Dom Pedro Casaldáliga abandona sua casa depois de receber ameaças de morte


Devido aos fatos relatados abaixo pelo El País, um seminário sobre trabalho que homenagearia o bispo Pedro Casaldáliga foi adiado.

O Bispo Dom Pedro Casaldáliga, 84, que sofre de Parkinson, nascido em Balsareny (Bages), foi forçado a deixar sua casa em São Félix do Araguaia (Brasil) depois de receber ameaças de morte por defender os índios Xavante e os mais pobres.

Francesc Escribano, biógrafo do bispo e diretor da produtora Minoria Absoluta, que prepara uma minissérie de TV sobre Casaldáliga, explicou que o religioso deixou sua casa a pedido da polícia federal brasileira.

As autoridades brasileiras o mudaram para um local desconhecido, onde tem proteção policial contra as ameaças de morte nos últimos dias pelos colonos ilegalmente ocupando terras indígenas Xavante. A justiça brasileira está prestes a concordar com o grupo indígena na disputa que tem com os colonos que ocupam suas terras, o que aumentou a violência dos ocupantes, o que, por sua vez, aconselhou a transferir o bispo aposentado.

O Conselho Indigenista Missionário emitiu uma declaração de solidariedade para com o prelado, no qual diz que, juntamente com outras organizações na área, o bispo defende "compromisso com a defesa dos interesses dos povos pobres e indígenas".

Nascido em uma família de camponeses em Balsareny em 16 de fevereiro de 1928, Casaldáliga foi caracterizado por sua defesa dos direitos dos pobres e indígenas. Ele estudou no seminário de Vic e foi ordenado sacerdote em 1952. Em 1968 já estava no estado brasileiro do Mato Grosso e três anos mais tarde foi consagrado bispo de São Félix do Araguaia, um território de 150.000 quilômetros quadrados e uma das maiores do país, reservas indígenas.

Ligado à teologia da libertação, logo sofreu ameaças de morte e perseguição do regime militar brasileiro e latifundiários.

Ele nunca retornou à Espanha, nem mesmo para o enterro de sua mãe. Também nunca esteve na visita ad Limin, que a cada ano cinco devem fazer os bispos a Roma para se apresentarem ao Papa. "Eu sou um pobre, e os pobres não viajam", sempre se desculpou. Ligado à teologia da libertação, Casaldáliga logo sofreu ameaças de morte e perseguição do regime militar brasileiro e os proprietários de terras da diocese, que vieram a matar seu vigário, João Bosco, por terem confundido-o com o bispo.

Paulo VI, que se tornou bispo após o ritmo das reformas do Concílio Vaticano II, foi obrigado a falar em Roma, para deixar claro que Pedro Casaldáliga ainda era um deles. "Quem toca em Pedro toca em Paulo", disse ele em uma frase memorável. Como consequência da ofensiva de João Paulo II contra os teólogos da libertação, incluindo o prelado catalão que sempre foi um líder, gerou uma situação oposta: Casaldáliga foi durante décadas um incômodo para Roma, que o aposentou em 2005 sem a menor cerimônia.

Missionários em problemas para defender os pobres sempre recorrem a uma famosa frase que Dom Hélder Câmara, o bispo carismático do Recife (Brasil), com a qual desarmava seus críticos em Roma: "Se eu dar esmola a um pobre me chamam de santo, se pergunto por que os pobres não têm nada para comer, eles me chamam de comunista." Casaldáliga coloca desta forma: "Se dizemos aos sacerdotes e leigos que têm que ajudar os pobres, como explicar que um bispo não é o primeiro a fazê-lo?". Assim, não só pregou em sua diocese, mas viajando por toda a América Latina.

Seu maior desafio foi o de visitar Nicarágua Sandinista semanas depois da visita de João Paulo II em que repreendeu publicamente os sacerdotes protagonistas dessa revolução. A partir de então, e essa é outra frase famosa na Igreja da libertação, disse na sua presença do sacerdote e ministro sandinista, Fernando Cardenal: "Você pode estar errado, mas deixe-me ser errado para os pobres, como a Igreja tem sido errado por muitos séculos em favor dos ricos. "

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