Para que serve um Código de Ética de jornalistas?

Enquanto preparo as disciplinas que serei responsável no curso de jornalismo na Universidade Federal do Ceará, me deparei com uma leitura do código de ética da profissão. E foi impossível não ter de lidar com algumas questões importantes.
Segundo o código de ética do jornalista, é "dever do jornalista: (...) e) Opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como defender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos".
Acho que muitos profissionais da área, que defendem sua própria ética, jamais perceberam esse item. Não são poucos os jornalistas que vêm a público defendendo, por exemplo, as maiores e mais graves afrontas aos direitos do homem e à sua declaração universal. Não se envergonham e nada temem por proferir declarações em confronto com o nosso código de ética, como a defesa de execuções extra-judiciais por parte da polícia ou o linchamento de criminosos.
Também diz o Código que é dever do jornalista combater "e denunciar todas as formas de corrupção". Fiquei me perguntando sobre o que pensam meus colegas, em Natal, que suprimiram de seus noticiários todas as informações acerca do #Caixa2doDEMnoRN. Ou o que tenha motivado a decisão editorial que levou à Tribuna do Norte a publicar os mesmos depoimentos que eu tenho publicado acerca da Operação Assepsia, porém omitindo as informações sobre o depósito de dinheiro por parte de Francisco de Assis Rocha Viana na conta da prefeita Micarla de Sousa (PV) e sobre o que disse o ex-secretário de saúde do estado, Domício Arruda, de que todas as decisões referentes à contratação de OS sob investigação foram tomadas pela governadora com o aval do procurador geral do estado, Miguel Josino.
Também prevê o código de ética do jornalista que este "não pode: (...) b) Submeter-se a diretrizes contrárias à divulgação correta da informação". E isso é certamente o que mais vemos por aí.
Sabe o que pode ou vai acontecer aos profissionais que violam os preceitos do nosso código de ética? Nada. Não há nenhum órgão regulador que possa fazer valer o que prescreve a regra. E isso é temido, absolutamente, pelos patrões que não querem ver o seu poder de manipular informações diminuído.
A criação de um Conselho Federal da profissão somente não interessa a quem teme o livre exercício do jornalismo e a constituição de instâncias profissionais que nos ajudem nessa regulação.
Um código de ética de jornalismo só vai ser efetivo e verdadeiro quando houver o poder de punir. E esse poder de definição somente será possível na constituição de um Conselho Federal dos Jornalistas - fator fundamental para uma ampliação do processo de democratização da informação e da própria consolidação do processo democrático brasileiro.

Comentários

Anônimo disse…
Amigo, vou lhe dar a minha resposta a sua pergunta. O significado da palavra ética é bastante discutido. Fundamentalmente ética é a conduta esperada de alguém em relação ao outro ou ao grupo a que pertence. Algo pode ser até ético e ilegal, como se daria numa possível sociedade de ladrões. No caso do jornalismo, que trabalha com a informação e esta por demais das vezes atinge o universo moral, ético e jurídico de terceiros o código de ética orienta quais os limites de atuação desses profissionais.
Com isso temos o que deve ser feito em prol da coletividade e o que não deve ser feito em respeito a esta, o que por vezes significa não atingir a esfera pessoal de alguém.
Em outros comentários no seu blog, já tentei lhe dizer que vc entendeu errado o que é jornalismo e, agora, demonstra que também não sabe o que é ética.
Perceba que vc mistura suas convicções ideológicas com suas análises dos fatos que baixam no seu universo, na medida em que professa sua visão política como a correta, em detrimento das outras. Aí vc se iguala a todos que vc critica ai no post.
E tem uma visão ingênua das informações que recebe, extraindo frases sem contexto, como por exemplo querer puxar a Prefeita e a Governadora para uma operação de, dizem, milhões desviados, onde numa frase um amigo de anos da família deposita mil reais na conta da Prefeita e porque o Ex-Secretário da SESAP diz que a Governadora sabia e participou da decisão da contratação da MARCA.
Vc entende as consequências de atrair para o furacão de uma operação show do MP duas das figuras mais importantes do Estado, por absolutamente nada.
Isso não é ético. A ética como eu disse lá em cima é postura esperada como correta de um para com o outro e seus colegas podem ter omitido (respondendo sua pergunta) porque acharam que esses trechos poderiam ser incorretamente interpretados e que alguém poderia achar que, por conta deles, a Prefeita e a Governadora estão envolvidas nesse suposto e até agora mal explicado esquema, coisa que os depoimentos não demonstram nem de perto.
Não confunda combater a corrupção, com acusar a todos aqueles que podem potencialmente cometê-la. Seja mais ético e conceda o benefício da dúvida. Nem os juízes condenam sozinhos
Anônimo disse…
E um último detalhe. Vc pode fazer uma denúncia/representação junto ao Sindicato dos Jornalistas contra seu(s) colega(s) ou veículo que atentou contra as regras do código de ética. Vai lá...
O bom de jornalista é isso, falar é fácil.
Paula M disse…
Pra que serve um código de ética se um professor de ética, jornalista, usa seu espaço de notícias na internet para falar mal de outros colegas de profissão e detonar jornais que não publicam o que ele acha correto?
O exercício da crítica e da auto-critica profissional é fundamental na formação profissional. Nada anti-ético, ao contrário.
Esse espaço é espaço para a crítica. Sempre foi e sempre será.
E eu não sou professor de ética. Mas ninguém pode me cassar o direito de expressar minha crítica.