Jornalista mentiu ou Henrique Alves recuou?

Após tornar público o questionamento que fiz à assessoria de Henrique Alves (PMDB), o blog Vi o mundo se interessou pela história.
O texto esclarecedor abaixo é da jornalista Conceição Lemes.
No Vi o Mundo

Capa da revista Perspectiva, produzida como trabalho de final de semestre pelos alunos da Universidade Federal do Ceará 

por Conceição Lemes

Daniel Dantas Lemos é jornalista, blogueiro e professor da disciplina de Técnicas de Investigação Jornalística da Universidade Federal do Ceará.

No ano passado, como trabalho de final de semestre, ele propôs que os alunos fizessem uma análise dos documentos referentes à Operação Assepsia,  deflagrada no Rio Grande do Norte (RN) em 27 de junho de 2012 e que desarticulou um esquema de fraudes que desviava recursos públicos.

Devido à greve dos professores das universidades federais, o segundo semestre de 2012 se estendeu a fevereiro de 2013, quando os estudantes finalizaram o trabalho.

O Ministério Público do RN investigou durante mais de um ano os contratos de Organizações Sociais de Saúde (OSs) com o poder público municipal e estadual.

A investigação mostrou que no topo da organização criminosa estava o médico Tufi Meres, que controla, entre outras empresas, a Associação Marca que tinha contratos com a prefeitura de Natal. Em outubro, devido a indícios de envolvimento com as fraudes, a então prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV), foi afastada do cargo pelo Tribunal de Justiça do RN.

Há indícios também de envolvimento do presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB-RN). Cláudio Varela, ligado à família e identificado como lobista de Henrique, surge nas interceptações, articulando encontro entre Henrique e Tufi Meres.  Tempos depois, o próprio Tufi relata em e-mail ter se encontrado com Henrique Alves para acertar a administração do Hospital da Mulher, do governo do Estado, em Mossoró. Por quatro meses de contrato, a Associação Marca, de Tufi Meres, recebeu R$ 16 milhões; auditoria interna mostrou R$ 8,4 milhões foram desviados.

"Os alunos foram além e fizeram também uma revista que batizaram de Perspectiva", conta-nos Daniel. "Feliz demais com o resultado, publiquei o produto na internet (está aqui ) e no meu blog."

O material foi elaborado com base em análise de documentos públicos de investigações do Ministério Público, além de notícias publicadas em diversos veículos nacionais. Ele não foi impresso, mas postado fechado, em formato PDF.  Trata-se do resultado de atividade dos alunos da disciplina de Técnicas de Investigação Jornalística da Universidade Federal do Ceará.

Só que, na última quarta-feira, 27 de fevereiro, Daniel foi surpreendido pela nota abaixo, do jornalista Alex Medeiros, no Jornal Hoje.

A nota de Alex Medeiros se referia, é claro, ao material postado aqui.

Imediatamente, Daniel contatou a assessoria de imprensa do deputado Henrique Alves (PMDB-RN), em Brasília, para saber se o teor da nota procedia, ou seja, se ele requisitaria informações ao Ministério da Educação (MEC) acerca de uma atividade acadêmico-pedagógica realizada no ambiente escolar-universitário.

"Achei muito absurdo a possível interpelação ao MEC", observa o jornalista/blogueiro/professor. "Afinal, se fosse verdade, se trataria de um caso raro de político tentando interferir na produção acadêmica de um professor de uma Universidade Federal e seus alunos."

"Falei uma única vez com o assessor de imprensa, que disse ter encaminhado a minha demanda a outra assessora", acrescenta. "Depois disso, não me atendeu mais ao telefone nem respondeu à minha questão por e-mail. Nem o deputado nem a sua assessoria me responderam."

Esta repórter telefonou então para o assessor de imprensa do deputado. Ele se fez de desentendido e disse, da mesma forma que agiu com Daniel Dantas Lemos, que iria passar o questionamento para outra assessora. Como não houve retorno, mandei e-mail para ele e para assessoria de imprensa de Henrique Alves.

Logo depois, a assessora de imprensa ligou: "A tal nota [de Alex Medeiros] que você [Conceição Lemes] mencionou não procede. Aliás, nós não tomamos conhecimento dessa nota nem desse trabalho acadêmico [dos alunos da Universidade Federal do Ceará]".

"Alex Medeiros colocou o presidente da Câmara numa situação complicada", arremata Daniel Dantas Lemos. "Se Henrique ou seus assessores sequer tiveram conhecimento do que se trata a nota no jornal sobre o meu trabalho dos meus alunos, o jornalista mentiu? Ou será que Henrique Alves recuou, depois de perceber que a censura a um trabalho de estudantes provocaria estrago ainda maior na sua imagem?"

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