"Vi pessoas serem pisoteadas tentando sair", diz vítima de incêndio


A auxiliar de escritório Michele Pereira, 34, é uma das pessoas que conseguiu escapar do incêndio que atingiu na madrugada a boate Kiss, no centro de Santa Maria (307 km de Porto Alegre), e deixou ao menos cem mortos e 200 feridos, segundo informações preliminares do Exército.

No momento do incêndio Pereira estava em frente ao palco onde um grupo fazia um show. "A banda que estava no palco começou a usar sinalizadores e, de repente, pararam o show e apontaram [o sinalizador] para cima. Aí o teto começou a pegar fogo, estava bem fraquinho, mas em questão de segundos começou a se alastrar", contou.

A auxiliar estava próxima da porta da saída, por isso conseguiu escapar. "Foi minha sorte estar perto da saída e era a única que tinha pelo que eu vi porque todo mundo estava saindo por ela ou pela porta de entrada", contou. No corre-corre, Michele caiu e machucou o joelho. "Vi muita gente sendo pisoteada no desespero para sair de lá eu acabei cortando o joelho", disse.

Na saída, o cenário visto por Pereira foi desolador. "Foi terrível, cena de filme de horror! Corpos caídos pelo chão, muita gente desmaiada, chorando, tentando respirar porque a fumaça era muita", contou.

Pereira estava com a estudante de radiologia Leandra Toniolo, 23, quando a amiga avisou que iria ao banheiro, deixando todos os documentos na bolsa da auxiliar. O incêndio começou quando Toniolo ainda estava no banheiro. A família ainda busca por notícias da estudante.

"Assim que o incêndio começou ela ainda estava no banheiro, que ficava próxima a entrada. Eu estava no lado oposto, perto do palco e próximo da porta de saída. Eu teria que cruzar a pista inteira para tentar encontrá-la e no tumulto era impossível", contou.

Incêndio

O incêndio deixou mais de cem mortos e ao menos 200 pessoas feridas na madrugada deste domingo na boate Kiss, no centro de Santa Maria (307 km de Porto Alegre), segundo informações preliminares do Exército.

O tenente-coronel Moisés da Silva Fuchs afirmou que o número de mortos pode ser ainda maior, já que ainda há pessoas desaparecidas e espalhadas por diversos hospitais. Ainda não foi divulgado a relação de nomes das vítimas. De acordo com Fuchs, o alvará do estabelecimento estava vencido desde agosto de 2012.

Ele disse ainda que o transporte dos corpos para o Centro Desportivo Municipal (Farrezão) é realizado por um caminhão da Brigada Militar, devido ao elevado número de mortos. "O número de mortos pode chegar a 150, já que a equipe do Corpo de Bombeiros ainda não chegou até o fundo da boate", disse Fuchs.

Segundo o coordenador da Defesa Civil, Adelar Vargas, o fogo teria começado na espuma de isolamento acústico, no teto. Um dos integrantes da banda, que se apresentava no local, teria acendido um sinalizador, que atingiu o teto e o fogo se espalhou rapidamente, de acordo com Vargas.

A auxiliar de escritório, Michele Pereira, 34, que estava em frente ao palco no momento em que começou o incêndio, confirma que um dos integrantes da banda acendeu um sinalizador no palco.

"A banda que estava no palco começou a usar sinalizadores e, de repente, pararam o show e apontaram [o sinalizador] para cima. Aí o teto começou a pegar fogo, estava bem fraquinho, mas em questão de segundos começou a se alastrar", disse Pereira.

No local, havia apenas uma saída de emergência. Os bombeiros tiveram que abrir um buraco na parede da boate para facilitar o acesso e a retirada das pessoas do local.Na boate tem capacidade para cerca de 2.000 pessoas, e fica na rua dos Andradas, na altura do número 1.925. Os feridos foram levados aos hospitais Universitário, da Guarnição de Santa Maria, de Caridade, da Casa de Saúde, do São Francisco e UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) na própria região. O Corpo de Bombeiro pede que os parentes das vítimas busquem informações diretamente nos hospitais.

O assessor do Hospital Caridade, que fica na região central da cidade, Claudemir Pereira, disse que pelo menos 30 pessoas estão no hospital com ferimentos leves a graves. Os corpos foram levados para o Centro Desportivo Municipal (Farrezão), porque o IML (Instituto Médico Legal) não tem capacidade para abrigá-los.

Segundo informação preliminar da prefeitura, há registro de quatro mortes na UPA e outras quatro no Hospital da Guarnição de Santa Maria. A prefeitura está recrutando voluntários para ajudar no atendimento aos feridos, principalmente, enfermeiros e de médicos.

O fogo foi controlado por volta das 5h30, mas por volta das 7h os bombeiros ainda permaneciam no local fazendo o trabalho de rescaldo. O prédio ficou destruído e corre risco de desabamento, de acordo com os bombeiros.

As causas do incêndio serão investigadas.

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