CEI Mirassol: Nada é tão ruim que não possa ser ainda piorado

Dois dias atrás, a Internet no RN, principalmente, bombou com o vídeo do Youtube que reproduzia a campanha do CEI Mirassol.  Criada pela Crioula, o vídeo pecava, como disse aqui, de dois graves preconceitos - ferindo de morte alguns dos princípios mais caros à educação.
A solução da comunicação de crise da escola passou por duas ações.  A primeira: o Youtube impede agora a incorporação do vídeo em blogs e sites.  Desse modo, o vídeo que estava publicado neste blog está sem acesso.  Mas você ainda pode assistir diretamente no Youtube.  Porém, tire seu cavalinho da chuva se pretender deixar algum comentário.  Os comentários foram desativados.  Nem ser elogiado, caso algum usuário assim deseje, o vídeo pode mais.
Trabalhei boa parte da minha vida na Petrobras no sistema de comunicação de crise da empresa.  Mais que isso: a empresa se preocupou em me capacitar para isso.  E isso, felizmente, não é tudo. Na disciplina que agora ministro na UFC - Assessoria de Comunicação - dedicaremos uma boa parcela à comunicação de crise.
Dito isso, enfatizo: nada é tão ruim que não possa ser ainda piorado.  A atitude do CEI Mirassol - ou da agência - pioram o impacto da crise.  Fechar as portas ao comentário, ao diálogo - e impedir que o vídeo seja veiculado em outros espaços - denota a ideia de uma instituição que não se possibilita ser criticada - onde o debate e o diálogo são interditados.
Comunicação de crise é, minimamente, transparência.  Não se lida com a questão, como fizeram alguns envolvidos, afirmando que os críticos não entenderam o vídeo.  Se nós entendemos assim o sentido que foi dado é possível.  Pode não ter estado na intenção consciente de quem o fez - mas é aí mesmo que atua a ideologia.
Pior para a transparência é fechar as portas à crítica.
Se o vídeo foi um tiro no pé, as atitudes posteriores foram ainda piores.
Um simples pedido de desculpas a quem se sentiu ofendido era melhor.  Não precisava nem assumir a responsabilidade - mas se tem responsabilidade com os sentidos que ao vídeo foram atribuídos - bastava pedir desculpas.
A postura adotada denota, ainda, arrogância da instituição.
Volto a falar dela adiante, mas lembro do case recente do Spoletto. Em vez de atacar os humoristas que fizeram chacota com o jeito acelerado de atendimento dos restaurantes da rede, o Spoletto contratou o grupo para aproveitar o episódio para valorizar a marca.  Aula de comunicação de crise.
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Escola é espaço de diálogo, crítica, contestação, debate. Uma escola que após o vídeo que divulgou ainda impede que o mesmo seja criticado, contestado, que se fecha ao diálogo ou debate sobre ele, transmite uma péssima mensagem sobre si mesma.

Comentários

Alexandre Autran disse…
Eu, como ex-estudante do CEI Mirassol por quase toda a minha vida escolar (livres pequenas exceções onde estudei na unidade da Romualdo Galvão) digo e confirmo que essa propaganda traduz com perfeição o espírito elitista da escola. Não houve erro publicitário, pois o público que a escola procura é justamente esse que valoriza o poder diante do caráter, e é assim que eles formam seus alunos.

A decisão de se fecharem é a mesma que ocorre dentro da escola, na administração, onde alunos são tratados (não publicamente, mas sim na prática) como produtos e suas idéias e opiniões são desconsideradas, tratadas como insignificantes. Minha, digo presumidamente, boa formação, com certeza não veio de lá, mas sim de uma boa estrutura familiar e dos poucos anos que passei na outra unidade, que sim, já foi a mesma escola, mas desde então, já se diferenciava nesse aspecto.

O que digo não vem do acaso, pois incontáveis são as histórias que posso contar (minhas ou de outros) que provam isso.