O que resta da ditadura no RN

Por Daniel Menezes
http://www.cartapotiguar.com.br/2013/03/11/o-que-resta-da-ditadura-no-rn/


Semana passada a casa da minha irmã foi assaltada. Com um homem desconhecido andando pelo quintal, ligou para o 190, telefone da polícia. Após uma hora de uma longa espera, Cecília entrou em contato com a mãe (ela não estava no domicílio), que foi até a delegacia pedir encarecidamente que alguém a acompanhasse para averiguações mínimas (saber se o ladrão já tinha ido embora). Nada de grave aconteceu. Graças às grades das portas e janelas, que o invasor não conseguiu vencer. Detalhe: a residência de Cecília fica quase em frente à delegacia de candelária.

É esta polícia, que conforme noticiário da semana, não consegue terminar 20% dos seus inquéritos, que foi mobilizada, que usa recursos públicos, a sua já minguada inteligência para mapear e criminalizar os militantes da chamada #RevoltadoBusão. Ora, fazer cadastro de cidadãos, como se fossem terroristas, pelo simples fato de terem tomado as ruas, para pedir melhores condições de transporte público e uma tarifa mais acessível é o que nos resta da ditadura no Rio Grande do Norte (para maiores detalhes: http://www.cartapotiguar.com.br/2013/03/11/revoltadobusao-militantes-de-partidos-politicos-e-movimentos-sociais-sao-investigados-pela-policia-potiguar/).

O protesto capitaneado por movimentos sociais, sindicatos, professores, estudantes e simpatizantes de um modo geral teve a duração de inúmeras horas, manifestações, etc. Entretanto, a polícia faz uso de um ato isolado, que foi a queima de um ônibus – ação criminosa, ilegítima e que não condiz com o pensamento da maioria dos presentes [os representantes da segurança do Estado sabem disso] –, para perseguir pessoas comuns.

Em nenhum momento, a polícia militar do Rio Grande do Norte investigou os tiros e bombas empreendidos pelos seus agentes contra os manifestantes pacíficos, que foram parar nos hospitais da região. É uma atitude também típica do que resta da ditadura – o “excesso”, a violência policial a gente esconde, o que vem do “outro lado” a gente infla, escandaliza, criminaliza até justificar todo tipo de absurdo.

O fato é que se você tiver um parente assassinado, sofrerá de uma dupla tristeza – a perda de um ente querido e a alta probabilidade de não ver o crime resolvido. Porém, um professor manifestante foi acusado, torturado (teve um dedo quebrado durante um depoimento) e já sofrerá uma segunda tortura, que será enfrentar uma denúncia e o seu consequente processo.

Há uma total ausência de planejamento, aliado a uma inversão de valores. Os delegados que faltam para resolver os problemas do cotidiano dos norte-riograndenses, sobram para perseguir membros de movimentos sociais. De acordo com a própria imprensa, três delegados foram designados para monitorar quem participou da #RevoltadoBusão.

A situação seria cômica, se não fosse trágica. Falo isso porque conheço a maioria dos listados e não democraticamente investigados pela polícia. Por isso que, às vezes, penso em dar risada de um governo, que designa três delegados para investigar estudantes, professores e cidadãos, enquanto há fugas em massa e a taxa de assassinato em Mossoró, cidade da governadora, aumenta explosivamente ano após ano.

Penso em rir, mas logo desisto, pois o que acontece hoje é um frontal ataque ao Estado democrático de direito. É o que nos resta da ditadura no RN. Um governo utilizar seu aparato policial, para intimidar adversários políticos, essa que é a verdade.

O Governo Rosalba Ciarlini deve ser acionado na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. É o mínimo a fazer. Do contrário, o que resta da ditadura no RN pode virar regra. É bom não subestimar autoritarismo cor de rosa.

PERGUNTAS

É nesse tipo de “ação”, que a PM do RN vai empregar os recursos federais destinados para melhorar a segurança e aumentar a taxa de resolução dos inquéritos – o chamado “metrópole segura”?

O governo federal sabe que a gestão Ciarlini gasta dinheiro público e utiliza o escasso material humano da polícia, para “monitorar” adversários políticos?

A denúncia na secretaria de direitos humanos deve ser feita, além de outros protestos contra essa perseguição promovida pelo Estado Rosado.

ESPERADO

Não é bom esquecer que esse governo já tentou impedir protestos no centro administrativo.

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