Operação Assepsia: Em editorial, Novo Jornal defende Organizações Sociais

Inacreditável o editorial de hoje do Novo Jornal.
Com o título de "Retrocesso na Saúde" e sob o disfarce da defesa de serviço de qualidade, o texto, na verdade, defende a instituição das Organizações Sociais.
O primeiro, o original: os postos de saúde sob responsabilidade do município não tinham médicos, a estrutura dos prédios era mal cuidada, o atendimento na recepção, ruim; a falta de medicamentos e de exames era rotina.
O segundo, conhecido depois da introdução de uma organização social para gerir as unidades de saúde: há médicos em inúmeras especialidades, os prédios têm boa, e bem cuidada, estrutura física, o atendimento na recepção procura auxiliar o paciente – não estorvá-lo -, há medicamentos e o processo para realização de exames é descomplicado. Em resumo, procura-se oferecer atendimento digno ao paciente.
Está-se, portanto, diante de dois modelos de atendimento público de saúde, um mantido pelo município, com estrutura própria; e outra, mantido por uma organização social, a partir de processo de escolha do município. As entidades gestoras se responsabilizam pela contratação da equipe e pela qualidade no atendimento.
Em são consciência, é difícil crer que alguém prefira o atendimento antigo, o mantido pela estrutura municipal.
E diz mais, desconsiderando o próprio histórico da investigação e do quanto o sistema das OS é denunciado há tempos por Conselhos de Saúde e pelos próprios órgãos de investigação:
Ainda que se considerem as denúncias feitas por promotores sobre o processo de contratação das organizações sociais – que não podem, no todo, em razão de irregularidade pontual, desqualificar de vez esse tipo de prestação de serviço -, é preciso que as vozes de bom senso reflitam sobre o tipo de atendimento que o cidadão merece.
A investigação do Ministério Público do RN, ao lado de muitas outras - algumas das quais citadas e/ou referenciadas pela própria Operação Assepsia -, deixa claro, a quem leu, que a irregularidade não é pontual, como quer fazer crer o editorial.  Cada uma das OS que já desembarcaram na área da saúde tem uma ligação com um esquema conhecido de desvio - normalmente através de personagens já conhecidos como Daniel Gomes ou Tufi Meres.  Não à toa, aponta a investigação, as ligações entre as organizações e as empresas são tão íntimas que terminam sendo a mesma coisa.  Organizações, aliás, que têm donos.
O que leva o Novo Jornal a se posicionar assim?
Muito provavelmente está relacionado não apenas à qualidade do serviço de saúde em Natal, mas, principalmente, à contratação de uma nova OS, do Vale do Paraíba no Rio de Janeiro, para administrar o Hospital da Mulher em Mossoró, por algo próximo a R$ 3 milhões por mês.

Esse editorial é tão surreal que recuso-me a acreditar que o Novo Jornal, sob a desculpa do melhor atendimento, saia em defesa das OSs. As AMES e UPAS não precisam ser administradas por OS para funcionar, mas o editorial do Novo Jornal trata isso como condição sine qua non. O MP já mostrou que a tese é equivocada.

O competente trabalho do MP demonstrou com clareza os esquemas corruptos que perpassam as OS para desvio de dinheiro público.

Engraçado também o Novo Jornal publicar isso um dia depois que se torna público que 17 pessoas viraram réus da Operação Assepsia por conta do contrato com o ITCI - entre elas, donos de OS e ex-secretários da gestão municipal. E também dias depois de sabermos que o Procurador Geral de Justiça, Manoel Onofre Neto, pediu quebras de sigilo e afastamento do cargo da prefeita justamente por causa da corrupção das OS.

Inacreditável, por surreal, tudo isso.


Comentários

Unknown disse…
E em meio a tudo isso, existe uma grande OS CRIADA PELO ''KERIDO'' PRESIDENTE LULA que vai reger os hospitais universitários...

Onde está a ética do seu partido agora?
Não, Fellipe. Vc confundiu. O governo federal na gestão de Dilma está criando una empresa estatal para administrar os hospitais universitários. Questionável, mas nada a ver com Organizações Sociais, que são entidades supostamente sem fins lucrativos.