Macedo Bernardo. O interventor Tércio Bento da Silva, disse que se deparou com uma situação considerada normal quando assumiu a administração do empreendimento. Uma grande quantidade de produtos em estoque, parte deles vencidos, foi identificada pelo administrador judicial.

 Ele disse ao juiz federal Hallison Rêgo Bezerra, e ao procurador do Ministério Público Federal, Rodrigo Telles, que a empresa não oferece risco de insolvência. De acordo com Tércio Bento, a lanchonete fatura entre R$ 42 e R$ 45 mil mensalmente. As dívidas da empresa com os bancos Bradesco e Itaú, em decorrência da contratação de empréstimos, gira em torno de R$ 60 mil. O interventor relatou que não teve acesso aos balanços contábeis anteriores à intervenção e, por isso, não saberia responder a monta faturada pela loja.

 Questionado pelo advogado/réu Rychardson de Macedo se algum indício de lavagem de dinheiro foi encontrado, o interventor, negou. O próprio Rychardson afirmou ao juiz que não é formalmente sócio de nenhuma das empresas apontadas como sendo de sua propriedade - É Show Supermercados, Casa do Pão de Queijo (Carrefour), Platinum Veículos e o restaurante Piazzale Mall. Suspeita-se que ele lavava dinheiro desviado do Ipem nestas empresas. 

Joá Maria de Castro 

 Com o acúmulo de R$ 6 milhões em dívidas, o Supermercado É Show, que pertence a Rhandson de Macedo e José Bernardo, irmão e pai de Rychardson, respectivamente, foi fechado no ano passado. De acordo com o interventor José Maria de Castro Neto, foram detectados débitos com fornecedores e bancos, estes últimos pelo não pagamento dos empréstimos. O negócio da família, porém, era viável caso o Banco Safra tivesse autorizado uma operação de crédito para a regularização das despesas pendentes. O que não ocorreu, entretanto. 

 De acordo com o interventor, a repercussão da Operação Pecado Capital contribuiu para a queda no faturamento do supermercado. Além disso, uma operação do Procon (municipal e estadual), Vigilância Sanitária e Polícia Civil, que identificou produtos vencidos  - 5 latas de patê de atum expostas na gôndola e vencidas há 17 dias, à época - além de laticínios acondicionados em temperatura abaixo do padrão, "minaram" a intervenção no É Show, conforme relatou o interventor ao juiz. O depoente disse, ainda, que a noiva de um dos acusados acompanhou a operação do Procon, mas não soube dizer quem era ela.

Antes do fechamento, porém, o supermercado faturou entre os meses de agosto e setembro do ano passado, cerca de R$ 6,7 milhões. Toda segunda-feira, antes do encerramento das atividades, os irmãos Macedo passavam na empresa e pegavam todo o apurado do fim de semana, que girava em torno de R$ 300 mil.  Indagado por Rychardson, o interventor negou que tivesse identificado qualquer indício de lavagem de dinheiro na empresa. 

Ludmila Moreira 

Esclarecendo dúvidas do juiz federal e do procurador do Ministério Público Federal, além de ter ratificado informações acerca da sensibilidade econômico/financeira do Restaurante Piazzale Mall, a interventora Ludmila da Costa Moreira confirmou que assumiu a empresa no vermelho. Situação esta que perdura aos dias atuais com o acúmulo de despesas de empréstimos bancários. Diferente do que imaginava quando foi convocada pelo MPE para administrar o empreendimento, ela se deparou com uma empresa "insolvente", que não se pagava.

  A interventora esclareceu que o faturamento atual do restaurante gira em torno de R$ 300 mil  mensais, dos quais são extraídos R$ 27 mil para o pagamento de um dos empréstimos contraídos junto ao Banco Itaú, cuja garantia de pagamento recai sobre todas as vendas efetuadas no cartões de crédito Visa e Mastercard. Além dos dados relacionados ao faturamento mensal, a administradora disse que todos os meses o restaurante fecha suas contas sem nenhum aporte financeiro. Ou seja, no vermelho.

 Ela esclareceu ao juiz federal e ao representante do Ministério Público Federal, que o empréstimo de R$ 700 mil tomado por Rychardson de Macedo e Jeferson Witame Gomes, não serviu para capitalizar o empreendimento. O dinheiro, segundo depôs, saiu para as demais empresas ligadas ao réu Rychardson - É Show Supermercado, Casa do Pão de Queijo (Carrefour) e Platinum Veículos - um dia após cair na conta. Assim como as demais lojas da família, o restaurante não efetua o pagamento de impostos federais, como o PIS e COFINS. 

Comentários