As vozes, as gravações e os silêncios do Sindjorn

A jornalista Ana Paula Costa, diretora do Sindicato de Jornalistas do RN, deixou o seguinte comentário em um dos posts de hoje, relacionados ao grampo encontrado em meu telefone:
Olá Daniel, eu, Ana Paula Costa, jornalista como você, me solidarizo incondicionalmente com a situação do grampo que estás enfrentando. Mas eu, Ana Paula Costa, diretora do Sindjorn, acho injusta sua crítica. O Sindjorn não é uma entidade onipresente. Para nos manifestarmos precisamos ser comunicados do acontecido. Estava eu, na piscina, curtindo um pouquinho das minhas pseudo-férias quando fui informada por um amigo sobre seu post. Acredito que nós, a direção do Sindjorn, deixamos muito a desejar em vários aspectos, mas nunca nos posicionamos por jornalista A ou B fazer parte de determinado setor ou de defender determinadas idéias. Nossa defesa é do livre exercício da profissão e da valorização profissional. Fica aqui todo o meu apoio pessoal e admiração pelo trabalho que desenvolves, mas reitero, não acho cabível a critica feita ao sindicato.
Reitero minha crítica.  Quantas notas de solidariedade são emitidas pelo Sindjorn, quase que imediatamente após algum evento ou agressão sofrida por um jornalista "medalhão"da cidade, normalmente aqueles que são intimamente ligados a algum dos veículos ou dos poderosos da cidade?
Relembro a nota de Alex de Souza, que republiquei aqui no blog em 27 de junho passado. Dizia Alex:

Ontem, o Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Norte (Sindjorn) emitiu uma nota de repúdioem solidariedade aos jornalistas-blogueiros Thaisa Galvão e Ricardo Rosado, atacados em seu 'dever de informar o público' por outra nota de repúdio assinada pela Associação dos Magistrados do RN (Amarn) – que, por sinal, reclama de uma 'violação às prerrogativas da magistratura' por parte dos jornalistas.
Essa merece uma vista d'olhos à parte. Primeiro, me parece evidente que a nota do Sindjorn só nasceu para rebater a outra. Um lance meio que rinha de galo entre entidades profissionais, do tipo 'meu repúdio é maior que o seu'. Segundo, a pobre da Thaisa Galvão entrou de gaiata nessa: ela só reproduziu o material publicado pelo Fator RRH, o que deveria ter motivado a inclusão aí de mais uns 40 blogueiros na nota. Tem ainda o interessante desapreço das entidades representativas dos juízes e jornalistas pelo uso correto da norma culta da língua portuguesa – instrumento do qual tiram o pão de cada dia. Mas essa polêmica deixo para os linguístas (v. Novo Acordo Ortográfico) de plantão.
Fiz um breve levantamento (vulgo 'dei uma googlada') das últimas notas de repúdio emitidas pelo Sindjorn. É sintomático que tive de recorrer ao Google em busca dessa informação justo porque o site do Sindjorn encontra-se fora do ar e seu perfil no Twitter esteja inativo (ora, ora) desde que o STJ derrubou a obrigatoriedade do diploma, em 2009.
Localizei sete delas no período entre 2010 e 2011. Parece que a resposta à Amarn é a abrideira de 2012. Seis delas foram em defesa de jornalistas ameaçados ou cerceados durante o exercício profissional. Todos profissionais de veículos tradicionais da mídia (TV, rádio, jornal). A restante, e a mais justificada, sobre o assassinato do radialista caicoense F. Gomes.
Logo, a nota envolvendo Rosado e Galvão é a primeira da entidade em defesa de blogueiros, ou 'jornalistas digitais'. Antes dessa, apenas a nota de setembro de 2010 faz referência a episódio envolvendo Zoraide Castro do portal Nominuto.
Os três, jornalistas 'de verdade e de direito': o primeiro foi professor de 80% dos profissionais existentes na praça; Thaisa Galvão tem mais de 20 anos de trabalho nas costas e passou por grandes redações de Natal (e me perdoem aqui pelo paradoxo de emendar 'grandes' e 'Natal' na mesma sentença). Zenaide trabalhava numa empresa jornalística voltada para internet, criada e mantida por jornalistas formados.
No entanto, casos anteriores envolvendo blogueiros de menor porte e envergadura não mereceram atenção da entidade no mesmo período. Primeiro, tivemos em 2010 a agressão ao jornalista Alisson Almeida pelo colega de profissão Eugênio Bezerra, que à época ocupava uma subsecretaria na prefeitura da capital. Para além de uma rixa pessoal, houve uma motivação política no caso, devido às críticas recorrentes de Almeida à gestão da qual Bezerra fazia parte.
Outra situação em que o Sindjorn silenciou foi durante uma estranha perseguição sofrida pelo jornalista Daniel Dantas Lemos, este ano, após ele divulgar gravações referentes ao que ele próprio batizou como Caixa 2 do DEM, em que figuras proeminentes no atual Poder Executivo combinavam valores a pagar durante a campanha eleitoral de 2006.
Aqui, mais um adendo. O assunto, quentíssimo, inexiste na 'imprensa oficial' potiguar e parece ser de propriedade exclusiva da blogosfera. A única referência, torta, surgiu na Tribuna do Norte, porém o cerne da abordagem limitava-se a auto-defesa do Ministério Público sobre a natureza dos vazamentos. Sobre o caso em si, necas. No RN, ainda impera a lógica de 'se não saiu na Globo, não existe'.
Por fim, o Sindicato calou vergonhosamente sobre o assassinato do blogueiro Edinaldo Filgueira, no município de Serra do Mel. Independente de ser uma rixa partidária que passou para o plano pessoal, dá para acreditar que Filgueira teria sido assassinado se não usasse seu blog como veículo para suas opiniões e para informar, a seu modo, a população de sua cidade? Em que isso não seria jornalismo? Seria o fato de ele não trabalhar para um veículo? De não ter diploma? Isso não é um pouco menor do que o sacrossanto 'direito à informação e à liberdade de expressão'? Pois é.
Em que a morte de Edinaldo Filgueira é menor que a de F. Gomes?
Assim, como disse a Ana Paula pelo twitter, não há injustiça na crítica.
Reforço.
No início de 2012, devido à pressão sofrida pela Assembleia Legislativa do estado, terminei amargando um dia de suspensão na Petrobras por causa de minha atuação no blog.  A punição foi revertida após a atuação política do Sindipetro e do Movimento de Blogueiros Progressistas.  Nenhuma linha do Sindjorn.
Ainda é pior.
Meses depois, o Conselho Estadual de Direitos Humanos deliberou que uma nota seria emitida em repúdio à prática antidemocrática.  A responsabilidade pela sua elaboração ficou a cargo do Sindjorn.  Até hoje não foi emitida tal nota.
No entanto, jornalistas como Ricardo Rosado, Thaísa Galvão ou Eliana Lima recebem solidariedade imediata.  Por quê?
No entanto, para além dessas questões, o fato de um jornalista da cidade ter seu telefone pessoal grampeado em casa não é grave apenas para esse jornalista.  É grave para o campo jornalístico da cidade, mesmo das grandes empresas de comunicação, para a democracia, para a liberdade de expressão.  Afinal, vozes dissonantes, no entender de alguns poderosos, precisam ser monitoradas.
Não se pode ficar calado.

Comentários

Alisson Almeida disse…
Com atraso, quero manifestar minha solidariedade ao jornalista Daniel Dantas, bem como fazer coro às suas críticas ao Sindjorn. Eu, Alisson Almeida, jornalista, também experimentei o silêncio e a omissão do Sindjorn, quando fui vítima de agressão física pelo ex-assessor da ex-prefeita Micarla de Sousa. A agressão foi motivada pelas críticas constantes que eu fazia em meu extinto blog (Embolando Palavras) à gestão desastrosa da ex-prefeita. O objetivo era me silenciar. O Sindjorn, porém, preferiu silenciar por considerar que se tratava de uma "questão pessoal". Por isso, recuso-me a me associar a um sindicato que se acovarda diante dos donos do poder, em detrimento à defesa dos trabalhadores.