A sensacional trolagem em cima de FHC

Por Paulo Nogueira
No Diário do Centro do Mundo

Quando você pode imaginar que um amigo de décadas vai dizer uma verdade inconveniente? Mas acontece.
Trolado

Tenho por vezes a sensação de que FHC, o político em quem mais votei em minha vida, é uma criança octogenária.

Li sua coluna hoje no Estadão.

Ele relata um jantar entre velhos amigos. Eram ele, o crítico literário Roberto Schwarz e Serra, e mais, pelo que entendi, as mulheres dos três.

A conversa acabou em política, naturalmente. Não sei se FHC esperava tamanha franqueza de Schwarz, mas ouviu dele a frase mortal: Lula fez mais que ele, FHC, na área social.

Isso significa, dada a importância da área social num país tão brutalmente iníquo como o Brasil, que Schwarz estava dizendo algo mais ou menos assim: “Camarada, sinto informar, mas o Barba foi melhor que você.”

Bem, tenho a sensação de que FHC prefere tudo a ser posto atrás de Lula. E reconheçamos: Schwarz deve saber disso melhor que nós todos. Não sei por que ele, num jantar de amigos, disse o que disse, como se fosse um autêntico troll. Teria sentido que ali estava a derradeira oportunidade?

Mas o mais curioso foi a reação infantil de FHC. Ele fez questão de dizer que os avanços começaram em seu governo. O imperador filósofo Marco Aurélio recomendava vivamente que você fugisse da autodefesa e da autolouvação, mas FHC não parece versado em Marco Aurélio.
Trolador
A trolagem continuou. Schwarz fez o que me pareceu ser uma concessão retórica com um “tudo bem” obsequioso, mas depois reforçou seu ponto. Fez questão de deixar claro, segundo o relato de FHC no Estadão, que os avanços sociais “inegáveis” se deram com o PT.

Você pode estar perguntando: e Serra, a célebre vítima do Atentado da Bolinha de Papel, onde estava?

Calado, reflexivo? Jamais. Nunca se deixará de ouvir a voz de Serra num ambiente em que ele esteja presente. Só o caixão parece forte o bastante para silenciá-lo.

FHC disse que Serra murmurava críticas à “desindustrialização” do Brasil. Note. Questões sociais não fazem parte do rol de interesses de Serra. Por piedade, ou por solidariedade, ele poderia ter defendido a herança social de FHC, e dito a Schwarcz que ele estava enganado.

Mas não.

Serra trouxe à conversa a “desindustrialização”, um tema que ele arranhou levemente no final de sua última campanha presidencial, depois de ter prometido aos eleitores, espetacularmente, dobrar o Bolsa Família.

Em seu artigo, FHC afirma ter aplicado um “xeque mate” no trolador ao falar no Mensalão, mas francamente: quem acredita que Roberto Schwarz ficou abalado com a menção ao Grande Circo do Mensalão, dirigido por eminências como JB, Gilmar e Ayres de Britto, acredita em tudo. Acredita até que Scwhwarz assina a Veja, admira a verve de Jabor e, bem, vota em Serra.

A vantagens de jantares indigestos de octogenários é que a natureza tende a impedir que eles se repitam. Mas ficou, no artigo de FHC, o registro da memorável reunião entre a vaidade atormentada de um octogenário infantil, a monomania recente de um eterno candidato presidencial em torno da “desindustrialização” e a trolagem perfeita de um amigo que, pelo visto, deve ter sido na juventude um mestre nesta disciplina.

Comentários

Tadeu Borges disse…
Eu também votei nele duas vezes: senador e presidente. Na primeira achei que tinha acertado, da segunda não e não repeti.Já o achei meio ingênuo (aquela reunião na itália com Clinton ?!?, meio inconsciente, meio infantil talvez. Hoje não acho mais e fico muito decepcionado. Sempre que fala, faz que menciona sem querer alguém ou algo (o Lula?), diz que não quer falar mas já falando...não gosto. Acho que ele não tem humildade, não tem grandeza...não é.