#ForaMicarla: O discurso do golpe

Imagine uma investigação criminal que dura meses a fio.  Em determinado momento, a Polícia ou o Ministério Público, que conduz a investigação, percebe que há elementos suficientes para que se convença um juiz de que é o momento de se aprofundar.  É aí que surge aquela lista de pedidos de prisão preventiva ou temporária. E numa manhã estão todos presos.
Agora imagina se fez sentido um desses investigados questionar a própria prisão porque não lhes foi dado o direito a se defender antes do pedido.
Todo mundo vai entender que a prisão faz parte do processo de investigação e, ainda que a opinião pública já condene os detidos, não se trata ainda de um julgamento ou condenação.  É uma parte da investigação.  As pessoas foram presas porque, no entender do juiz e de quem investiga, soltas podem prejudicar o andamento das próprias investigações.
Aí a gente vem para o discurso em defesa de Micarla, presente entre aqueles que dela recebem pagamento e dos seus defensores sinceros.
Foi a nota da prefeita afastada que deu o tom.  Em que pese ter sido irregularmente publicada no site da prefeitura, quando Micarla não mais era prefeita, a nota denominou a borboleta de "prefeita constitucional" e reclamou do cerceamento do direito de defesa.
O último ponto foi repetido pelo menos pelo Novo Jornal e, há pouco, por Ricardo Rosado.  E foi a partir dele que escrevi o início desse texto.  Não faz sentido falar em cerceamento do direito de defesa da prefeita uma vez que o afastamento, liminar, se deveu à compreensão de que sua saída era necessária à investigação.  Não se trata de um julgamento nem de uma condenação ainda.
O uso da expressão "prefeita constitucional"quer construir a imagem de que Micarla sofrera um golpe antidemocrático.  Vitimiza a prefeita como alvo de um golpe de estado.
Não foi à toa que o Novo Jornal fez a grande comparação do dia: Cassiano comparou, na Roda Viva, a queda de Micarla à deposição de Djalma Maranhão em 64 (pelo Golpe Militar) e de Agnelo Alves em 69 (pelo AI 5).  E lá dentro, um texto encimado pelo título "Volta ao passado sombrio".
Isso mesmo.  Micarla deu o mote e o Novo Jornal acendeu a vela: Micarla foi derrubada por um golpe de estado anti-democrático.


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