Na Folha de São Paulo
Um documento que permaneceu inédito até agora será mais uma peça no quebra-cabeça para esclarecer o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva (1929-71) durante a ditadura militar.
Com data de 25 de janeiro de 1971, o Informe nº 70 do DOI-Codi carioca relata as circunstâncias em que o ex-deputado do PTB foi levado de sua casa, no Rio, por agentes do Cisa (extinto órgão de inteligência da Aeronáutica).
É a primeira vez que vem a público um documento oficial em que é mencionado que Paiva "foi localizado, detido e levado para o QG da 3ª Zona Aérea" e, de lá, para o DOI-Codi do Rio.
Até então, a única prova documental de que ele esteve em uma unidade militar era a lista de seus pertences pessoais emitida no momento de sua entrada no DOI-Codi --descoberta em novembro passado na casa de um coronel da reserva assassinado, em Porto Alegre.
O informe, ao qual a Folha teve acesso, foi encontrado no Arquivo Nacional, em Brasília, por Jason Tércio, autor de uma nova biografia de Rubens Paiva que será lançada neste ano pela série "Perfis Parlamentares", da Câmara dos Deputados.
Destinado à Agência Rio de Janeiro do Serviço Nacional de Informações (ARJ/SNI), seção fluminense do órgão de espionagem da ditadura, o informe relata que o Cisa recebeu ordens para fazer uma revista em um avião da Varig procedente de Santiago, no Chile, que chegaria ao Aeroporto do Galeão, no Rio, à 0h do dia 20 de janeiro de 1971.
Na ocasião, foram detidas as passageiras identificadas como Cecília Viveiros de Castro e Marilene de Lima Corona --mãe e cunhada do brasileiro exilado Luiz Rodolfo Viveiros de Castro.
Elas traziam cartas de exilados políticos em Santiago que, segundo Marilene, citada no informe, "deveriam ser entregues no Rio a um senhor por nome Rubens que as faria chegar aos destinatários".
Uma semana antes, a mesma aeronave da Varig havia levado para o Chile os 70 ex-presos políticos libertados em troca do embaixador suíço Giovanni Bucher, sequestrado em dezembro de 1970 pela organização Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
De acordo com o relato, Marilene informou o número do telefone pelo qual contataria Paiva, o que levou os agentes a descobrirem o endereço dele. "Através de levantamento, foi apurado que o aparelho nº 227-5362 está instalado à av. Delfim Moreira nº 80, em nome de Rubens Beyrodt Paiva", diz o informe.
Com carimbo de confidencial, o documento relata ainda que Paiva foi localizado no mesmo dia e levado para o DOI-Codi, assim como Cecília e Marilene --fatos já conhecidos por relatos de testemunhas, mas sem confirmação oficial por documentos.
Paradeiro
O que ainda não foi esclarecido são as circunstâncias da morte de Paiva e o paradeiro de seus restos mortais.
Novos documentos sobre o caso serão revelados nesta semana pelo coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles.
Em entrevista à Folha em janeiro, ele afirmou que os textos ajudarão a identificar os responsáveis pela morte do ex-deputado.
A biografia escrita por Jason Tércio traz algumas das hipóteses, como a de que Rubens Paiva morreu durante uma sessão de choques e que foi enterrado como indigente no Cemitério do Caju, no Rio, ou nas proximidades de uma delegacia no Alto da Boa Vista, zona norte da cidade.
A versão sustentada pelo Exército é a de que Paiva fugiu em um resgate enquanto era levado para reconhecer uma casa no subúrbio do Rio.
Relatos de testemunhas, contudo, afirmam que ele morreu sob tortura.
Documento desmente versão de fuga de Rubens Paiva, diz Comissão da Verdade
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles, divulgou nesta segunda-feira (4) um relatório em que afirma que o ex-deputado Rubens Paiva foi morto nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna), no Rio de Janeiro.
Fonteles chegou a esta conclusão ao analisar um documento encontrado no Arquivo Nacional, em Brasília, em que agentes do DOI-Codi do Rio descrevem como Rubens Paiva foi localizado e preso. O mesmo documento, até então inédito, foi revelado nesta segunda-feira por reportagem da Folha.
O ex-deputado, que teve o mandato cassado pelo Ato Institucional nº 1, foi levado por agentes da ditadura militar para prestar depoimento em 20 de janeiro de 1971 e, desde então, é considerado desaparecido.
A versão oficial apresentada pelas Forças Armadas é a de que Paiva fugiu quando era levado para reconhecer uma casa no Rio.
O documento recém-revelado, porém, com data de 25 de janeiro de 1971, não faz nenhuma menção à suposta fuga de Paiva, que segundo o Exército teria ocorrido na madrugada do dia 22 de janeiro.
Para o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, isso desmente a versão da fuga, sustentada até hoje pelas Forças Armadas.
"Importante registrar que esse Informe nada diz sobre 'a fuga' de Rubens Paiva que, na versão oficial dos agentes públicos do Estado ditatorial militar, teria ocorrido aos 22 de janeiro, para justificar, até hoje, seu estado de foragido. Tivesse acontecido, de verdade, 'a fuga', por óbvio, esse evento constaria desse pormenorizado registro", analisa Fonteles no texto.
Um documento que permaneceu inédito até agora será mais uma peça no quebra-cabeça para esclarecer o desaparecimento do ex-deputado Rubens Paiva (1929-71) durante a ditadura militar.
Com data de 25 de janeiro de 1971, o Informe nº 70 do DOI-Codi carioca relata as circunstâncias em que o ex-deputado do PTB foi levado de sua casa, no Rio, por agentes do Cisa (extinto órgão de inteligência da Aeronáutica).
É a primeira vez que vem a público um documento oficial em que é mencionado que Paiva "foi localizado, detido e levado para o QG da 3ª Zona Aérea" e, de lá, para o DOI-Codi do Rio.
Até então, a única prova documental de que ele esteve em uma unidade militar era a lista de seus pertences pessoais emitida no momento de sua entrada no DOI-Codi --descoberta em novembro passado na casa de um coronel da reserva assassinado, em Porto Alegre.
O informe, ao qual a Folha teve acesso, foi encontrado no Arquivo Nacional, em Brasília, por Jason Tércio, autor de uma nova biografia de Rubens Paiva que será lançada neste ano pela série "Perfis Parlamentares", da Câmara dos Deputados.
Destinado à Agência Rio de Janeiro do Serviço Nacional de Informações (ARJ/SNI), seção fluminense do órgão de espionagem da ditadura, o informe relata que o Cisa recebeu ordens para fazer uma revista em um avião da Varig procedente de Santiago, no Chile, que chegaria ao Aeroporto do Galeão, no Rio, à 0h do dia 20 de janeiro de 1971.
Na ocasião, foram detidas as passageiras identificadas como Cecília Viveiros de Castro e Marilene de Lima Corona --mãe e cunhada do brasileiro exilado Luiz Rodolfo Viveiros de Castro.
Elas traziam cartas de exilados políticos em Santiago que, segundo Marilene, citada no informe, "deveriam ser entregues no Rio a um senhor por nome Rubens que as faria chegar aos destinatários".
Uma semana antes, a mesma aeronave da Varig havia levado para o Chile os 70 ex-presos políticos libertados em troca do embaixador suíço Giovanni Bucher, sequestrado em dezembro de 1970 pela organização Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
De acordo com o relato, Marilene informou o número do telefone pelo qual contataria Paiva, o que levou os agentes a descobrirem o endereço dele. "Através de levantamento, foi apurado que o aparelho nº 227-5362 está instalado à av. Delfim Moreira nº 80, em nome de Rubens Beyrodt Paiva", diz o informe.
Com carimbo de confidencial, o documento relata ainda que Paiva foi localizado no mesmo dia e levado para o DOI-Codi, assim como Cecília e Marilene --fatos já conhecidos por relatos de testemunhas, mas sem confirmação oficial por documentos.
Paradeiro
O que ainda não foi esclarecido são as circunstâncias da morte de Paiva e o paradeiro de seus restos mortais.
Novos documentos sobre o caso serão revelados nesta semana pelo coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles.
Em entrevista à Folha em janeiro, ele afirmou que os textos ajudarão a identificar os responsáveis pela morte do ex-deputado.
A biografia escrita por Jason Tércio traz algumas das hipóteses, como a de que Rubens Paiva morreu durante uma sessão de choques e que foi enterrado como indigente no Cemitério do Caju, no Rio, ou nas proximidades de uma delegacia no Alto da Boa Vista, zona norte da cidade.
A versão sustentada pelo Exército é a de que Paiva fugiu em um resgate enquanto era levado para reconhecer uma casa no subúrbio do Rio.
Relatos de testemunhas, contudo, afirmam que ele morreu sob tortura.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Documento desmente versão de fuga de Rubens Paiva, diz Comissão da Verdade
O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles, divulgou nesta segunda-feira (4) um relatório em que afirma que o ex-deputado Rubens Paiva foi morto nas dependências do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna), no Rio de Janeiro.
Fonteles chegou a esta conclusão ao analisar um documento encontrado no Arquivo Nacional, em Brasília, em que agentes do DOI-Codi do Rio descrevem como Rubens Paiva foi localizado e preso. O mesmo documento, até então inédito, foi revelado nesta segunda-feira por reportagem da Folha.
O ex-deputado, que teve o mandato cassado pelo Ato Institucional nº 1, foi levado por agentes da ditadura militar para prestar depoimento em 20 de janeiro de 1971 e, desde então, é considerado desaparecido.
A versão oficial apresentada pelas Forças Armadas é a de que Paiva fugiu quando era levado para reconhecer uma casa no Rio.
O documento recém-revelado, porém, com data de 25 de janeiro de 1971, não faz nenhuma menção à suposta fuga de Paiva, que segundo o Exército teria ocorrido na madrugada do dia 22 de janeiro.
Para o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, isso desmente a versão da fuga, sustentada até hoje pelas Forças Armadas.
"Importante registrar que esse Informe nada diz sobre 'a fuga' de Rubens Paiva que, na versão oficial dos agentes públicos do Estado ditatorial militar, teria ocorrido aos 22 de janeiro, para justificar, até hoje, seu estado de foragido. Tivesse acontecido, de verdade, 'a fuga', por óbvio, esse evento constaria desse pormenorizado registro", analisa Fonteles no texto.
Comentários