Dirceu e meu encontro com meu pai no passado

Nos últimos tempos, mergulhei para tentar compreender detalhes da minha história e da história de meu pai que para mim pareciam incompreensíveis.

Algumas motivações me mobilizaram a isso - mas o que importa é perceber que amadureci alguns anos em poucos dias.

Percebi, principalmente, que a clandestinidade era o padrão de vida que meu pai escolheu para si desde que resolveu lutar pela Revolução e contra a Ditadura (não necessariamente na mesma ordem).

Se há dez anos sabia muito pouco de meu pai, o que fui descobrindo nesse tempo era muito rico. No entanto, o que soube nos últimos dois anos - em particular, nos últimos meses - me esclareceu muito. Se em 2005, num paper, eu achava que havia algo não-dito quando meu pai relatava ter sido torturado por Sérgio Paranhos Fleury, hoje eu já sei o porquê.

Para entender minha vida e a do meu pai tive de entender a militância que ele exerceu entre os anos 60 e os anos 80. Assim, clandestinidade se tornou proteção e cuidado com os entes queridos.

Por exemplo: no fim dos anos 60, meu pai mandou sua família retornar a Londrina para protegê-los dos riscos que corriam devido à militância e sua repressão.

Ele fez minha mãe acreditar que eu corria risco de morte na minha infância. Hoje eu o entendo nisso que disse.

Olhar a luta armada com tanta atenção, da perspectiva de meu pai, me fez entender de outra maneira o que aconteceu no Brasil em 2005. E 2005, para mim, somente pode ser entendido na perspectiva de 1960. Sob vários aspectos. Mas sobre eles converso depois.

O que importa é que não me faz mal, pelo contrário, manifestar meu apreço e receber o carinho de José Dirceu, como nesta noite. O seu abraço carinhoso não era em mim, que ele sequer conhecia. Era no meu pai, "seu companheiro de armas".

Não escondo esses afetos. Não é do meu feitio.

Na foto, eu, Dirceu e o deputado estadual Fernando Mineiro.

Comentários

Patrick disse…
Muito bacana a história que você narrou em conjunto com o depoimento de Juliano ontem à noite. Precisamos mesmo registrar essas histórias para as próximas gerações.