Por Leonardo Sakamoto
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2013/02/14/no-aviao-um-passageiro-nao-chegou-ao-seu-destino/
Pouco antes do avião sair de Berlim em direção a Paris, nesta quinta, um dos passageiros caiu duro no chão, algumas fileiras à minha frente. Paramédicos foram chamados e, por mais de 40 minutos, tentaram reanimá-lo. Até onde pudemos presenciar (e o corpo inerte ser levado embora), sem sucesso.
Ao meu lado, uma simpática moça resmungou entre os dentes, reclamando do homem por conta do atraso. Aflito com a situação, tive vontade de arremessar o saquinho da indisposição na direção dela mas percebi que faltaria saquinho, uma vez que o sentimento era compartilhado por outros na aeronave.
Entendo os descontentes. Ainda mais em um mundo chocantemente individualista como o nosso. No qual gostamos de celebrar a liberdade do coletivo, desde que ela não atrapalhe a velocidade de nossa marcha pessoal. Onde tudo é fraternidade, desde que esta caiba entre os nossos compromissos previamente agendados. E lutamos para que a igualdade seja respeitada – não aquela que trata do direito de todo mundo chegar ao final de sua viagem, mas a que diz que os mais necessitados e desassistidos não podem clamar por tratamento diferenciado ao longo dela. Afinal de contas, todos nós nascemos iguais perante a lei.
Dado isso, é mesmo deplorável que um sujeito estrague a noite de dezenas de presentes no avião e outros tantos que dependem dos que lá estavam. Provavelmente, pagou com a vida tal heresia.
Vida de alguém que, talvez, o esperasse e, por conta, seguirá um pouco mais sem sentido.
Vida nossa que segue mais vazia.
Pois, como lembrou Ernest Hemingway ao trazer o poeta inglês John Donne em “Por Quem os Sinos Dobram”:
Nenhum homem é uma ilha, inteiramente isolado
Todo homem é um pedaço de um continente, uma parte da terra
Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa de teus amigos ou a tua própria
A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano.
E por isso não perguntes por quem os sinos dobram: eles dobram por ti.
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2013/02/14/no-aviao-um-passageiro-nao-chegou-ao-seu-destino/
Pouco antes do avião sair de Berlim em direção a Paris, nesta quinta, um dos passageiros caiu duro no chão, algumas fileiras à minha frente. Paramédicos foram chamados e, por mais de 40 minutos, tentaram reanimá-lo. Até onde pudemos presenciar (e o corpo inerte ser levado embora), sem sucesso.
Ao meu lado, uma simpática moça resmungou entre os dentes, reclamando do homem por conta do atraso. Aflito com a situação, tive vontade de arremessar o saquinho da indisposição na direção dela mas percebi que faltaria saquinho, uma vez que o sentimento era compartilhado por outros na aeronave.
Entendo os descontentes. Ainda mais em um mundo chocantemente individualista como o nosso. No qual gostamos de celebrar a liberdade do coletivo, desde que ela não atrapalhe a velocidade de nossa marcha pessoal. Onde tudo é fraternidade, desde que esta caiba entre os nossos compromissos previamente agendados. E lutamos para que a igualdade seja respeitada – não aquela que trata do direito de todo mundo chegar ao final de sua viagem, mas a que diz que os mais necessitados e desassistidos não podem clamar por tratamento diferenciado ao longo dela. Afinal de contas, todos nós nascemos iguais perante a lei.
Dado isso, é mesmo deplorável que um sujeito estrague a noite de dezenas de presentes no avião e outros tantos que dependem dos que lá estavam. Provavelmente, pagou com a vida tal heresia.
Vida de alguém que, talvez, o esperasse e, por conta, seguirá um pouco mais sem sentido.
Vida nossa que segue mais vazia.
Pois, como lembrou Ernest Hemingway ao trazer o poeta inglês John Donne em “Por Quem os Sinos Dobram”:
Nenhum homem é uma ilha, inteiramente isolado
Todo homem é um pedaço de um continente, uma parte da terra
Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa de teus amigos ou a tua própria
A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano.
E por isso não perguntes por quem os sinos dobram: eles dobram por ti.
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