Pesquisa de ponta em Macaíba: "Quem ousaria fazer isso?", pergunta @miguelnicolelis

"Basicamente, propor uma demonstração histórica para que todo mundo veja o Brasil de outra forma é considerado inaceitável por alguns setores do Brasil", resumiu Miguel Nicolelis o ataque que sofreu pelo Estadão na edição de hoje.
No início da noite deste domingo, o neurocientista voltou ao twitter para reagir à reportagem do Estado de São Paulo.
Segundo Nicolelis, o repórter do jornal que escreveu a matéria feriu minimamente a ética profissional: "Repórter do Estado apareceu um dia em Natal sem avisar, dizendo que não estava a serviço do jornal". "Tentou entrar no Instituto sem marcar horário", disse, explicando em seguida que foi "negado porque é política do Instituto q seja marcada hora com antecedência". Mesmo assim o jornalista foi autorizado a visitar uma das escolas do IINNELS na região metropolitana de Natal. "Visitou, fotografou, disse que estava maravilhado, que me admirava muito", completou.
Depois disso, o repórter escreveu-lhe um e-mail insistindo que respondesse algumas perguntas, mas nenhuma sobre os temas sobre quais tratou a reportagem. "insistiu que eu deveria responder a perguntas mas sem mencionar qualquer um dos projetos sociais do Instituto de Natal. Perguntas eram genéricas", disse.
Nicolelis afirmou que a reportagem desconsiderou o fato de que o projeto do IINNELS é de cunho científico-social.  "Voltei ao Brasil há 10 anos; há 10 anos trabalho como voluntário nesse projeto. Em 10 anos saímos do nada para criar projeto cientifico-social", disse. "No Brasil sucesso é crime; tentar ir contra a mediocridade é insulto. Tentar ser cientista com visão social e política é inaceitável para alguns", concluiu.
Ainda no twitter, Miguel Nicolelis falou mais sobre o projeto e o ataque, com motivação política, que sofreu:
O nosso projeto é cientifico-social: atendemos a 12 mil consultas de pré-natal de alto risco de graça, financiados por verbas privadas!
Nossas três escolas ministram cursos de educ científica para mil e quatrocentas crianças da rede pública. Verbas privadas iniciaram esse projeto e até hoje fazem parte do nosso orçamento. Depois de educação científica (que dura três anos), crianças podem se matricular no programa cientista do futuro e fazer iniciação científica nos laboratórios do IINNELS.
Nesta quinta-feira vamos graduar os primeiros quinze alunos que completaram ciclo completo de educação e iniciação cientifica. Essas crianças prestaram ENEM para Medicina, Biologia, etc. Da periferia de Natal nossos alunos estão entrando na UFRN, no IFRN!
Tudo isso foi ignorado pelo repórter que claramente chegou em Natal com pauta definida. Ataque era inevitável.
Em Julho de 2011, fomos vítimas de uma tentativa de "golpe branco" por um grupo de pesquisadores q só vieram para Natal porque o projeto do IINNELS convenceu o MEC da necessidade de criar um departamento de neurociências na UFRN.
Apesar do ataque, ganhamos em todas as instâncias o direito de manter todos os equipamentos que conseguimos com projetos desde 2005.
Esse ano tivemos nosso Instituto Nacional renovado depois de revisão de pares do CNPQ. Desde Julho de 2011 reconstruimos nossa equipe de pesquisa. Ganhamos projetos internacionais.
Mantemos colaboraçōes com cientistas da Suiça, Suécia, Espanha, EUA que nos visitam e desenvolvem trabalhos nos nossos laboratórios.
Nesse ano e meio da nova equipe demonstranos que nossa nova terapia para Parkinson funciona em macacos, trabalho que está sendo mandado para publicação. Já foi apresentado em congressos internacionais e atraiu atenção de toda comunidade da área. Outros trabalhos estão em revisão.
Temos outras linhas de pesquisa que estã produzindo conhecimento de ponta na periferia de Natal e em Macaíba. Quem ousaria fazer isso?
Miguel Nicolelis falou também sobre o Nobel.  "Ninguém se candidata", explicou, afirmando o absurdo que isso representaria.  Mas relembrou que em 2011 foi convidado no primeiro Simpósio Nobel da área que criou na pesquisa da interface cérebro e máquina.  Sobre essa participação de Nicolelis, falei aqui, ainda no endereço antigo do blog.
"Ninguém vai me mandar embora do Brasil no grito ou fazendo fofoquinha em tablóide! Eu já me exilei uma vez! Nunca mais!", concluiu Miguel Nicolelis, que sabe ser vítima de uma ação com motivações "político-científicas".

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