Prefeitura quer assentar moradores em condomínio popular

Engraçado é a secretária dizer que a preocupação é com o destino dos moradores desalojados. Soa mentiroso, ainda mais quando a gente sabe que até o processo de imissão de posse - ou seja, a tomada dos imóveis pelo poder público - já havia sido concedida em alguns casos.
Fica a certeza de que se não houvesse o Comitê Popular da Copa, a APAC e a fiscalização constante do MP, especialmente na figura de Márcio Diógenes, ficaria todo mundo ao deus-dará. E a imprensa levaria a opinião pública a aplaudir de pé as obras - e que se lascassem os "vagabundos" moradores violados em seus direitos e sem razão de serem a favor da Copa. Eles, no fim, seriam os únicos culpados por todas as mazelas da cidade - especialmente o trânsito.

No Diário de Natal

Os moradores que serão desapropriados na região do Complexo da Urbana por causa das obras da Copa 2014 conheceram ontem o Plano de Reassentamento apresentado pela prefeitura do Natal, incluído no projeto alternativo de mobilidade do lote 1. Cogita-se até a possibilidade de construir um condomínio com quatro blocos e 40 apartamentos em um terreno por trás da Urbana. O problema é que, mesmo correndo tudo como está previsto no papel, o município sequer tem noção de quanto será gasto com os imóveis não-residenciais, ou seja, os pontos comerciais, empresas e postos de combustíveis existentes na área.

Outras alternativas são o pagamento de indenização ou o retorno ao interior do RN. Foto: Fotos: Ana Amaral/DN/D.A Press
As mudanças propostas no Plano foram apresentadas pela secretária municipal de obras, Tereza Cristina Vieira Pires, durante audiência no Fórum das Promotorias da Comarca de Natal, em Petrópolis. O promotor do Meio Ambiente Márcio Luiz Diógenes, mediou os debates. "A nós interessa se os projetos apresentados estão em acordo com as adequações ambientais e urbanísticas. Queremos conhecer melhor esse projeto porque alguns deles nós tomamos conhecimento através da imprensa", afirmou. O promotor se refere ao projeto de mudanças do lote 1, que foi noticiado em primeira mão pelo Diário de Natal na semana passada.

O Plano de Reassentamento foi elaborado pela Secretaria Municipal de Habitação (Seharpe). "Os moradores terão três alternativas: receber a indenização em dinheiro, aproveitar o reassentamento em um condomínio ou o que chamamos de retorno às origens. Percebemos que muitos proprietários naquela área são egressos de cidades do interior", afirmou a secretária da Semopi, Tereza Cristina.

Resolvidos os problemas com as desapropriações, outra secretaria municipal, a de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) garante emitir as licenças de instalação do canteiro de obras. "Faltaram alguns documentos, a Semopi já entregou parte deles. O parecer está pronto, os técnicos já sabem a realidade da obra. Ainda está pendente a apresentação desse plano de desapropriação. Eles nos pediram20 dias", afirma Sueldo Medeiros, adjunto da Semurb, que disse que tentará emitir a licença, condicionando a apresentação do plano posteriormente.
Moradores poderão morar em condomínio popular
A proposta de criar um condomínio popular acomodaria os moradores desapropriados em quatro blocos com 40 apartamentos. A proposta foi apresentada na quinta-feira, 23, pela Seharpe numa reunião do Conselho de Habitação de Interesse Social, que aconteceu no CREA-RN. O plano ainda irá passar por avaliação de outras secretarias, como a Semopi e Secopa, mas já há um norteamento: um dos terrenos onde o município pretende construir o prédio fica localizado exatamente por trás da Urbana. Só que esse terreno está cedido a uma empresa, a Sicol.


Antônio revela temor por não saber onde estará morando quando a Copa chegar. Foto: Ana Amaral/DN/D.A Press
Hélio Miguel Bezerra, advogado que participa do Centro de Referência em Direitos Humanos da UFRN (CRDH), observa com cautela o plano de reassentamento. "A proposta de criar um condomínio já foi inclusive rebatida por vários moradores. Seria um prédio com quatro andares. Portanto, não necessariamente teria elevador. O problema é que são muitas pessoas idosas, que têm dificuldade em subir escadas. Além disso, as obras não começaram, eles ficam com medo. Haveria uma mudança social: eles teriam que pagar condomínio para o resto da vida. Além disso, o terreno é do município, mas está cedido a uma empresa. Ou seja, são vários problemas que dão uma insegurança jurídica muito grande".

Morador da Avenida Felizardo Moura, o aposentado Antônio Fernandes de Lima, faz parte da Associação dos Atingidos pelas Obras da Copa (Apac) e afirma que pretende receber o dinheiro da desapropriação. "Temos receio de aceitar a proposta de ir para um prédio porque as obras sequer começaram. Para iniciar logo, acho que eles ficariam pagando o aluguel social de algumas casas, mas e depois? Para onde iremos? Sinceramente não sei onde eu vou estar no dia em que a Copa começar, se na minha casa ou em outro lugar".
Entrave nos imóveis não-residenciais
Com relação aos imóveis não-residenciais, a secretária Tereza Cristina adiantou que ainda não houve um levantamento sobre as desapropriações. "O município não faz esse tipo de avaliação. A Semopi não detém o método de avaliação em imóveis não-residenciais e a Caixa Econômica Federal não aprova nosso método usual, feito para residências", explicou. "Precisamos contratar um instituto de pesquisas que faz esse tipo de estudo e temos aí um problema porque o instituto sequer sinalizou interesse em fazer essa avaliação. Pensamos inclusive, em pedir dispensa de licitação, dada a urgência para montar o canteiro de obras".

Mor-Gouveia

Além do reassentamento dos desapropriados, foram discutidas as mudanças no lote 1 que dizem respeito à substituição da proposta de alargar a avenida Capitão-Mor Gouveia e criar um binário com as avenidas Lima e Silva e Jerônimo Câmara. "Haverá desapropriações na Mor-Gouveia, mas apenas naquele trecho próximo à linha férrea. Estamos reduzindo as desapropriações em até 70%, um ganho social enorme", frisou Tereza Cristina. Ela disse que a preocupação do município é com o destino dos moradores que perderão seus imóveis na região da Urbana e nas avenidas Felizardo Moura e João Francisco da Mota. Algumas imissões de posse já haviam sido até encaminhadas aos moradores.

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