#Caixa2doDEMnoRN: O lugar da fala

Nasci há 33 anos em uma família espírita. Filho caçula de meu pai, era o filho único de minha mãe.
Com o sacrifício familiar, estudei praticamente a vida inteira no Colégio das Neves. Vi muitas vezes tia ou mãe chorarem quando não podiam pagar a mensalidade.
Fui educado à esquerda pela minha mãe. O fato de meu pai ser um ícone da esquerda potiguar apenas reforçou. O fato de meu pai ser também um ícone da imprensa potiguar também contribuiu para que ainda aos doze anos eu já soubesse que seria jornalista.
Aos dezessete anos me tornei evangélico. Aos vinte e sete, membro da Igreja Batista Viva, uma igreja mais avançada e progressista que a maior parte das comunidades religiosas de Natal.
Foi aos vinte e seis anos que eu me filiei ao Partido Comunista do Brasil, mesmo tendo uma história pessoal e familiar muito próxima ao PT. Meu pai, por exemplo, foi o primeiro candidato a governador pelo partido no estado.
Fiz nove anos de pós-graduação, entre mestrado e doutorado em estudos da linguagem. Tornei-me blogueiro e me filiei ao movimento de blogueiros progressistas - que Serra e Gilmar Mendes batizaram de sujos.
Há seis anos fui aprovado em concurso público na empresa estatal em que trabalho até hoje. Fui aprovado, há pouco, também em um concurso para professor universitário.
A idéia de ter um blog com o nome de "De olho no discurso" teve inspiração na análise das ações políticas da prefeita Micarla de Sousa, mas, principalmente, nos estudos de linguagem e discurso que me são caros: Foucault, Bakhtin, a análise do discurso francesa. É nesse viés que publico notícias, denúncias e as analiso.
Esse é meu lugar de fala.
Na impossibilidade de se defender contra fatos noticiados, os poderosos do lugar atacam nossos lugares de fala. Como se comprometidos ideologicamente. Felipe Maia tenta desqualificar as denúncias sobre o Caixa 2 do partido nas eleições de 2006 atacando-me por ser filiado ao partido que sou filiado ou trabalhar na empresa que eu trabalho. Como se as denúncias fossem menos importantes por isso.
Gustavo Rocha atacou os comentários da atriz Titina Medeiros à Folha de São Paulo sobre Micarla e Rosalba dizendo que a atriz não devia falar por ser ligada ao PT. Como se Titina fosse proibida de ter posição política, consciência crítica, opinião. Ou como se fosse proibido a alguém filiado a partido a emissão de uma opinião crítica contra governo de quem é opositor.
O raciocínio ainda pode ser mais tosco. É como se pudesse haver opinião ou crítica desinteressada. Não há. Todos nós falamos desde o nosso lugar. De fala. Com nossas intenções, nossa ideologia, nosso posicionamento. Não existe nenhuma coisa que se possa tratar de opinião neutra. Neutralidade só existe sob determinadas perspectivas que são por si só ideológicas - especialmente no âmbito da ideologia jornalística traduzida na chamada teoria do espelho: a mídia como espelho da realidade.
Por que Gustavo Rocha acha que Titina Medeiros deve calar sua opinião sobre Micarla e Rosalba por sua ligação com o PT?
Por que Felipe Maia desqualifica os áudios do Caixa 2 do DEM com base no partido a que sou filiado ou na empresa em que trabalho? Eu, Titina perdemos o direito de opinar ou perdemos a qualidade de falar a verdade por causa de nossos vínculos e ideologias? Quer dizer: ambos defendem, Rocha e Maia, a censura aos militantes e filiados da esquerda?
Mesmo o caso do Caixa 2 do DEM já derrubaria sozinho tal ideologia: um fato de grande importância, com áudios em que emergem a voz do primeiro-cavalheiro do estado, foi solenemente ignorado pela maior parte da imprensa potiguar. Com honrosas exceções.
A exclusão do assunto da pauta de jornais como Novo Jornal, Diário de Natal e Tribuna do Norte podem nos levar a questionar qual interesse ideológico desses veículos para que o evitassem? Se eu sou do PCdoB de que partido são esses jornais?

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