Promotor Afonso de Ligório decidiu abrir o procedinento |
A investigação ficou sob a responsabilidade do promotor do patrimônio público Afonso de Ligório. Ontem, a TRIBUNA DO NORTE teve acesso à representação que motivou a abertura do inquérito. A denúncia sigilosa chegou à Ouvidoria do Ministério Público e foi feita por meio eletrônico. Nela, constam elementos que justificam o inquérito. Todas as supostas irregularidades noticiadas guardam consonância a um único fato base, qual seja: gastos públicos no Âmbito da Assembleia Legislativa do Estado, disse o promotor no despacho no qual informa a abertura do procedimento de investigação. A simples abertura não significa que há irregularidades comprovadas, e sim que os elementos apresentados motivam uma investigação. A partir daí, o Ministério Público vai constatar se há desrespeito a alguma legalidade.
A suspeita é que, apesar de a Assembleia Legislativa ter gasto R$ 7,5 milhões nos dois últimos anos com auxílio-alimentação pago a servidores e parlamentares, alguns pagamentos que constam no Portal da Transparência incluem despesas com alimentação assinada sob a rubrica outros serviços de terceiros Pessoa Jurídica. Além da alimentação, o promotor incluiu no inquérito a contratação de empresas que têm como principal ramo de atividade o fornecimento de produtos alimentícios, mas prestaram serviços ou entregaram materiais diversos, entre os quais papel higiênico, desses de rolo, vendidos nos supermercados.
Conforme consta no inquérito, os restaurantes e fornecedores que mais receberam dinheiro da Assembleia para entrega de alimentos e bebidas, entre 2011 e 2012, são o Abade (R$22,1 mil), Fogo & Chama (R$ 12,2 mil), Cobel Comércio e Bebidas (R$ 28,4 mil), Restaurante Seridó (R$ 32,9 mil) e Capucci Restaurante (R$ 249,9 mil). Este último funciona dentro do prédio da Assembleia Legislativa. O total das despesas com restaurantes e que serão objeto do inquérito soma R$ 377,4 mil.
Segundo a denúncia da ouvidoria do MP, parte dos restaurantes contratados tinha como dever entregar refeições tipo prato feito, o que não é comum no serviço público, onde os servidores devem arcar com a própria alimentação ou, no máximo, as empresas contratadas (prestadoras de serviço) arcam com a alimentação dos seus empregados terceirizados, jamais a tomadora de serviço arca com tais despesas.
Empresa recebe R$ 21 mil
A Assembleia Legislativa efetuou pagamentos por material de consumo e permanentes a empresas registradas como fornecedoras de alimentos. Um desses pagamentos, de acordo com os documentos entregues ao Ministério Público, somaram R$ 21,5 mil, referentes a rolos de papel higiênico, supostamente entregues pela Potiguar Comércio e Serviços de Alimentação. A Potiguar Comércio foi investigada na Operação Pecado Capital por causa de supostas irregularidades. As apurações envolvem fraudes em licitações feitas pelo ex-diretor do Institutos de Pesos e Medidas (Ipem-RN), Richardson de Macêdo Bernardo. O ex-diretor do Ipem foi preso, mas hoje responde ao processo em liberdade.
A outra despesa supostamente feita pela AL-RN por uma empresa especializada em alimentos, mas que forneceu equipamento e material permanente foi a Vicente e Almeida Comércio de Alimentos Ltda. Entre 2011 e 2012, a AL pagou R$ 11 mil à fornecedora. Para tornar a investigação mais clara, o promotor Afonso de Ligório solicitou à Assembleia cópias de todos os processos de pagamentos referentes às despesas com verbas alimentares e outras despesas. Ele justificou o pedido com fundamento nas leis nº 8.429/1992, que dispõe sobre atos de improbidade administrativa que importam enriquecimento ilícito, e a nº 8.666/1993.
AL espera a notificação do Ministério Público
A Assembleia Legislativa informou, por intermédio da assessoria de comunicação, que não vai se pronunciar sobre o inquérito civil enquanto não for oficialmente notificada a respeito do teor da investigação. Não sabemos oficialmente o que o MP questiona da Assembleia. Os procuradores [do Legislativo estadual] vão se pronunciar no momento certo, mas apenas quando receber uma cópia do inquérito, afirmou ontem Rubens Lemos Filho, coordenador de comunicação da AL.
A investigação das contas da Assembleia Legislativa foram noticiadas pela TRIBUNA DO NORTE na edição de domingo (24). Na reportagem, Rubens Lemos Filho, disse que houve ampliação do auxílio-alimentação na ordem de 846% no período de três anos. Ele informou ainda que o aumento com gastos com o benefício é consequência da reforma administrativa, tendo em vista que até 2012 o auxílio era exclusividade dos funcionários efetivos da Casa. Com a reforma, foi estendido a todos os funcionários, informou Rubens Lemos. Ele ainda não tem conhecimento oficial de que objetivo do inquérito do MP não se refere ao auxílio-alimentação pago aos deputados e servidores, e sim aos gastos do Legislativo com restaurantes de luxo e na compra de itens como papel higiênico a empresa suspeita de fraudes, investigadas na Operação Pecado Capital.
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