Há um clipe clássico de O Rappa. Muito premiado e elogiado, o clipe de "Minha alma" demonstra a que ponto de violência a revolta popular pode chegar se a corda for bastante esticada por parte do poder instituído.
Ninguém questiona isso quando se trata de uma música.
Mas a [des]qualificação dos protestos de rua beira a um inocência útil incompreensível. Ano passado, quando os ventos da Primavera Árabe chegaram a Londres, grande da imprensa mundial classificou aqui tudo como puro vandalismo. Afinal, em Londres, os protestos alcançaram elevado grau de violência, com a destruição de automóveis, prédios, enfim. A palavra que os classificou foi vândalos.
Ninguém se importava de procurar compreender como a corda foi esticada ao ponto de ruptura contra eles: as violências que sofriam não puderam mais ser esquecidas e, como no clipe de O Rappa, explodiram em chamas. Londres em chamas.
Hoje eu presenciei - e transmiti - mais um protesto da #RevoltadoBusao, contra os abusos do sistema de transporte em Natal. Se nos atos mais pacíficos todos foram chamados de vândalos, imagine o que você vai ouvir, ver e ler na imprensa de Natal sobre o de hoje.
A corda foi esticada pelo Seturn, que disparou o rastilho de pólvora. Hoje não havia mais como controlar os manifestantes. Muitos ônibus tiveram suas lanternas destruídas. Todos foram pichados. A intenção era um roletaço - os ônibus eram abertos e os manifestantes subiam de graça.
Mas devo fazer uma ressalva. É sobre o que li por aí a respeito do carro da PRF. Por volta dos seis minutos de filmagem você vai poder ver o que vou relatar.
Um grupo de poucos manifestantes foram conversar com o PM que estava na área sobre o fato de os ônibus estarem sendo desviados. Uma professora da UFRN e um adolescente - cujos nomes ainda não sei - foram presos pelo PM, que pediu à PRF que os levasse. Somente nessa hora o carro foi "atacado" por alguns estudantes. Está tudo na twitcam (veja aqui: http://twitcam.livestream.com/c3gtx).
A PRF nos confirmou que quatro pessoas foram presas por pertubação da ordem pública. Quando tentaram deter uma menina por supostamente estar consumindo maconha - o que ela nega - conversei com um dos policiais sobre a viabilidade daquela prisão. Afinal, a menina ia ser levada à delegacia, faria um termo circunstanciado de ocorrência e seria em seguida liberada - consumo de drogas é contravenção e não crime no Brasil. Uma prisão daquela no meio de um protesto serviria somente para acirrar os ânimos. O policial reforçou apenas o discurso de que o usuário alimenta o crime organizado - e fim de papo.
Houve, certamente, atos de violência contra o patrimônio das empresas de ônibus hoje. Mas a #RevoltadoBusao, como qualquer revolta popular, é capaz de chegar a um ponto de ebulição se a corda é esticada. A ação policial nos protestos de duas semanas atrás mostra que a PM temia por isso. Porque isso fortalece a luta do povo e força o poder público a, finalmente, olhar por ele - o povo.
Se a corda é esticada contra o mais fraco certamente sua força se engradece - ainda que seja de uma maneira que a tal da ordem pública vai considerar violenta. Ou vandalismo.
Veja o clipe de O Rappa:
P.S.: A professora presa foi Sandra Erickson, do Departamento de Línguas e Literatura Estrangeiras Modernas - e do PPgEL, onde fiz mestrado e doutorado.
Ninguém questiona isso quando se trata de uma música.
Mas a [des]qualificação dos protestos de rua beira a um inocência útil incompreensível. Ano passado, quando os ventos da Primavera Árabe chegaram a Londres, grande da imprensa mundial classificou aqui tudo como puro vandalismo. Afinal, em Londres, os protestos alcançaram elevado grau de violência, com a destruição de automóveis, prédios, enfim. A palavra que os classificou foi vândalos.
Ninguém se importava de procurar compreender como a corda foi esticada ao ponto de ruptura contra eles: as violências que sofriam não puderam mais ser esquecidas e, como no clipe de O Rappa, explodiram em chamas. Londres em chamas.
Hoje eu presenciei - e transmiti - mais um protesto da #RevoltadoBusao, contra os abusos do sistema de transporte em Natal. Se nos atos mais pacíficos todos foram chamados de vândalos, imagine o que você vai ouvir, ver e ler na imprensa de Natal sobre o de hoje.
A corda foi esticada pelo Seturn, que disparou o rastilho de pólvora. Hoje não havia mais como controlar os manifestantes. Muitos ônibus tiveram suas lanternas destruídas. Todos foram pichados. A intenção era um roletaço - os ônibus eram abertos e os manifestantes subiam de graça.
Mas devo fazer uma ressalva. É sobre o que li por aí a respeito do carro da PRF. Por volta dos seis minutos de filmagem você vai poder ver o que vou relatar.
Um grupo de poucos manifestantes foram conversar com o PM que estava na área sobre o fato de os ônibus estarem sendo desviados. Uma professora da UFRN e um adolescente - cujos nomes ainda não sei - foram presos pelo PM, que pediu à PRF que os levasse. Somente nessa hora o carro foi "atacado" por alguns estudantes. Está tudo na twitcam (veja aqui: http://twitcam.livestream.com/c3gtx).
A PRF nos confirmou que quatro pessoas foram presas por pertubação da ordem pública. Quando tentaram deter uma menina por supostamente estar consumindo maconha - o que ela nega - conversei com um dos policiais sobre a viabilidade daquela prisão. Afinal, a menina ia ser levada à delegacia, faria um termo circunstanciado de ocorrência e seria em seguida liberada - consumo de drogas é contravenção e não crime no Brasil. Uma prisão daquela no meio de um protesto serviria somente para acirrar os ânimos. O policial reforçou apenas o discurso de que o usuário alimenta o crime organizado - e fim de papo.
Houve, certamente, atos de violência contra o patrimônio das empresas de ônibus hoje. Mas a #RevoltadoBusao, como qualquer revolta popular, é capaz de chegar a um ponto de ebulição se a corda é esticada. A ação policial nos protestos de duas semanas atrás mostra que a PM temia por isso. Porque isso fortalece a luta do povo e força o poder público a, finalmente, olhar por ele - o povo.
Se a corda é esticada contra o mais fraco certamente sua força se engradece - ainda que seja de uma maneira que a tal da ordem pública vai considerar violenta. Ou vandalismo.
Veja o clipe de O Rappa:
P.S.: A professora presa foi Sandra Erickson, do Departamento de Línguas e Literatura Estrangeiras Modernas - e do PPgEL, onde fiz mestrado e doutorado.
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