Anos atrás vi uma cena num show em Natal que até hoje me emociona. Um grupo de moradores de rua estavam sentados alguns lugares à minha frente no anfiteatro da UFRN. Entre eles, um mais debilitado e sem muitas roupas. A solidariedade do grupo lhe deu aconchego e um agasalho.
Agora há pouco vi uma cena que me relembrou o episódio.
De frente a janela do quarto onde durmo há um supermercado. Logo que cheguei, ouvi gritos vindos da rua. Ali, na frente do supermercado, um casal brigava. A mulher - esposa, namorada, não sei -, gritava e segurava as mãos do homem. Após alguns minutos de tensão e gritos, ele a soltou e saiu pela rua, sem destino. Ela, humilhada, sentou-se na calçada. Chorava.
Por longos minutos, ela ficou ali chorando. Sozinha. Da janela, torcia para que alguém se aproximasse dela ao menos para perguntar se ela precisava de algo. Imagino o tamanho de sua dor e vergonha diante da cena em público. Cheguei a pensar em descer eu mesmo.
De repente eu ouvi uma voz chamando-a. "Galega", disse um morador de rua, guardador de carros aqui nas proximidades. Sujíssimo. Roupas imundas, corpo que não deve ver água há meses, cabelos desgrenhados, pés descalços.
Foi a única pessoa que conversou com a mulher.
Solidariedade não é para qualquer um.
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