Operação Assepsia: “Dinheiroduto” da Marca pode chegar a Ministro

No Blog de Roberto Guedes

A cada novo dia conhecedores das articulações que levaram o governo do Estado, nas administrações Wilma de Faria, Iberê Ferreira de Souza e Rosalba Ciarlini, e a prefeitura de Natal, sob o comando da jornalista e artista Micarla de Souza, a privilegiar falsas organizações sociais de interesse público com contratos irregulares para administrarem unidades hospitalares estão chegando à conclusão de que o caso é federal.

A seu ver, há muito tempo o ministério público federal deveria estar investigando a respeito, como faz o estadual, que na semana passada levou à cadeira um atual secretário da prefeitura de Natal, afastou do cargo a então secretária de Saúde, médica Maria do Perpétuo Socorro Nogueira Soares, e de quebra prendeu os bacharéis em direito Alexandre Magno Alves e Thiago Trindade, acusados de terem desembarcado no poder público local uma extensão de uma esquema de corrupção oriundo do centro-sul do país. Todos são encarados como participantes de uma quadrilha que entregou à Marca, uma dessas empresas travestidas de Oscip, a gestão de uma unidade de pronto atendimento inaugurada pelo então presidente Lula da Silva e mais dois setores da secretaria de Saúde da municipalidade natalense.
Um pouco antes, o "parquet" estadual havia começando a investigar o que levou Rosalba a entregar à mesma Marca a gestão do recém-inaugurado Hospital da Mulher de Mossoró, conseguindo que a justiça mandasse estancar a sangria. Como se viu em seguida, a transação espúria entre o executivo estadual e a falsa Oscip vinha de bem antes. Sem se submeter a processo licitatório, a Marca havia sido bafejada pelo contrato de uma forma tão contrária à ética, aos bons costumes e à lei vigente, que recebeu recursos do Estado antes de sequer assinar um contrato com este.
Até aí o máximo que se poderia dizer a propósito de envolvimento de grandões da administração federal nessa teia de corrupção é que boa parte dos recursos que fluiriam para mãos exógenas através do dinheiroduto das Oscips seria o fato de a saúde pública no Rio Grande do Norte ser custeada quase apenas pela União, através de repasses do Sistema Único (SUS).
No entanto, o atual ministro da Saúde, médico Alexandre Padilha, está pessoalmente ligado à escolha da Marca de uma outra Oscip, esta oriunda de Pernambuco, para abocanhar nacos da saúde pública no Rio Grande do Norte. Quem for ligar alhos com bugalhos verificará a participação de Padilha em acordos que levaram a União a bancar projetos específicos, como se tratasse de verbas "carimbadas", todos terminando na entrega da gestão de espaços governamentais daqui a entidades estranhas ao mundo potiguar. Esta vinculação vem desde os últimos anos do governo Lula da Silva, quando Padilha era ministro das Articulações Institucionais da república, e se legitimou mais, digamos assim, quando a presidente Dilma Rousseff lhe confiou a pasta da Saúde.
Será que apenas no Rio Grande do Norte essas entidades meteram a mão na grana? Não, pois a Marca e congêneres não foram inventadas nem descobertas aqui. Vieram de longe, absolutamente desconhecidas pelos norte-rio-grandenses, inclusive as autoridades que formalmente as trouxeram, viajando no rastro do dinheiro carimbado.
Não haveria nada de novo neste esquema. Há muito tempo ele tem sido adotado por Brasília com o objetivo de turbinar organizações não governamentais que do dia para a noite se transformaram em verdadeiras potências, a exemplo de algumas comandas no Distrito Federal por um notório soldado da Polícia Militar cujas explosões de humor já levaram à demissão de ministros de Estado.
O poder central pode explicar como, tão logo começaram a surgir em Natal críticas à dação da UPA de Pajuçara a uma Oscip, o governo do Estado passou a pretender assumir todas ou pelo menos as mais importantes unidades de saúde pertencentes à prefeitura desta capital, a fim de repassá-las imediatamente à Marca. Pode-se atribuir esta estratégia a Alexandre Magno, procurador da municipalidade que entre uma dação e outra fora colocado à disposição do executivo estadual. Ele se incriminou a respeito, como demonstraram conversas gravadas pelo ministério público, mas estas mesmas conversas mostram que seu papel era o de capataz local de um esquema de amplitude nacional que não furaria as defesas da União sem contar com alguém muito forte lá dentro.
Qualquer exame retrospectivo mostrará que os governos do Estado e municipal, paupérrimos em idéias e planejamento estratégico, só souberam que investiriam numa tal de Upa e num tal de Hospital da Mulher num repente, em conversas que Micarla, Rosalba e acólitos mantiveram com Padilha e auxiliares desses. Voltaram então de Brasília anunciando a nova sem explicar como se deu a gênese de um e de outro projeto, para num toque de mágica chegar, celeremente, às respectivas inaugurações, com a Marca já embutida no negócio.
As informações eventualmente colhidas após as prisões efetuadas aqui e no Rio de Janeiro devem ser cruzadas com vários estouros de grana envolvendo esse tipo de organização em diferentes unidades federativas do país. Como no legendário caso Watergate, nos Estados Unidos, a estratégia é seguir o dinheiro.

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