Operação Sinal Fechado: Para defender José Agripino, jornalista se expõe ao mico

Parte de Roberto Guedes, mais uma vez, a tentativa de defesa do senador José Agripino (DEM).  Seu texto publicado neste sentido se fundamenta num erro crasso - falha de interpretação ou distorção deliberada do conteúdo da fala de Alcides Barbosa.
Quem leu os textos de ontem sabe o que Alcides disse.  José Agripino queria o dinheiro no ato, mas George não tinha.  Por isso, Ximbica foi acionado - os cheques de George Olímpio foram passados para Ximbica e este repassou o valor integral para José.  Ximbica teria negociado os cheques em uma factoring.  A casa está caindo.  Leia o texto de Guedes abaixo.

Sem a intenção de fornecer atestado de honestidade a ninguém, encontrei, nos trechos veiculados em Natal nesta quarta-feira, 9, hoje, do depoimento prestado como delação premiada ao ministério público potiguar pelo paulista Alcides Fernandes Barbosa, uma contradição imposta por datas conflitantes que termina beneficiando quem ele procurou acusar, o senador José Agripino Maia, presidente nacional do Dem.
Barbosa assegurou que, no fim de 2.010, presenciou a celebração de acordo através do qual o advogado George Olímpio, controlador da gangue combatida pela operação "Sinal Fechado", e o Senador teriam feito o primeiro doar um milhão de reais à campanha pela reeleição do parlamentar. E acrescentou, conforme a versão veiculada pela revista "Carta Capital" e transcrita em Natal pelo vespertino impresso "O Jornal de Hoje", de Natal, que o repasse não foi efetuado na ocasião. Ainda segundo Barbosa, a entrega do dinheiro teria sido agendada para janeiro de 2.012.
Um candidato à procura de ajuda para se eleger leva em consideração o prazo final da campanha. Esta percepção leva a imaginar que a conversa entre George e José Agripino, testemunhada por Barbosa, teria ocorrido antes de 3 de outubro de 2.010. Pelo seu currículo, José Agripino seria o último político a receber em janeiro de 2.011 uma ajuda para campanha que definiria seu futuro a 3 de outubro de 2.010.
A propósito, o folclore político potigar menciona, recorrentemente, um episódio registrado durante a apuração dos votos que em 15 denovembro de 1.982 entregaram pela primeira vez o governo do Rio Grande do Norte a José Agripino. Quando a euforia entre seus colaboradores imediatos mais se acentuava, aproximou-se de José Agripino um dos organizadores de sua campanha exultando com o fato de haver guardado mais de dez mil camisetas impressas com a propaganda eleitoral do parlamentar, dizendo que as distribuiria com outros correligionários para que estes as vestissem na festa da comemoração pela vitória.
Incapaz de soltar palavrão, José engoliu em seco e, pensou um pouco e em seguida reclamou ao amigo que, para aquela sua eleição, o prazo de validade das camisetas se havia expirado três dias antes da votação. Todo político sabe que este prazo se aplica a dinheiro para a campanha ou para outras despesas de quem tenta se eleger pelo voto do povo.
Portanto, pouco antes de 3 de outubro de 2.010, a preocupação quanto a este prazo teria levado José Agripino a querer receber o milhão de reais de George o mais depressa possível, e com certeza antes desse "dead line".
Barbosa, George Olímpio e outros envolvidos na tentativa de espoliação do Departamento Estadual de Trânsito (Detran) através da concessão do monopólio da inspeção veicular à empresa do advogado foram presos em novembro de 2.011. Ou seja, três meses antes de quando, se houvesse pactuado, José Agripino passaria a receber os quatro pagamentos de 250 mil mencionados por Barbosa.
Quem leu "O Jornal de Hoje" constata que, pela narrativa do depoente, o dinheiro chegaria às mãos de José Agripino em janeiro de 2.012, ou seja, três meses depois da prisão da quadrilha e de alguns inocentes arrastados a situação embaraçosa. Portanto, José Agripino passaria a se comprometer com a quadrilha, como receptor de doação extemporânea de campanha, três meses depois de saber que ela havia sido presa e comia na cadeia o pão que o diabo amassou.
Resta, então, saber se o parlamentar recebeu este dinheiro e na data agendada por Barbosa. Para checar isto, basta ver os extratos das contas bancárias em janeiro de 2.012. Elas informarão se os pagamentos de George Olímpio chegaram até ele. Com mais do que a confusão cronológica desenvolvida por Barbosa, o ministério público poderá rastrear o caminho dos quatro cheques supostamente negociados e assim estabelecer uma relação direta de doação entre George Olímpio e José Agripino.
A propósito, recordo, como o parlamentar, que o próprio George Olímpio e quem primeiro falou nessa doação, o empresário Gilmar Alves, conhecido em Natal como "Gilmar da Montana", desmentiram a versão de Barbosa tão logo começaram a circular em Natal informações sobre o que este haveria declarado ao ministério público.
Mas, admitamos que mereça crédito a versão de Barbosa. Com base nela, pode-se imaginar que José Agripino receberia o dinheiro em janeiro deste ano de 2.012, ou seja, no prazo que o mesmo Barbosa divulgou. Neste caso, eu e muita gente que conhece José Agripino precisaria rever o conceito que tem do parlamentar. Afinal, se pegasse na grana e em janeiro deste ano, José Agripino haveria sujado as mãos em plena época crucial da execração pública a que Barbosa, George e seus companheiros de "Sinal Fechado" estavam sendo submetidos. Se tivesse virado desonesto, neste episódio o parlamentar também teria se travestido de jumento - e este, sim, seria seu novo conceito em Natal.
Jornalista ingênuo, Guedes acredita na honestidade de Agripino.  O texto se fundamenta numa falsa premissa.  Parece que o jornalista precisará "rever o conceito que tem do parlamentar".

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