CEI Mirassol: Quando o preconceito faz parte de sua essência

Em 19 de outubro passado, publiquei o seguinte post, questionando o comercial do CEI Mirassol e seu preconceito tão evidente.  Perguntava como uma escola que se propõe moderna aprova um comercial preconceituoso como esse? Especialmente com a cultura milenar dos palhaços?  E eu respondia: Claro. Apenas uma escola que tem como público-alvo uma elite preconceituosa assim.
O vídeo foi alvo de intensas discussões públicas.  Lembrei-me do projeto Alfabetização Solidária e as semelhanças com tal comercial.
De início a postura da escola e da agência de propaganda só fizeram piorar tudo.  No domingo, 21 de outubro, falei sobre os erros da estratégia de comunicação da escola e da agência:

Dois dias atrás, a Internet no RN, principalmente, bombou com o vídeo do Youtube que reproduzia a campanha do CEI Mirassol. Criada pela Crioula, o vídeo pecava, como disse aqui, de dois graves preconceitos - ferindo de morte alguns dos princípios mais caros à educação.A solução da comunicação de crise da escola passou por duas ações. A primeira: o Youtube impede agora a incorporação do vídeo em blogs e sites. Desse modo, o vídeo que estava publicado neste blog está sem acesso. Mas você ainda pode assistir diretamente no Youtube. Porém, tire seu cavalinho da chuva se pretender deixar algum comentário. Os comentários foram desativados. Nem ser elogiado, caso algum usuário assim deseje, o vídeo pode mais.Trabalhei boa parte da minha vida na Petrobras no sistema de comunicação de crise da empresa. Mais que isso: a empresa se preocupou em me capacitar para isso. E isso, felizmente, não é tudo. Na disciplina que agora ministro na UFC - Assessoria de Comunicação - dedicaremos uma boa parcela à comunicação de crise.Dito isso, enfatizo: nada é tão ruim que não possa ser ainda piorado. A atitude do CEI Mirassol - ou da agência - pioram o impacto da crise. Fechar as portas ao comentário, ao diálogo - e impedir que o vídeo seja veiculado em outros espaços - denota a ideia de uma instituição que não se possibilita ser criticada - onde o debate e o diálogo são interditados.Comunicação de crise é, minimamente, transparência. Não se lida com a questão, como fizeram alguns envolvidos, afirmando que os críticos não entenderam o vídeo. Se nós entendemos assim o sentido que foi dado é possível. Pode não ter estado na intenção consciente de quem o fez - mas é aí mesmo que atua a ideologia.Pior para a transparência é fechar as portas à crítica.
Se o vídeo foi um tiro no pé, as atitudes posteriores foram ainda piores.
Um simples pedido de desculpas a quem se sentiu ofendido era melhor. Não precisava nem assumir a responsabilidade - mas se tem responsabilidade com os sentidos que ao vídeo foram atribuídos - bastava pedir desculpas.A postura adotada denota, ainda, arrogância da instituição.Volto a falar dela adiante, mas lembro do case recente do Spoletto. Em vez de atacar os humoristas que fizeram chacota com o jeito acelerado de atendimento dos restaurantes da rede, o Spoletto contratou o grupo para aproveitar o episódio para valorizar a marca. Aula de comunicação de crise.***Escola é espaço de diálogo, crítica, contestação, debate. Uma escola que após o vídeo que divulgou ainda impede que o mesmo seja criticado, contestado, que se fecha ao diálogo ou debate sobre ele, transmite uma péssima mensagem sobre si mesma.
Após uma semana de polêmica, o CEI Mirassol pediu desculpas através do Youtube e apresentou uma nova versão do comercial:
A Crioula lançou uma nova versão do comercial do CEI Mirassol. No link do Youtube um pedido de desculpas: 
Olá, a todos. Gostaríamos de reafirmar que a intenção da campanha do Cei Mirassol nunca foi desmerecer qualquer profissão. Pedimos desculpas para aqueles que se sentiram ofendidos, agradecemos aos que também elogiaram e convidamos todos a conhecer, um pouco mais, a nossa linha pedagógica através do www.estudecei.com.br.



Quando vi o pedido de desculpas, pensei em ressaltar o fato de que houve muita demora em admitir seus equívocos, mas não me parecia necessário.  Não era necessário manter a polêmica no ar.
No entanto, dias atrás, pelo twitter, fui informado de que o comercial original estava no ar novamente.  Acabei de vê-lo.
O pedido de desculpas não autoriza ninguém a manter os mesmos erros: a mesma ideologia equivocada, os mesmos princípios preconceituosos.
Ter voltado com o comercial no ar diz muito de uma escola.  Aliás, toda história diz.
Uma pena.

Veja o comercial original, novamente:

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